Paris Filmes
Estreia nesta quinta-feira (10/6) nos cinemas do país a comédia romântica Quem Vai Ficar com Mário? (2021), novo filme do diretor Hsiu Chien – diretor de títulos como Ninguém Entra, Ninguém Sai (2016), do seriado Pé na Cova e do ainda inédito Me Tira da Mira, com Cleo Pires, Fiuk e Fábio Jr. Se o título remete a Quem Vai Ficar com Mary? (1998), comédia norte-americana dirigida pelos irmãos Bobby e Peter Farrelly, a origem de Quem Vai Ficar com Mário? na verdade é outra bem diferente: a produção brasileira é uma adaptação da história do longa italiano O Primeiro que Disse (2010), de Ferzan Ozpetek.
Na versão nacional, em vez de uma tradicional família fabricante de massas no sul da Itália, a ação se passa na serra gaúcha, entre os integrantes de um clã de produtores de cerveja. O protagonista Mário (Daniel Rocha) mora no Rio de Janeiro e trabalha escrevendo espetáculos para um grupo teatral dirigido por seu namorado Fernando (Felipe Abib) – apesar de os parentes no Sul acreditarem que o rapaz está na capital fluminense estudando administração. Quando Mário viaja para sua terra natal para visitar a família em Nova Petrópolis – onde boa parte do filme foi rodado –, ele decide se assumir para o pai conservador (Zé Victor Castiel) e contar que mora com outro homem.
Porém, Vicente (Rômulo Arantes Neto), irmão mais velho de Mário, acaba estragando seus planos ao fazer antes dele uma revelação bombástica diante da família. Para complicar ainda mais a situação, o pai de Mário quer que ele assuma a liderança da cervejaria da família – e ele acaba se envolvendo com Ana (Letícia Lima), a coach que seu irmão contratou para modernizar a empresa.
Quem Vai Ficar com Mário? investe na comédia popular de pegada novelesca, apresentando uma ciranda amorosa e um imbróglio familiar em tom de humor televisivo. O roteiro costura situações cômicas, piadas e gags visuais em torno de tópicos relevantes na sociedade, relacionados a comportamento e sexualidade – como homossexualidade e homofobia, machismo e misoginia, bissexualidade e poliamor.
Um dos méritos da direção é orquestrar adequadamente a presença de um grande número de personagens, reservando a cada um espaço para desenvolverem características próprias – ainda que sem aprofundamentos e muitas vezes derrapando em estereótipos. Do lado da família gaúcha, merecem destaque Zé Victor Castiel como o patriarca conservador e homofóbico e Marcos Breda no papel do casca grossa Salvador, genro sem noção e puxa-saco do sogro, ambos divertidos no registro cômico, que costumam dominar muito bem; já entre a trupe de artistas cariocas, que acaba fazendo uma inesperada e tumultuada aparição na cidade natal de Mário, Felipe Abib interpretando o namorado do personagem principal e Nany People na pele da diva Lana estão impagáveis.
Aliás, é justamente uma das tramas paralelas do filme que mais diverte: o viúvo Antonio, o machão pai de Mário, acaba se encantando com Lana, que se faz passar por mãe de Fernando, sem nem desconfiar que a artista é trans. Zé Victor e Nany formam uma ótima dupla em cena, cuja química provoca facilmente o riso – e lembra o improvável enamoramento de um empresário ultracatólico por uma drag no clássico A Gaiola das Loucas (1978).
Como os filmes de Paulo Gustavo da série Minha Mãe É uma Peça, Quem Vai Ficar com Mário? tem como crédito a coragem de abordar temas complexos e urgentes com franqueza e bom humor, argumentando a favor da liberdade sexual e contra o preconceito de gênero para o público popular de um dos países que mais discrimina e mata homossexuais e pessoas trans no mundo. Não é pouca coisa em tempos tão obscuros e regressivos como os que enfrentamos atualmente no Brasil.
Quem Vai Ficar com Mário?: * * *
COTAÇÕES
* * * * * ótimo * * * * muito bom * * * bom * * regular * ruim
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