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Cabral apresenta série de retratos na mostra Passos sobre os abismos

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Cabral apresenta série de retratos na mostra Passos sobre os abismos Obra de Cabral. Foto: Anderson Astor

O artista é o segundo entrevistado da série especial sobre a exposição em cartaz na Galeria Tina Zappoli

Antonio Hélio Cabral, mais conhecido apenas como Cabral, possui uma trajetória de mais de 50 anos marcada por sua produção em pintura, desenho e escultura. Natural do estado de São Paulo, cursou Arquitetura na FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) da USP,  onde, no início dos anos 1970, colaborou para organizar as primeiras exposições de artes visuais de alunos da faculdade. Desde então possui uma carreira extremamente ativa, tendo participando de exposições coletivas e individuais no Brasil e no exterior, como Bienal de São Paulo, MASP, Pinacoteca do Estado de São Paulo, ArtDubai, entre outras, além também ter atuado como professor de desenho e pintura. 

Dono de uma poética própria, através da qual se debruça sobre a forma, o corpo e a natureza, suas obras são marcadas por um humor particular, bem como pela ironia e certo brutalismo do gesto. “Procuro o momento, o instante onde tudo se encontra e se eterniza”, afirma o artista. 

Atelier do artista. Foto: Marinho Neto

Em Passos sobre os abismos, exposição em cartaz na Galeria Tina Zappoli, em Porto Alegre, Cabral apresenta um conjunto de retratos composto por seis litografias e três monotipias. Também fazem parte da mostra coletiva os artistas Arlete Santarosa, Marinho Neto, Jorge Leite, Itelvino Jahn, Têre Finger e Gabriel Augusto. Passos sobre os abismos apresenta obras que refletem sobre o instável cenário atual e propõe a arte como um lugar de travessia.  

Na entrevista abaixo, o artista reflete sobre sua produção recente, sobre aquilo que sempre o encantou ao longo de sua trajetória e sobre os abismos que a arte ajuda a enfrentar. 

1) Na exposição apresentas obras em litografia, mas tua trajetória é fortemente marcada pela pintura, sobretudo pinturas bastante matéricas e também desenho e escultura.

Todos os materiais e técnicas da pintura e do desenho são em potência meios afeitos ao desejo de expressão. Durante o trabalho contínuo exercido há 54 anos pude encontrar inúmeras maneiras de revisitar antigas técnicas  e criar com elas novos processos e formas de aplicação.

2) Como nasceram as obras que participam de Passos sobre os abismos?

Todas as litografias desta série foram feitas a partir do desenho de observação. Tratam-se de retratos conduzidos à pincel, com utilização de touche sobre o granito litográfico já colocado na prensa em posição para impressão.

Obra de Cabral. Foto: Anderson Astor

3) No catálogo da mostra, teu texto fala sobre a relação marcante entre o corpo, as ferramentas do fazer e a natureza – a pedra, a terra, o pincel, o gesto. Isso sempre está presente na tua produção? Como é teu processo criativo? 

Tudo fala com tudo. Dentro e fora do papel, da tela, da pedra de litografia. Qualquer objeto à mão pode se tornar instrumento, ativo, enquanto agente da expressão. Os pincéis que agem na pintura tornam-se também pintura e a refletem. O fundamento da criação, creio, está na eternização do imponderável. Daí a necessidade do encontro entre o desejo e a proposta irrecusável, vinda do caos. 

4) Quais são os teus abismos atuais e como tua produção e a arte te ajudam a atravessá-los?

O abismo é sempre criado pelo movimento dos passos. Não há abismo no parado. O constante seguir nos leva a extravasar o limite da linguagem, deixando o já domesticado, o conforto do possível pela atração do inaudito.

5) No conjunto de obras da exposição o rosto humano se materializa aos poucos ou em partes, nunca se dando a ver por completo. Essa relação com a figura humana também marca tua trajetória em outros momentos. Por qual caminho se dá essa relação com o corpo?

Para onde quer que olhemos, estaremos sempre diante do algo inesgotável. A cabeça humana disposta ao olhar enfeixa um espaço de infinitas relações. Talvez seja esse inesgotável ao olhar que me motive a tantas vezes revisitar o retrato – teorema que não fecha, nunca.

Litogravura do artista. Foto: Anderson Astor
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