Carlos Alberto Kolecza: Dar voz aos sem-voz
Jornalista de referência, tanto no trabalho cotidiano e miúdo cobrindo a cidade quanto em coberturas internacionais que se tornaram mitológicas, Carlos Alberto Kolecza é antes de tudo uma grande figura humana. Com seu jeito calmo, ele conta histórias, incluindo a sua mesmo, como quem sabe que o tempo é um fator essencial para o relato. O tempo e a vida do outro, especialmente esse outro sem poder, sem visibilidade, sem recursos: é em nome desse outro que Kolecza compreende o fazer de sua profissão.
Em parceria com a Cubo Play, Carlos Caramez (que trabalhou com nosso entrevistado) e eu tivemos a grata oportunidade de conversar longamente com ele. O resultado em pequena parte vai aqui transcrito, e poderá ser apreciado com mais vagar nos vídeos que guardam aquela conversa, recheados com alguma documentação. Uma aula de jornalismo, de história da cidade e do país, de dedicação a uma ideia.
Jornalista autodidata, Carlos Alberto Kolecza trabalhou em A Plateia, Folha Popular, Última Hora, Jornal do Dia, Zero Hora, Jornal do Brasil, UPI, Rádio Gaúcha, Folha da Manhã, Jornal de Santa Catarina, Denúncia, revista Porém, Assessoria de Imprensa do PDT e Supervisão de Imprensa da Assembleia Legislativa RS. Foi também Secretário do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Porto Alegre.
Vai aqui um agradecimento à Zero Hora, jornal que Kolecza ajudou a erguer, e que cedeu gentilmente imagens de textos e edições que Kolecza protagonizou.
Créditos das fotos: arquivo pessoal do Kolecza, fotógrafo Daniel de Andrade.
* Texto de Luís Augusto Fischer
Parêntese – Onde você nasceu e como foi o teu começo no jornalismo?
Carlos Alberto Kolecza – Eu nasci em 1940, em Santa Rosa, na pré-fase da implantação da cultura da soja. Meu pai era advogado, minha mãe era das lides domésticas e me criei numa multicolônia com várias etnias. Estudei lá até o ginásio e depois vim para Porto Alegre, fazer o científico no Colégio Júlio de Castilhos e tentar o vestibular para Geologia. Mas, em 1960, acabei indo atrás de um anúncio para redator no jornal A Plateia, em Santana do Livramento e continuei jornalista pela vida toda.
P – Como foi a tua experiência no jornal Última Hora, antes de ir para a Zero Hora?
CAK – A Última Hora tinha fama de jornal que escorria sangue, mas isso era uma maneira de atrair o leitor para outras causas. A Última Hora foi a minha grande experiência de conhecimento da necessidade de amparo e de dar voz aos sem-voz, aos personagens que nunca tiveram oportunidade na sociedade. Nós deveríamos falar destes novos personagens sociais, sempre marginalizados pelo imprensa da elite. A Última Hora foi a grande escola de modernização do jornalismo que, infelizmente, durou até o golpe de 64 e depois foi fechada e se transformou em Zero Hora.
P – Depois do golpe e do fechamento da Última Hora você foi para onde? Como ficou a tua vida?
[Continua...]