Conteúdo de Parceiro | Galeria Tina Zappoli

Arlete Santarosa apresenta xilogravuras inspiradas nas ruas de Porto Alegre

Change Size Text
Arlete Santarosa apresenta xilogravuras inspiradas nas ruas de Porto Alegre “Ipês”, de Arlete Santarosa. Foto: Anderson Astor

Arlete Santarosa inaugura série de entrevistas com artistas da exposição Passos sobre os abismos  

Uma das artistas convidadas a participar da mostra que marca a comemoração dos 40 anos da Galeria Tina Zappoli e da retomada de suas atividades presenciais, Arlete Santarosa conversou com o Matinal sobre a sua produção e os trabalhos que o público poderá visitar a partir da próxima sexta, 14 de outubro. A série Árvores do meu caminho é um conjunto de xilogravuras inspiradas nas ruas de Porto Alegre.

Os trabalhos fazem parte da exposição, que apresenta também obras de Cabral, Marinho Neto, Jorge Leite, Itelvino Jahn, Têre Finger e Gabriel Augusto. A mostra propõe colocar em pauta o cenário de caos e incertezas que marca o tempo presente, propondo a arte como um caminho possível para atravessar esse momento. 

Arlete Santarosa. Foto: Daniela Santarosa

Com mais de 50 anos de trajetória e passagens pelo Núcleo de Gravura do Rio Grande do Sul e o Conselho Estadual de Cultura, Arlete Santarosa costuma trabalhar com séries, explorando as diversas possibilidade de um tema por meio de vários trabalhos. Com as obras apresentadas em Passos sobre os abismos traz a questão da natureza e a urgente necessidade de prestarmos atenção naquilo que nos rodeia. 

Como começou tua trajetória nas artes visuais? Teu percurso foi sempre na xilogravura?

Iniciei a xilogravura ainda na Faculdade de Belas Artes, no final dos anos sessenta. Fui professora de artes e introduzi junto aos alunos esta técnica de gravura, explorando suas características. Frequentei escolas de arte onde ensinavam a técnica, como o Atelier Livre e o Centro de Desenvolvimento da Expressão (CDE). Fui me aprimorando com aulas particulares em Porto Alegre e em São Paulo, até o ponto de poder executar xilos mais elaboradas e abrir um espaço para a sua produção. Persisto na técnica pela grande possibilidade que ela oferece.  

Como é trabalhar com a madeira? Quais as dificuldades, as resistências e os prazeres desse material?

Harmonia é a palavra chave que tento buscar na minha criação. Como a xilogravura é uma verdadeira construção física e mental, há todo um tempo a ser respeitado para a sua construção, onde os processos de pensar e fazer são tão importantes quanto a obra final. Com as dificuldades que se apresentam quando se tem pela frente uma madeira crua e dura, o meu grande desafio é conseguir dar leveza neste tipo de processo, juntamente com o uso de linhas sinuosas que representam o movimento e a inquietação que percebo ao meu redor, na vida, na natureza. E o resultado final é sempre uma surpresa que, na maioria das vezes, traz uma satisfação muito grande quando ela é impressa  sobre o papel.

“Efêmero”, de Arlete Santarosa. Foto: Anderson Astor

Como surgiu a ideia da série Árvores dos meu caminho? 

Todo o meu trabalho artístico tem referências simbólicas e a árvore sempre foi um dos motivos de inspiração. A vegetação tem um significado que vai além da simples representação estética. Ela carrega uma energia quase espiritual que nos enleva. Sua força vital e o verde das folhas transmite sensações agradáveis, transforma qualquer ambiente e nos protege do aquecimento global. Nessa série, que é a mais recente e faz parte da exposição, quis prestar uma homenagem às árvores que encantam  minhas caminhadas pelas ruas de Porto Alegre.

Qual é o papel da cor nesse conjunto de obras e como é o processo de utilizar a cor na xilogravura? 

Desde o início do meu fazer artístico, utilizo cor, alternando com a clássica xilo preto e branco. Nesta última série, a cor se tornou imperiosa pelas diferenças das nuances que percebo nas árvores e pelas  transformações que sofrem a cada estação do ano. Para colocar cor nas xilos utilizo o processo da matriz perdida, uma técnica muito usada por Picasso. Todas as cores são colocadas em etapas numa única matriz de madeira ao invés de usar uma matriz para cada cor. Desta forma, consegue-se superposições dando margem a várias outras cores além das já colocadas.

A exposição Passos sobre os abismos propõe a arte como uma travessia para os tempos difíceis. Como a série Árvores do meu caminho aponta um caminho possível?

Árvores e florestas são nossa conexão à natureza e nossa resistência ao caos e à aridez. Ver árvores floridas espremidas em um canteiro da cidade nos traz o sentimento de que conseguiremos sobreviver apesar de tudo. Mesmo plantadas à beira de um precipício, nelas podemos nos agarrar para não cairmos no abismo. 

“Flamboyant”, de Arlete Santarosa. Foto: Anderson Astor
PUBLICIDADE

Esqueceu sua senha?