Agenda | Música | Reportagens

“​​Não sou uma divindade”: Luedji Luna apresenta seu álbum mais sexy em Porto Alegre

Change Size Text
“​​Não sou uma divindade”: Luedji Luna apresenta seu álbum mais sexy em Porto Alegre Foto: Henrique Falci

Nos conhecemos quando ela ainda conseguia responder todos os e-mails sobre sua carreira e ser mãe era apenas um desejo. Muito mudou desde aquele verão de 2019 em Nova York, quando Luedji Luna sentou na plateia de um evento sobre diversidade em que eu palestrava. 

Além do nascimento do seu filho Dayo, em 2020, ela se tornou uma das cantoras brasileiras mais requisitadas. O lançamento do seu último álbum, Bom Mesmo É Estar Debaixo D’água Deluxe (2022), a fez alçar voos altos – como o show ao lado de Gilberto Gil, Caetano Veloso e Ivete Sangalo, e sua participação no ensaio do bloco de carnaval da Anitta. O trabalho é uma versão de Bom Mesmo É Estar Debaixo D’água, lançado em 2020, com dez faixas inéditas entre autorias próprias e parcerias. 

Prestes a trazer sua turnê para o Bar Opinião, nesta quinta-feira (15/6), às 23hingressos à venda –, Luedji topou um papo de amiga-jornalista e contou sobre as revoluções que está vivendo, entre elas, a transformação de sua “imagem de divindade” para a “Luedji sexy”, presente no álbum que nomeia a atual turnê. Também falou sobre como seu noivado com o rapper pelotense Zudizilla mudou sua relação com o Rio Grande do Sul.

Leia a entrevista:

Bom Mesmo é Estar Debaixo D’água Deluxe é um álbum muito sensual, que traz uma Luedji Luna mais reveladora. De onde vem isso?

A gente queria se desvencilhar da imagem que o meu primeiro álbum deixou. Quando lancei Um Corpo no Mundo (2017), estava cumprindo meus preceitos religiosos. Só podia usar branco, andar com a cabeça coberta. Quem não era do axé achava que era figurino. Inclusive, teve um episódio em um festival onde uma fã quis acender uma vela no palco. Algo super perigoso. As pessoas me chamavam de “orixá vivo”, “entidade”. Isso estava começando a me incomodar. 

Então quis trazer a Luedji sexy. Isso do nu, da sensualidade, de ser mais literal nas letras. Falar de paixões, desejo, talaricagem. Esse álbum busca me humanizar mesmo. Dizer que eu não sou uma deusa ou uma divindade. Não sou nada disso. Sou uma mulher, humana, que sente, vive, erra e transa para caramba. 

Você se considera uma poeta? 

Eu me considero poeta porque a escrita tomou posse da minha vida primeiro. A música veio bem depois e foi um processo mais difícil, de aceitação e coragem. Eu já tinha 25 anos quando decidi cantar. Antes disso, eu só escrevia, num movimento íntimo, silencioso, mas muito importante. O Deluxe, por exemplo, vem de escritos meus antigos, canções que fiz quando tinha 17 anos. E eu acho que é isso que conecta meus trabalhos. Os temas que eu trago podem até ser diferentes, mas a poética é a mesma.

Teu processo de criação nasce com a escrita?

Para mim é mais fácil a composição nascer da escrita. Não é uma regra, mas a maioria das canções nasce primeiro como poesia e são musicadas depois. Aí mando para um amigo musicar e assim nascem as parcerias. Ou eu tento encaixar em determinado beat, faço um freestyle…

Ah, você está se arriscando no freestyle…  

Eu estou com barras [versos, no rap], querida (risos). Inclusive estou participando do novo disco do Zudi, botei umas barrinhas ali. Eu vou deixando a música me levar. 

Isso me lembra que, quando nos conhecemos, você estava em tour com o EP Mundo (2019) e convidou vários rappers americanos para se apresentarem contigo. Qual a importância dessa internacionalização do teu trabalho?

Desde o meu primeiro álbum eu conto com parcerias internacionais. Sempre foi uma meta mirar minha música para fora do Brasil. Consegui consolidar isso com o Deluxe, em que temos produções e participações gringas. Estou muito feliz com o resultado e tenho cada vez mais recebido convites de fora. O Brasil é muito pequeno perto do que a gente pode alcançar com a nossa música. Então, com esse trabalho, tudo foi intencional. Escolhi propositalmente fazer a mixagem com o Russell Elevado – que foi quem fez a mix de Alicia Keyes, D’Angelo e Jay Z – e fiz a master nos Estados Unidos porque queria alcançar esse mercado.

Foto: Henrique Falci

É impressionante ver a explosão da tua carreira, dividiu o palco com a Anitta, fez show com Ivete Sangalo, Gilberto Gil e Caetano Veloso, com tour pelo Brasil. Nesse turbilhão todo, como você está se sentindo?

Eu estou feliz. Sem deslumbres, acho que estou colhendo o que plantei. Mas acho que falta muito ainda, falta dinheiro mesmo (risos). Tem bastante trabalho, mas isso não quer dizer que fiquei rica. E ainda há uma disparidade grande entre o que se paga a uma artista branca e o que se paga a artistas negras. Trabalhar e viajar tanto tem um custo para a minha saúde que precisa ser recompensado. Eu quero conseguir me imaginar no futuro. Isso é afrofuturismo. E tem a questão da maternidade, eu preciso estar mais próxima do meu filho.

A fama não é tão fácil como a gente pensa…

Junto com a fama vem reflexões profundas. Você consegue uma coisa, mas você perde outras. À medida que você faz mais shows, você perde seu tempo de ir ao médico, de fazer uma atividade física, por exemplo. Tenho pensado muito em cuidar de mim, da minha família e do meu futuro. E não só o meu futuro na música, que é algo que se mostra em ascensão e se consolidando. Minhas canções vão ficar aí, mas eu também quero ficar. 

Agora que você é casada com um gaúcho, se sente mais íntima do nosso estado? 

Na verdade, meu primeiro show em Porto Alegre foi o começo de tudo. A gente que é do Nordeste se acha os mais pretos de todos os pretos (risos). Eu nem pensava na pretitude do Sul. Infelizmente existe esse apagamento para o resto do país. Mas aquela noite no Agulha desmistificou muita coisa no meu olhar sobre o RS. Era muita gente preta, e estavam todos na frente do palco. Cheguei até a brincar no show: “pode existir esse mito que só tem branco no Sul, mas então todos os pretos que tem estão no meu show”.

Anos se passaram e eu conheci o Zudi. Aí ganhei aulas, né? Sobre as charqueadas, sobre Pelotas, a cidade mais preta daí. Hoje eu me sinto em casa quando vou para aí. Todo final de ano eu estou em Pelotas e, quando dá, passo em Porto Alegre também.

O que Porto Alegre pode esperar para o show desta quinta?

Vai ser showzão de um hora e meia! Banda completa, muito brilho, muito luxo e muita música. Espero que todas, todos e todes estejam lá cantando as canções que a gente ama.

Show “Bom Mesmo É Estar Debaixo D’água Deluxe”, de Luedji Luna
Quando: 15 de junho de 2023
Horário: 23h
Onde: Bar Opinião (rua José do Patrocínio, 834 – Cidade Baixa – Porto Alegre)
Ingressos à venda no Sympla

Gostou desta reportagem? Garanta que outros assuntos importantes para o interesse público da nossa cidade sejam abordados: apoie-nos financeiramente!

O que nos permite produzir reportagens investigativas e de denúncia, cumprindo nosso papel de fiscalizar o poder, é a nossa independência editorial.

Essa independência só existe porque somos financiados majoritariamente por leitoras e leitores que nos apoiam financeiramente.

Quem nos apoia também recebe todo o nosso conteúdo exclusivo: a versão completa da Matinal News, de segunda a sexta, e as newsletters do Juremir Machado, às terças, do Roger Lerina, às quintas, e da revista Parêntese, aos sábados.

Apoie-nos! O investimento equivale ao valor de dois cafés por mês.
Se você já nos apoia, agradecemos por fazer parte da rede Matinal! e tenha acesso a todo o nosso conteúdo.

Compartilhe esta reportagem em suas redes sociais!
Share on whatsapp
Share on twitter
Share on facebook
Share on email
Se você já nos apoia, agradecemos por fazer parte da rede Matinal! e tenha acesso a todo o nosso conteúdo.

Compartilhe esta reportagem em suas redes sociais!
Share on whatsapp
Share on twitter
Share on facebook
Share on email

Gostou desta reportagem? Ela é possível graças a sua assinatura.

O dinheiro investido por nossos assinantes premium é o que garante que possamos fazer um jornalismo independente de qualidade e relevância para a sociedade e para a democracia. Você pode contribuir ainda mais com um apoio extra ou compartilhando este conteúdo nas suas redes sociais.
Share on whatsapp
Share on twitter
Share on facebook
Share on email

Se você já é assinante, obrigada por estar conosco no Grupo Matinal Jornalismo! Faça login e tenha acesso a todos os nossos conteúdos.

Compartilhe esta reportagem em suas redes sociais!

Share on whatsapp
Share on twitter
Share on facebook
Share on email

quinta-feira, 15 a 15 de junho de 2023 | 23h00

Muito legal ficar sabendo de tudo o que acontece na cidade, né?
Este conteúdo é exclusivo para assinantes e é por causa da sua valiosa contribuição que você tem acesso a tudo o que está rolando de mais legal nas artes, e isso tudo através da curadoria do jornalista Roger Lerina. Se você valoriza este conteúdo, compartilhe nas suas redes sociais para que mais gente tenha contato com o melhor da Cultura.
Share on whatsapp
Share on twitter
Share on facebook
Share on email
Se você já é assinante, obrigada por estar conosco no Grupo Matinal Jornalismo! e tenha acesso a todos os nossos conteúdos. Compartilhe esta reportagem em suas redes sociais!
Share on whatsapp
Share on twitter
Share on facebook
Share on email

PUBLICIDADE

Esqueceu sua senha?