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Nadia Murad denuncia os desastres da guerra

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Nadia Murad denuncia os desastres da guerra

Ganhadora do Prêmio Nobel da Paz de 2018, a ativista iraquiana vai falar no Fronteiras do Pensamento no dia 21 de junho sobre sua luta contra a violência sofrida por mulheres e meninas durante as guerras. Ingressos podem ser adquiridos neste link.

“No mundo todo, o corpo da mulher ainda é algo muito próximo de um campo de batalha, e centenas de milhares de mulheres carregam as marcas invisíveis da guerra”, afirma a jornalista britânica Christina Lamb, coautora de “Eu Sou Malala”, em “Nosso Corpo, Seu Campo de Batalha”, livro no qual reúne testemunhos de mulheres estupradas, agredidas e escravizadas durante conflitos. Em meio aos clamores que eclodem no fragor dos combates, há um som sistematicamente silenciado: a voz das mulheres e crianças vítimas da violência cometida por homens nesses confrontos armados. “O crime de guerra mais negligenciado do mundo”, segundo a advogada anglo-libanesa especializada em direitos humanos Amal Clooney, o estupro em tempos beligerantes está na raiz de mitos e narrativas de formação de diferentes povos e culturas. Perpetrados por homens, esses atos são costumeiramente olvidados ou minimizados nos relatos oficiais, que em geral contam com a chancela masculina. Para as mulheres abusadas soma-se então à dor física e psicológica da agressão o julgamento moral que condena a vítima da violência sexual tanto quanto aquele que a perpetrou – às vezes até mais. Calar, portanto, torna-se uma compreensível estratégia feminina de sobrevivência.

No entanto, felizmente cada vez mais mulheres desafiam essa sina encarando riscos e encontrando forças para falar. É o caso da ativista Nadia Murad, que vem ao Fronteiras do Pensamento relatar sua terrível experiência de vida – mas também contar sobre a admirável bandeira humanitária que ergueu a partir desse episódio e que a levou a receber o Prêmio Nobel da Paz em 2018. Iraquiana de origem curda, Murad foi sequestrada em 2014 aos 21 anos por integrantes do Estado Islâmico que invadiram seu vilarejo e mataram 600 pessoas – incluindo seis de seus irmãos. A jovem estudante foi uma das 6,7 mil mulheres da minoria curda iazidi aprisionadas pelo ISIS no período em que o grupo dominou a maior parte do Iraque. Até conseguir fugir de seus raptores em novembro de 2014, Murad foi mantida como escrava, espancada, queimada com cigarros e estuprada diversas vezes.

Depois de passar por um campo de refugiados no norte iraquiano, Nadia Murad foi para a Europa e ganhou asilo político na Alemanha. Lá começou a divulgar sua história e chamar a atenção do mundo para os horrores cometidos pelo Estado Islâmico nas regiões dominadas pelos combatentes. A contundência de seu relato no Conselho de Segurança da ONU em dezembro de 2015 levou a organização a nomeá-la no ano seguinte como a primeira Embaixadora da Boa Vontade para a Dignidade dos Sobreviventes de Tráfico Humano das Nações Unidas. Nessa função, Murad participa de iniciativas globais e locais de defesa para conscientizar sobre o tráfico humano e os refugiados, ouvindo testemunhos de vítimas de escravidão contemporânea e genocídio. Também em 2016, criou a Nadia’s Iniciative, que fornece defesa e assistência às vítimas de genocídio.

É por meio de relatos como o seu que Nadia Murad briga para que “os desastres da guerra”, como chamava Goya, não sejam esquecidos e menos ainda repetidos. Depois da fala da militante iraquiana na ONU, a advogada Amal Clooney foi em setembro de 2016 ao Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) para discutir a decisão de representar Murad como cliente em uma ação legal contra os comandantes do ISIS, caracterizando o genocídio, estupro e tráfico pelo grupo como uma “burocracia do mal em escala industrial” – descrevendo-o ainda como um mercado de escravos ativo na internet e no Oriente Médio. Ameaçada por causa de suas denúncias, Nadia Murad dividiu em 2018 o Nobel com Denis Mukwege, médico congolês que se notabilizou pelo atendimento a mulheres violentadas por rebeldes armados em seu país.

Em 2017, a iraquiana publicou “Que Eu Seja a Última”, livro em que relembra sua infância e juventude como integrante do grupo étnico-religioso iazidi na aldeia de Kocho, no Vale do Sinjar, a chegada do Estado Islâmico à região e as atrocidades que testemunhou. “Quero ser a última moça no mundo com uma história como a minha”, escreveu a autora. Para esse desejo se concretizar, é preciso que a voz corajosa de Nadia Murad ecoe ainda mais, a fim de inspirar outras vítimas a denunciarem as violências sofridas.


FRONTEIRAS DO PENSAMENTO 2023
Quem:
Nadia Murad
Data: 21 de junho, às 20h
Link para ingressos: https://temporada.fronteiras.com/

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