Capítulo LXVIII – Um milhão de melódicos melodiosos – ou: os anos de transição (Parte 14)
Depois de quatro excelentes discos lançados com seu quinteto entre 1959 e 1962, Breno volta para Porto Alegre em 1962. É nessa estada na capital dos gaúchos que acontece uma das histórias mais contadas por essa turma: Sabino Loguércio se dividia entre o posto de crooner no Renato & Seu Conjunto e a faculdade de Medicina. E aí, num ensaio onde Breno estava, resolveu fazer uma brincadeira, testando no peito do amigo um captador de som de contrabaixo que estavam desenvolvendo. Aí, de repente, pelos alto-falantes começou a soar uma arritmia radical: era o coração de Breno.
Resultado: por problemas cardíacos, ele é aconselhado a trocar de instrumento. Sai o pesado acordeom e ele passa para o vibrafone (que, claro, é ainda mais pesado, mas não fica pendurado em ti). É imediatamente contratado para ser vibrafonista do conjunto Flamboyant, numa tão rápida quanto marcante passagem pelo grupo.
Mas ainda mais marcante, ao menos para ele, foi conhecer a jovenzíssima Neusa Terezinha – futuramente Sauer. Mais uma nascida na cidade de Rio Grande, em 13/05/1945, Neusa tinha 16 anos e acabara de vencer o concurso A Voz de Ouro ABC, da rádio Gaúcha. Ele tinha exatamente o dobro, 32. Mas até sua morte, nunca mais se separaram.
Logo dominando o vibrafone, ele monta então um novo quinteto: novamente Breno – agora no novo instrumento – e Olmir Stocker na guitarra. Para substituí-lo no acordeom, o gaúcho de Passo Fundo Oswaldo Carreiro. No contrabaixo, o catarinense Ernoe Eger (Blumenau, 29/11/1940) entra no lugar de Bahlis. E, na bateria, mais um (mais um!) filho da cidade de Rio Grande: Portinho.
Esse trio não foi escolhido de forma aleatória: em Curitiba, Oswaldo, Ernoe a Portinho formavam um trio que revezava com o Breno Sauer Quinteto no La Vie en Rose.
O novo Breno Sauer Quinteto vai novamente se revezar entre Curitiba e São Paulo. Lá, gravará outro disco muito elogiado: Sambabessa, pela RGE. No repertório, Tito Madi, Tom Jobim, e dois compositores gaúchos: o sambista Túlio Piva, que colabora com o samba Três Amigos, e o próprio Stocker, autor da música-titulo.
Logo seriam chamados para acompanhar o cantor Agostinho dos Santos no LP Agostinho, Sempre Agostinho (o mesmo Agostinho que há pouco voltara da Copa do Mundo na Inglaterra, onde cantara acompanhado do grupo de outro gaúcho: Peixoto Primo).
Aí estamos em 1964. O golpe civil-militar dá de cara com a Bossa Nova e o samba-jazz a mil, que rapidamente se esvaziarão. É quando o grupo vira um quarteto: saem Alemão e Oswaldo, e Breno importa do sul o pianista virtuose Adão Pinheiro, seu ex-colega de Flamboyant. O grupo agora não é mais colado na sonoridade de George Shearing. Agora tem a mesmíssima combinação de instrumentos da sua nova referência, o aclamado Modern Jazz Quartet, então a maior referência do refinado West Coast Jazz: vibrafone (Breno), piano (Adão), contrabaixo (Ernoe) e bateria (Portinho). E mandam ver num som que não era nem totalmente Bossa Nova, nem exatamente samba-jazz.
Era outra coisa.
[Continua...]