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Thays Prado canta a “Falta de Jeito” com humor em todos os cantinhos

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Thays Prado canta a “Falta de Jeito” com humor em todos os cantinhos Foto: Vitória Proença

Álbum de estreia de Thays Prado, Falta de Jeito explora com bom humor temas que vão da dor de cotovelo às mudanças climáticas, combinando sonoridades entre o samba e a guitarrada paraense. No dia 21 de novembro, às 19h, a cantora apresenta o trabalho recente na programação do Chapéu Acústico, na Casa de Cultura Mario Quintana.

A concepção do álbum remete aos shows do projeto Cantautoras Latino-Americanas, iniciado em 2017. Ao lado do músico e coprodutor musical do álbum, João Pedro Cé, Thays passou a incluir composições autorais em meio às versões de outras cantoras e compositoras da América Latina.

Em 2019, já com banda formada – Thays Prado (voz), João Pedro Cé (guitarra), Aline Araújo (teclado), Eduardo Lara (baixo), Josué Oliveira (bateria e percussão) e Lu Mello (percussão) –, foram gravados os instrumentais de Falta de Jeito. A pandemia atrasou os planos de conclusão do álbum e as gravações dos vocais para 2023.

Nesse percurso, as referências à crise climática em faixas do álbum se tornaram ainda mais atuais. “Cinco anos atrás, achava que estava sendo exagerada. Cantar essas coisas agora me dá certa agonia, mas é importante falar”, recorda Thays. Na dançante Agosto, que abre Falta de Jeito, ela dispara um verso veloz – com uma mão no joelho e outra na consciência climática: “Foi tu mesmo que me disse que o planeta já não dura muito mais que 30 anos”.

Agosto é a primeira música em que tenho a impressão de que as coisas simples e bobinhas que faço, quando chega no coletivo da banda, fica uma coisa estrondosa. Tenho muito carinho por esse contraste”, conta a compositora.

Fazendo questão de não se levar a sério demais, Thays tem um humor sutil como característica de suas letras. “Quero fazer as pessoas rirem, e fico feliz que eu consiga – com algumas. Precisamos de piada até para falar de coisas sérias”, reflete. “Existe a pressão de que a canção precisa ser muito boa, linda, transcendental. Quis desmistificar pra mim mesma a ideia de que precisa ser solene. Busco espontaneidade, com uma letra falável”, completa.

A presença da palavra falada está presente desde a gênese das canções de Thays: “Várias vezes, tô falando alguma coisa – falo bastante sozinha – e alguma frase me chama atenção. Vou melodizando, sempre a partir da fala. Esse é o brinquedo pra mim”.

Foto: Tiago Medeiros

Brincando com ritmos e palavras, Thays viaja pela guitarrada paraense em Timbalar, com a presença marcante da guitarra de João Pedro Cé, responsável pelos primeiros arranjos das composições de Thays e pela articulação da banda que toca Falta de Jeito.

“A Thays me mostrou várias canções durante o projeto das cantautoras latino-americanas. Sugeri montarmos uma banda e escrever arranjos para, a partir daí, construir o álbum. Fomos levando propostas e acolhendo modificações do grupo. Tentei puxar o máximo possível de ritmos populares. Tem guitarrada paraense, samba, funk brasileiro… Na mixagem, busquei um lado mais dub e psicodélico, com uma atmosfera de fonograma mais colorido para a gravação ao vivo dos instrumentos”, conta o músico, que já integrou a Trabalhos Espaciais Manuais e atualmente vive em Salvador – relembre a entrevista sobre o EP Berço.

O dub citado por João é protagonista em Abobrinha, que tem como referência o álbum Taurina, de Anelis Assumpção. O samba encontra espaço em Alto Lá – com seus ares de canção antiga – e Samba da Rinite: “O meu amor me faz bem/ Eu tenho que varrer o quarto toda vez que ele vem”.

Em Bolero del Subempleo, Thays celebra a língua dos avós uruguaios e suas influências hispanohablantes. “É a única que não é dor de cotovelo, é dor de bolso mesmo. Para equilibrar a letra séria e a melodia melódica, tem timbres de churrascaria – um jeito de fazer um humor mais sonoro do que lírico, mas ele está em todos os cantinhos”, descreve Thays.

O álbum tem ainda uma versão rock para Crendice, de Paola Kirst e Dionísio Souza, Bota Azul – “escrita em tempos mais simples, quando enchentes eram eventos mais distantes no tempo e no espaço” –, a admissão de desesperos de Da Próxima Vez e a faixa-título que encerra Falta de Jeito.

Natural de Porto Alegre, aos 34 anos, Thays Prado canta em coletivos corais desde a adolescência e já integrou grupos da OSPA, da UFRGS e da PUCRS. “Foi muito tempo de prática de voz. Não tem outro jeito de adquirir certo controle, tranquilidade e espontaneidade na hora de cantar. Tem técnicas do canto lírico especificamente que eu ainda uso. Foi ali que entendi as válvulas do instrumento rosto. Se um dia eu cansar de ser cantora Thays Prado, vou encontrar um coralzinho pra continuar.”

Thays fez parte do coletivo As Tubas por dois anos. Em 2019, participou da residência do Projeto Concha, que reuniu cantoras, compositoras e instrumentistas mulheres em diversas atividades em torno da criação e produção musical. “As trocas com as gurias foram incríveis. Cada uma delas tem um brilho muito especial. Acho que não teria lançado o disco se não tivesse passado pela residência.”

Inquilinas (Viridiana, Paola Kirst, Thays Prado e Mel Souza). Foto: Luiza Pads

Desde 2022, Thays Prado integra o quarteto Inquilinas, tocando baixo ao lado de Mel Souza (piano), Paola Kirst (bateria) e Viridiana (guitarra). “Além de arranjar nossas músicas autorais, o grupo nos dá muito espaço para estudar outros repertórios e expandir horizontes. Evoluí exponencialmente como baixista nesses últimos meses por causa das Inquilinas”, conta a artista, que recentemente interpretou Gal Costa e Secos & Molhados em shows do quarteto.

“O próximo passo é inventar alguma coisa juntas. Mas a agenda das gurias é complexa. Não é para já, mas está no horizonte”, antecipa Thays.

No dia 25 de novembro, as Inquilinas cantam versões e trabalhos autorais no aniversário de 7 anos da Casa de Referência Mulheres Mirabal. E no dia 14 de dezembro, às 20h30, Thays Prado e Tiago Medeiros apresentam repertório autoral e latino-americano no Milonga.

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