Os anos 1960 na UFRGS: tão longe, tão perto
Como o Sísifo mitológico, a sociedade brasileira parece condenada a vivenciar uma trajetória cíclica, na qual momentos de pequenos avanços em termos de igualdade, liberdade e expansão de direitos são abruptamente interrompidos por rupturas institucionais e retrocessos autoritários que tem por objetivo “manter tudo em seu devido lugar”. Comparar a trajetória da UFRGS na década de 1960 com aquilo que nela vivenciamos nas duas primeiras décadas do século XXI traz, em parte, essa sensação de uma história que se repete.
O final da década de 1950 e início dos anos 1960 foi um momento de significativa efervescência política na sociedade brasileira. No âmbito universitário, essa efervescência teve como uma de suas expressões a defesa de uma Reforma Universitária, “na qual fossem prioritários a pesquisa e o ensino orientados para as necessidades econômicas, sociais e culturais da sociedade brasileira, e desenvolvidos num clima de debate livre e democrático” (ADUFRGS, 2008, p. 26). Um dos momentos marcantes desse processo na UFRGS foi a “Greve do 1/3”, ocorrida no ano de 1962, tendo como reivindicação “a representação paritária de professores, alunos e funcionários nos órgãos da Universidade” (ADUFRGS, 2008, p. 27).
O golpe de 1964 estancou abruptamente essa efervescência política, dando início a um longo período de censura e perseguições. Na UFRGS, dois ciclos de expurgos, um em 1964 e outro em 1969, buscaram retirar da vida universitária docentes identificados/as como responsáveis por “atos subversivos”. De acordo com ADUFRGS (2008), os expurgos atingiram dezessete docentes em 1964 e vinte em 1969 (sendo seis desses por assinarem um manifesto em apoio a colegas perseguidos). Além do efeito direto de silenciamento de vozes potencialmente críticas, a repressão e o autoritarismo vigentes no período tiveram dois outros efeitos indiretos: de um lado, produziram um ambiente de medo e insegurança que induzia eventuais opositores a uma postura de autocensura; de outro lado, estimularam práticas oportunistas daqueles que viam naquele contexto uma possibilidade para obter ganhos pessoais pela via da subserviência e da cumplicidade com o autoritarismo.
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