Juremir Machado da Silva

Arthur Lira, ou Eduardo Cunha 2.0

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Arthur Lira, ou Eduardo Cunha 2.0 Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara (Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados)

Agora vai, disseram os homens de bens. Foi. O passado era uma calça velha, vermelha e desbotada, que não servia mais. O novo, apesar de certa roupa velha, impunha-se disfarçado de Michel Temer e de Jair Bolsonaro. O incrível é que convencia muita gente e ganhava aplausos.

Em pouco tempo, o Brasil foi da mesóclise de Temer ao dialeto de Bolsonaro, que, por vezes, lembra o português, o da Barra da Tijuca.

­ – Ferrá-los-ei se as circunstâncias assim o exigirem.

– Vou fazer isso daí se me der na telha.

Três anos e meio depois…

O Brasil acaba de aprovar uma PEC (emenda constitucional), há menos de três meses das eleições, que permitirá ao presidente da República gastar bilhões para tentar recuperar parte da sua popularidade destruída por seus bizarros atos de governo.

Parece que um filósofo grego foi visto em Brasília com uma lanterna na mão. Perguntado sobre o que procurava com tão pouca luz, teria dito: “A racionalidade do presidente da República”. Desacostumado com os brasileiros, teria tomado uma invertida: “Procure também a racionalidade dos eleitores, especialmente dos mais aquinhoados”.

Conta-se cada coisa. E aprovam-se outras mais incríveis ainda.

Sob a justificativa de um Estado de emergência, provocado por dois fatores indiscutivelmente conexos, a invasão da Ucrânia pela Rússia e as pesquisas dando Lula sempre na frente, a PEC da Reeleição, chamada errônea e eufemisticamente de PEC das Eleições, furou o teto de tudo o que era considerado válido até agora em ano eleitoral.

Sabe-se que popularidade custa caro.

Quem paga é o senhor cidadão, o otário nacional.

A oposição votou a favor. De quê? Da PEC do governo. Não poderia ser filmada votando contra dinheiro para o povo. Tomou um nó tático.

O presidente da Câmara dos Deputados, o “destemido” Arthur Lira, o rei do Centrão, ganhou um apelido novo: Eduardo Cunha 2.0.

Lembram do intransitivo Eduardo Cunha, aquele que manipulava o regimento interno da Câmara dos Deputados a seu bel-prazer, chegando a repetir votação até ganhar, o mesmo que, por vingança, abriu processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff e, depois de vitorioso, foi passar uma temporada na cadeia, que poderia ter começado antes, mas não foi por falta de pressa do Supremo Tribunal Federal?

Eduardo Cunha vive, revive e ganha mutações.

O Centrão é uma entidade misteriosa. Ideologicamente vai da direita até a extrema direita. Reúne bancadas extremistas, tudo, tudo, menos ponderados centristas. Por que então é chamado de centrão?

Elementar, meu caro leitor, porque nunca sai do centro.

Do poder.

Se há governo, o Centrão está no bolo.

O Centrão é como aquele volante ruim que nunca sai do time.

Tem muitas utilidades: pode apagar incêndio ou botar fogo no circo. Pode falar como evangélico ou aliar-se ao diabo por uma causa.

Volante ruim, porém, nunca entra na área. O Centrão nunca sai. O volante ruim nunca acerta o tiro. O Centrão jamais erra. A primeira vítima é sempre o seu aliado, que, mesmo assim, precisa dele para viver. Melhor, para sobreviver. O Centrão é a UTI dos governos.

O Centrão é pau pra toda obra.

Obra é com ele mesmo.

Serviço completo: da liberação de verbas à inauguração.

Agora vai.

A vaca já foi.

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