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Indiferença à vida humana é o tema das pinturas recentes de Jorge Leite

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Indiferença à vida humana é o tema das pinturas recentes de Jorge Leite Jorge Leite. Foto: Marinho Neto

Série Tempos Comuns faz parte da coletiva Passos sobre os abismos, em cartaz na Galeria Tina Zappoli

Depois de alguns anos sem pintar, o artista Jorge Leite voltou às tintas e às telas. Com uma trajetória de mais de 30 anos, sua produção passou por diversas técnicas, como trabalhos com metal, tecidos variados, assemblage e pinturas em manta acrílica. Dedicou-se, por muito tempo, à escultura em mármore e, em séries mais recentes, como Nocivos, à construção de esculturas com formas orgânicas, realizadas com resina e materiais recuperados do lixo. 

Nessa série, Leite compõe utilizando garrafas pet e toda sorte de plásticos descartados como uma forma de discutir e ressignificar aquilo que é descartado como lixo e o quão nocivo esse excesso de plástico é para o meio ambiente. É a partir dessas conexões que o artista chega a sua série mais atual, na qual voltou a dedicar-se à pintura.

Obra de Jorge Leite. Foto: Anderson Astor

Tempos comuns é um conjunto de obras feitas com pastel oleoso e óleo em bastão sobre papel, através do qual o artista reflete sobre temas emergentes e urgentes como a banalização e a indiferença à vida humana. São retratos-paisagens, cenas cotidianas com pessoas, nas ruas, em situações não necessariamente explícitas ou nítidas, mas nas quais é possível perceber, ou intuir, a precariedade e o desamparo. 

Movido pelas mudanças da sociedade a partir da pandemia de covid-19, da guerra entre Rússia e Ucrânia, pelo egoísmo humano e o descaso com o próximo, Leite busca, com suas pinturas acender um sinal vermelho para o observador: pare e olhe quem está ao seu lado. 

Tempos Comuns foi a série disparadora das questões que norteiam a curadoria de Passos sobre os abismos. A exposição coletiva, em cartaz na Galeria Tina Zappoli, apresenta também obras de Arlete Santarosa, Cabral, Marinho Neto, Itelvino Jahn, Terê Finger e Gabriel Augusto. Leia a seguir a entrevista com Jorge Leite.   

Obra de Jorge Leite. Foto: Anderson Astor

1) A série Tempos Comuns foi um dos disparadores da curadoria da exposição Passos sobre os abismos. Como surgiu a série e desde quando tu trabalhas nela? 

Comecei esse projeto no início do ano, depois de muito tempo sem pintar. Nele falo, basicamente, sobre a cultura de rua e a arte de rua. São imagens fantasiadas de uma realidade viva, demoníaca, aguda. Falo sobre todos na rua, sobre a rua em geral. Não falo de uma coisa só. 

2) Poderias comentar um pouco sobre teu retorno à pintura? Como ele se deu e porque razões? 

Esse conjunto representa um retorno mesmo. Iniciei esse ano essas pinturas e me surpreendi um pouco porque fiquei muitos anos parado, no sentido de não produzir em um único suporte, para uma exposição. Eu sou mais artesão. Eu não tinha uma preocupação de ter um projeto, de procurar a minha identidade no meu trabalho. Eu costumo fazer de tudo um pouco e isso não é necessariamente bom porque você tem que centrar em um trabalho e mostrar o que você faz em um projeto, ter um pensamento contínuo. A pintura me proporciona fazer isso com muito mais clareza. Procurar uma identidade. E tenho me surpreendido. Tá sendo bem prazeroso. 

3) Segues trabalhando também com esculturas? A série de pinturas tem algum desdobramento com esse outro meio? 

A escultura depois desse projeto vai mudar. Não tem mais nada do que eu fazia antes. Eu já tenho feito alguns trabalhos e são bem diferentes. Consigo trabalhar no barro, mas não são trabalhos que poderão ser feitos em mármore, que era algo que eu utilizava bastante. Essas imagens, esses fantasmas que têm aparecido na pintura vão começar a virar umas esculturas… eu pretendo, pelo menos já tenho um projeto. Todo projeto tem ramificações. Dentro da pintura tem essa ramificação para a escultura e dentro da pintura já tem outra ramificação, também, que extrapola esse espaço da rua. 

Obra de Jorge Leite. Foto: Anderson Astor

4) O que te interessa nesses espaços urbanos? 

O que me influencia na cultura de rua não são os grafiteiros, tá mais para pichação, e são manifestações muito pessoais que as pessoas desenham nos muros. Isso que me interessa, essas manifestações pessoais, muito íntimas, desse povo que faz algum desenho na rua. 

5) Tempos Comuns fala sobre a banalidade e a indifereça com a vida humana, alguns dos abismos de hoje em dia. Esses temas surgiram agora na tua pesquisa ou já trabalhavas com eles anteriormente? 

Quando eu comecei esse projeto e levei para a Tina, eu tinha um pensamento de uma redação em cima dele e o que eu falo tem a ver com essa indiferença, claro, e tem a ver com como vivemos atualmente, em grupos, afastados, se comunicando apenas com o seu grupo. Outra coisa que tem no meu trabalho é a ausência da semântica, porque a gente só se comunica por símbolos hoje em dia. Em 2019, iniciei o Nocivos, no qual eu trabalho basicamente com garrafa pet e todo lixo de plástico que eu encontro. Tô tentando fazer com que ele entre nessa nova série de pinturas. Voltei a fazer trabalhos dele para tentar encaixá-lo com esse projeto do Tempos Comuns porque também não deixa de ser resíduos de rua. É no meio urbano que a gente encontra esse lixo. Então, ele tá contido nesse projeto.

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