Entrevista | Parêntese

Marcelo Medeiros Carvalho: Combater o racismo no futebol passa por superar o clubismo

Change Size Text
Marcelo Medeiros Carvalho: Combater o racismo no futebol passa por superar o clubismo
Desde 2014, Marcelo dedica-se ao projeto que reúne denúncias de discriminação racial no futebol (créditos: Divulgação) Criador do Observatório da Discriminação Racial no Futebol trabalha para quebrar o silêncio dos atletas negros Por Roberto [email protected] A primeira vez que ouvi falar do Observatório da Discriminação Racial no Futebol e do trabalho do seu responsável, o administrador de empresas Marcelo Medeiros Carvalho, 46 anos, ainda atuava regularmente em uma redação de jornal. Os dados levantados por Marcelo, praticamente um exército de um homem só, ainda eram incipientes, mas já começavam a chamar a atenção para um problema que, se nunca esteve ausente do mundo da bola, ganhava cada vez mais espaço nas arquibancadas. Tanto no Brasil quanto mundo afora.  Com o passar do tempo, acabou surgindo a curiosidade de como Marcelo fazia para levantar as informações para abastecer o site do Observatório e os relatórios anuais. Também queria saber que motivos o levaram a realizar essa nobre tarefa e como viabilizava sua atividade. Anos depois, tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente. Foi no começo de novembro de 2019, durante a primeira edição do Sarau Bola na Rede, organizado pelos jornalistas Cléber Grabauska, Geórgia Santos e Gustavo Fogaça e pelo músico Richard Serraria. Sentei à mesma mesa que ele e, nos intervalos do evento, antes da sua entrevista, conversamos um pouco sobre racismo no futebol. Surgiu a ideia dessa entrevista – que, por uma série de motivos, levou algum tempo para ser produzida e, agora, publicada. Naquela noite, ele fez uma observação sobre como os negros tomam contato com o preconceito, ainda na infância. E usou o exemplo do sobrinho, presente no sarau:  “Essa história mais ou menos mostra como ou quando o racismo surge na percepção de um negro. Porque nem toda a pessoa negra tem consciência do racismo, né? Ou não a tem desde muito cedo. Então, fui pensar nisso uma vez que notei a reação do meu sobrinho a um fato do cotidiano. Na época, ele tinha uns nove anos e já sabia da existência do racismo, porque achava que não podia frequentar alguns espaços. Percebi isso porque moro em um condomínio grande, que tem área social, com piscina. Uma vez ele veio na minha casa e não quis ir para a parte social. Quando insisti em querer saber o porquê daquilo, explicou que, na cabeça dele, alguém lá do prédio pediria para ele sair, porque o confundiriam com algum menino de rua, ou com filho de algum funcionário do condomínio. Depois disso, contei à minha irmã, mãe dele, o que tinha acontecido, e perguntei quando ele poderia ter feito essa construção sobre racismo na cabeça dele. Ela não soube responder. Então, é isso. Normalmente, não sabemos quando nossos filhos e filhas negros começam a ter presente essa questão racial na cabeça. Em algum momento, ela vai começar a existir.  Pode ser cedo ou pode ser muito mais tarde”. Essa história ficou matutando na minha cabeça. Na verdade, gostaria de saber quando Marcelo tomou consciência da existência do racismo […]

Quer ter acesso ao conteúdo exclusivo?

Assine o Premium

Você também pode experimentar nossas newsletters por 15 dias!

Experimente grátis as newsletters do Grupo Matinal!

RELACIONADAS
ASSINE O PLANO ANUAL E GANHE UM EXEMPLAR DA PARÊNTESE TRI 1
ASSINE O PLANO ANUAL E GANHE UM EXEMPLAR DA PARÊNTESE TRI 1

Esqueceu sua senha?

ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.
ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.