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Michael Sandel diz como fazer a coisa certa

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Michael Sandel diz como fazer a coisa certa

O filósofo político norte-americano volta ao Fronteiras do Pensamento para debater questões éticas relacionadas à justiça, ao mercado e à sociedade que dizem respeito ao nosso dia a dia. Ingressos podem ser adquiridos neste link.

Aplicar conceitos filosóficos abstratos, atemporais e universais a questões cotidianas e corriqueiras é um desafio que vem instigando as ideias e as práticas de importantes pensadores ao longo do tempo. O empenho desses intelectuais públicos está em democratizar e disseminar na sociedade o debate a respeito de seus próprios fundamentos e propósitos, avanços e retrocessos, perspectivas históricas e prognósticos futuros. É por esse caminho que o filósofo político norte-americano Michael Sandel vem conquistando audiências em todo o mundo para suas conferências, livros e programas, nos quais discute com clareza e de maneira acessível dilemas morais e éticos a partir dos posicionamentos e justificativas das pessoas comuns a respeito de episódios da vida ordinária.

Apontado pelo jornal The Guardian como “o mestre das grandes questões da vida” e integrante da lista dos principais pensadores globais da revista britânica Prospect, Sandel lecionou a disciplina de Justiça na Universidade de Harvard por duas décadas, a partir de 1981. Nesse período, mais de 15 mil alunos fizeram o curso, tornando-o um dos mais frequentados na história da célebre universidade norte-americana. Foi a partir dessa cátedra que o professor ganhou notoriedade pública: suas aulas disponibilizadas gratuitamente na internet já foram assistidas por milhões de pessoas ao redor do planeta, dando origem a produções como o podcast “The Global Philosopher”, da BBC, e a série de TV e livro best-seller “Justiça: o que é fazer a coisa certa”.

A empatia que as aulas e as produções conduzidas por Michael Sandel despertam no público reside muito na forma como o interesse é despertado e a reflexão estimulada pelo método socrático, no qual o pensamento crítico da audiência é provocado com questionamentos e exemplos práticos propostos pelo palestrante. É essa horizontalização da discussão filosófica que Sandel busca em suas falas, evitando a terminologia rebuscada e o jargão especializado e ancorando suas indagações no essencial e mesmo no banal – como falar de ética citando exemplos de quem fura uma fila ou da ação de cambistas de ingressos.

Um dos temas centrais nos escritos e depoimentos de Michael Sandel recentemente tem sido a confrontação à meritocracia. No livro “A tirania do mérito: o que aconteceu com o bem comum?” (2020), o autor denunciou esse conceito, que vem ganhando cada vez mais força nas últimas décadas na esteira do ideário neoliberal, apontando suas muitas falácias e injustiças. Segundo Sandel, há dois problemas principais no que ele chama de “retórica da ascensão”: em primeiro lugar, não vivemos realmente de acordo com os ideais meritocráticos de que as oportunidades são as mesmas para todos – circunstâncias como origem social, educação e cultura, entre outros, provocam clivagens singulares e indeléveis em cada pessoa, determinantes em sua inserção futura na sociedade; além disso, a divisão das pessoas entre vencedores e perdedores é perigosamente daninha para o laço social e a democracia.

“A meritocracia cria arrogância entre os vencedores e humilhação para os que ficaram para trás”, aponta Sandel, acrescentando que a indignação e o ressentimento crescentes nas últimas décadas entre as classes trabalhadores que se sentem excluídas desse discurso triunfalista serviram de combustível para a proliferação de movimentos populistas de direita, como o trumpismo nos Estados Unidos. O filósofo expõe essa “mobilidade ascendente individual” e a miopia dos progressistas em enxergar sua distorção de origem: “Parecia uma ideia inspiradora: numa sociedade global, aqueles que fazem sucesso são os que obtêm um diploma universitário e se equipam para competir e vencer na economia global. Mas a ênfase constante na ascensão individual através da educação superior tinha um insulto implícito: se você não tiver obtido um diploma universitário e se não tiver prosperado na nova economia, seu fracasso é culpa sua. Não há ninguém a quem culpar exceto a você mesmo. Os partidos de centro-esquerda, claro, não apresentaram a questão nesses termos. Mas essa era a mensagem que enviava sua ênfase convicta na mobilidade individual através do ensino superior. Esse enfoque esquece o fato de que, nos Estados Unidos, quase dois terços dos adultos não têm uma graduação”.

Já no livro “O que o dinheiro não compra: os limites morais do mercado”, Michael Sandel lançou mão novamente de exemplos diretos – como as implicações éticas da venda de órgãos humanos – para alertar sobre o perigo de nos tornarmos sociedades de mercado. “Seria uma tragédia se nossos espaços públicos fossem shoppings centers, algo que acontece em vários países, não só no Brasil. Nossa identidade ali é de consumidor, não de cidadão”, avisa o palestrante do Fronteiras do Pensamento do dia 9 de agosto.

Quando participou pela primeira do ciclo de conferências, em 2014, Michael Sandel falou sobre os desafios éticos para uma sociedade mais justa relacionados ao papel do mercado e a distribuição de renda e bens, lamentando então que as lições deixadas pela crise financeira global de 2008 não tinham sido aprendidas e continuávamos valorizando em excesso o capital especulativo e subestimando a importância do trabalho produtivo. Oito anos depois, o pensador norte-americano retorna ao Brasil ainda preocupado com o esvaziamento do debate público pela voracidade do mercado: “Há uma hesitação em trazer argumentos morais para a praça pública. A fé no mercado tem ocupado todo o discurso nas últimas três décadas. Se os mecanismos de mercado pudessem resolver todos os problemas, haveria pouco espaço para a deliberação democrática”.


FRONTEIRAS DO PENSAMENTO 2023
Quem:
Michael Sandel
Data: 9 de agosto, às 20h
Link para ingressos: https://temporada.fronteiras.com/

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