Arthur de Faria | Parêntese | Porto Alegre: uma biografia musical | Série As Origens

Arthur de Faria: série As Origens, Parte IX

Change Size Text
Arthur de Faria: série As Origens, Parte IX Fotos: Acervo pessoal do autor Voltando a Saverio Leonetti, ele já tinha juntado um bom dinheiro vendendo suas novidades elétricas e acústicas. Mas não parava quieto: pegou mais um navio, agora para a sua Itália, com uma ideia na cabeça. Arrecada lá dois outros irmãos, Achille e Carlo. e vão-se os três para a Alemanha, comprar o que de mais moderno existia na nascente indústria do disco. Dali, de volta a Porto Alegre, trazendo, junto com os equipamentos, um profissional especializado para treinar seus futuros funcionários e uma série de matrizes de gravações alemãs – que mais tarde ele acabaria lançando como se tivessem sido gravadas por ele e tocadas por grupos gaúchos (o gringo não era fácil). De volta à cidade, vai trabalhando na maciota. Primeiro atiça sua fama de bon vivant, amante da música e promotor de inesquecíveis festas em sua requintada chácara que contava com bosque, jardins, pomar de árvores frutíferas, quadra de tênis, cancha de bocha e até um riacho particular. Ficava na avenida Sergipe, 9 (hoje, 220), divisa dos bairros da Glória e Teresópolis. O prédio, aliás, segue lá, tombado mas abandonado, e tragicamente desmanchando-se. Naquela época, essa localização era algo como a fronteira entre a casa do Chapéu e onde Judas perdeu as botas. Por isso, quando o pessoal ia pras festas às vezes ficava dias por ali. Nessas celebrações fitzgeraldianas da Belle Époque, o quase quarentão pai de três filhos ia se enturmando com os melhores músicos da cidade e sentindo o terreno. Sabia o que queria: conquistar a amizade dessa gente boa, que no futuro seria gentilmente convidada a gravar um disco ali – e não há provas, mas eu apostaria minhas fichas em que, na maioria das vezes, eles topavam sem receber um tostão em troca. Quando as classes média e alta da sociedade porto-alegrense já tinham comprado um número significativo de gramofones importados, para tocar os discos conseguidos com dificuldade e altos preços, começa a surgir o óbvio: a necessidade de ter opções do que tocar nos novos aparelhos que começavam a disputar com os pianos o lugar de honra nas salas de estar (é bom lembrar que rádios ainda não existiam, e TV nem em sonho). Hora de botar em andamento a segunda parte do plano. Se a Casa A Electrica vendia gramofones, nasceriam os Discos Gaúcho para gravar e fabricar o que tocar nesses aparelhos. Sim. O cara montou uma gravadora na chácara (o destino fez com que ele não pudesse utilizar o nome A Electrica porque outro empresário local – Engelbert Hobbing – havia registrado a marca para a eventualidade de começar a fabricar discos, o que nunca aconteceu, mas comprova que a coisa estava estourando no interesse popular). Mais ou menos nessa época, em dezembro de 1912 Fred Figner inaugurara finalmente a fábrica da Casa Edison, no Rio – em parceria com a multinacional Odeon. A partir dali, ainda que um punhado de outros pequenos selos surgisse na capital federal, a Odeon-Casa Edison reinaria absoluta. Afinal, era a única com capacidade de prensar o que gravava, sem ter de […]

Quer ter acesso ao conteúdo exclusivo?

Assine o Premium

Você também pode experimentar nossas newsletters por 15 dias!

Experimente grátis as newsletters do Grupo Matinal!

Fotos: Acervo pessoal do autor Voltando a Saverio Leonetti, ele já tinha juntado um bom dinheiro vendendo suas novidades elétricas e acústicas. Mas não parava quieto: pegou mais um navio, agora para a sua Itália, com uma ideia na cabeça. Arrecada lá dois outros irmãos, Achille e Carlo. e vão-se os três para a Alemanha, comprar o que de mais moderno existia na nascente indústria do disco. Dali, de volta a Porto Alegre, trazendo, junto com os equipamentos, um profissional especializado para treinar seus futuros funcionários e uma série de matrizes de gravações alemãs – que mais tarde ele acabaria lançando como se tivessem sido gravadas por ele e tocadas por grupos gaúchos (o gringo não era fácil). De volta à cidade, vai trabalhando na maciota. Primeiro atiça sua fama de bon vivant, amante da música e promotor de inesquecíveis festas em sua requintada chácara que contava com bosque, jardins, pomar de árvores frutíferas, quadra de tênis, cancha de bocha e até um riacho particular. Ficava na avenida Sergipe, 9 (hoje, 220), divisa dos bairros da Glória e Teresópolis. O prédio, aliás, segue lá, tombado mas abandonado, e tragicamente desmanchando-se. Naquela época, essa localização era algo como a fronteira entre a casa do Chapéu e onde Judas perdeu as botas. Por isso, quando o pessoal ia pras festas às vezes ficava dias por ali. Nessas celebrações fitzgeraldianas da Belle Époque, o quase quarentão pai de três filhos ia se enturmando com os melhores músicos da cidade e sentindo o terreno. Sabia o que queria: conquistar a amizade dessa gente boa, que no futuro seria gentilmente convidada a gravar um disco ali – e não há provas, mas eu apostaria minhas fichas em que, na maioria das vezes, eles topavam sem receber um tostão em troca. Quando as classes média e alta da sociedade porto-alegrense já tinham comprado um número significativo de gramofones importados, para tocar os discos conseguidos com dificuldade e altos preços, começa a surgir o óbvio: a necessidade de ter opções do que tocar nos novos aparelhos que começavam a disputar com os pianos o lugar de honra nas salas de estar (é bom lembrar que rádios ainda não existiam, e TV nem em sonho). Hora de botar em andamento a segunda parte do plano. Se a Casa A Electrica vendia gramofones, nasceriam os Discos Gaúcho para gravar e fabricar o que tocar nesses aparelhos. Sim. O cara montou uma gravadora na chácara (o destino fez com que ele não pudesse utilizar o nome A Electrica porque outro empresário local – Engelbert Hobbing – havia registrado a marca para a eventualidade de começar a fabricar discos, o que nunca aconteceu, mas comprova que a coisa estava estourando no interesse popular). Mais ou menos nessa época, em dezembro de 1912 Fred Figner inaugurara finalmente a fábrica da Casa Edison, no Rio – em parceria com a multinacional Odeon. A partir dali, ainda que um punhado de outros pequenos selos surgisse na capital federal, a Odeon-Casa Edison reinaria absoluta. Afinal, era a única com capacidade de prensar o que gravava, sem ter de […]

Quer ter acesso ao conteúdo exclusivo?

Assine o Premium

Você também pode experimentar nossas newsletters por 15 dias!

Experimente grátis as newsletters do Grupo Matinal!

ASSINE O PLANO ANUAL E GANHE UM EXEMPLAR DA PARÊNTESE TRI 1
ASSINE O PLANO ANUAL E GANHE UM EXEMPLAR DA PARÊNTESE TRI 1

Esqueceu sua senha?

ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.
ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.