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Rosa Montero e a ridícula ideia de um mundo em seu perfeito juízo

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Rosa Montero e a ridícula ideia de um mundo em seu perfeito juízo

Primeira convidada do Fronteiras do Pensamento 2023, Rosa Montero tem muito a nos dizer sobre caos e ordem, tema central das palestras deste ano. A espanhola fala no Fronteiras em 31 de maio. Ingressos podem ser adquiridos neste link.

No âmbito do jornalismo, há um saber que raros profissionais dominam com desenvoltura: a entrevista. A espanhola Rosa Montero é mestra nessa técnica convertida por ela em arte. Entre as mais de 2 mil entrevistas de sua carreira profissional, a jornalista já conversou com virtualmente todo tipo de gente: de influentes líderes políticos como Yasser Arafat, Richard Nixon e Indira Gandhi aos titãs da literatura Julio Cortázar, Mario Vargas Llosa e Orhan Pamuk – incluindo ainda artistas e personalidades públicas dos mais variados perfis como Paul McCartney, Harrison Ford e Malala.

Publicados geralmente no suplemento dominical do jornal espanhol El País, do qual Montero foi redatora-chefe, esses textos de figuras tão singulares e distintas entre si apresentam em comum uma fluência de corte literário, capaz de transportar o leitor para dentro da conversa entre entrevistadora e entrevistado. É nesse bordado aproximando objeto, indagador e leitor que a jornalista exibe suas aptidões excepcionais: por um lado, a capacidade de construir empatia e saber escutar o personagem, intervindo apenas no momento necessário e preciso; por outro, o talento para traduzir esse encontro em texto expressivo e convidativo.

Essa desenvoltura com as palavras e a narrativa naturalmente extrapolaram os limites estritos do jornalismo: Rosa Montero também exercita sua verve de contadora de histórias em textos como artigos, ensaios e perfis biográficos, além de romances e novelas. Entre ficção e não-ficção – incluindo obras voltadas para o público infantojuvenil –, já contabiliza mais de 30 títulos, boa parte deles sucessos de vendas traduzidos em 20 idiomas. No Brasil, já foram publicados livros da autora como A louca da casa, Nós, mulheres, A ridícula ideia de nunca mais te ver e A boa sorte.

Premiada internacionalmente como jornalista e escritora, professora convidada em universidades mundo afora, colaboradora de jornais de prestígio como o britânico The Guardian, o francês Libération e o argentino Clarín, Rosa Montero ilumina estes tempos sombrios com a clareza e a elegância de sua escrita. Não que tenha respostas acabadas para oferecer a respeito de questões como o papel da mulher na sociedade e na cultura, a importância da história na compreensão do mundo ou a centralidade da paixão na dinâmica dos casais – alguns dos muitos temas que já abordou em suas obras. Ao contrário: seu trabalho é revelador justamente por preferir levantar dúvidas a buscar versões definitivas – mote, aliás, que deveria nortear o ofício de todo profissional de imprensa como ela.

“Acho que a pessoa não escreve para responder a perguntas, para criar doutrinas, mas para tentar perguntar e para tentar entender melhor o mistério do que vivemos”, já declarou Montero. Na contramão de uma época que anseia pela solução de tudo, a espanhola investe na especulação das coisas. Para ela, a pergunta já é por si só emancipadora, mesmo quando não calha de achar uma resposta. “Escrevemos sempre contra a morte e escrevemos contra o tempo, que vai nos desfazendo”, lembra Montero, ressaltando a primazia do percurso percorrido em relação ao eventual destino alcançado.

Em O perigo de estar em meu perfeito juízo, mistura de ficção, autobiografia e ensaio, a autora confessa que, imersa em uma “nebulosa cósmica de dados na cabeça”, chegou “a pensar que nunca seria capaz de abrir passagem através desse bosque caótico de ideias e de referências”. É uma sina que todo criador enfrenta: só a fricção produz fagulha, não há invenção sem perturbação, a arte nasce chorando e esperneando. Jornalismo e literatura são produzidos também em clima de embate – entre fato e versão, realidade e ficção, razão e paixão, caos e ordem.

Tema do Fronteiras do Pensamento de 2023, caos e ordem nos desafiam constantemente na busca por sentido na existência. Primeira convidada do ciclo de conferências deste ano, Rosa Montero tem muito a nos dizer sobre esses dois conceitos aparentemente excludentes: seu trabalho nos lembra que, para além de antinomias, caos e ordem estão imbricados, não se lida com um sem que o outro não meta seu bedelho. Aceitar essa coexistência – por certo não pacífica – é profilático a fim de refutar a ilusão de que exista uma realidade sem mistérios.

FRONTEIRAS DO PENSAMENTO 2023
Quem:
Rosa Montero
Data: 31 de maio, às 20h
Link para ingressos: https://temporada.fronteiras.com/

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