1850 – O cemitério da Santa Casa: história
PORTO ALEGRE 250 ANOS: HISTÓRIA, FOTOGRAFIA E REPRESENTAÇÕES
Segundo Fernando Catroga (O Céu da Memória. Coimbra: Minerva, 1999), foi em decorrência da supremacia do liberalismo sobre o ideário do catolicismo monárquico que os cemitérios da Europa deixaram de ser controlados pela Igreja. Passaram, assim, para a regulamentação e administração do poder público. No entender do autor, os paradigmáticos Père-Lachaise (1804) e Montparnasse (1808), de Paris, assim como o Pousada do Repouso, da cidade do Porto (1839) e o Cemitério dos Prazeres, de Lisboa (1835-45), com seus terrenos separados, sua estatuária alusiva ao que fizeram ou como foram seus ocupantes, suas lápides etc., representam o ideário burguês de fugir “do enterramento anônimo e a afirmação simbólica do individualismo” (p. 52).
Em Porto Alegre foi mais ou menos assim. Mais para menos do que para mais. Explica-se. Entre 1835-45 ocorreu no Rio Grande do Sul uma revolta dita liberal. Para apaziguá-la foi designado para governar a província o então Conde de Caxias que, aqui chegando, acumulou o cargo de Provedor da Santa Casa de Misericórdia (1843-45). Foi nesta condição que acertou entre a municipalidade, a Irmandade São Miguel e Almas e a própria Santa Casa a criação de um novo cemitério (até então os mortos eram sepultados nos fundos do terreno da atual Catedral). A municipalidade comprou o terreno, a Santa Casa ficou com a administração e a cobrança dos enterros e lotes, e a Irmandade de São Miguel e Almas com um espaço próprio dentro do novo cemitério. Entre a solução de compromisso e os primeiros sepultamentos (1850) decorreram cerca de cinco anos.
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