Capítulo 2: Longo sono
Ela não precisava ter vindo!
Escutei os gritos da funcionária como se acabasse de invadir algum enredo confuso típico dos sonhos.
– Ela não precisa ter a conta de luz no nome dela! – esbravejava. – Não precisa, porque depois, se der qualquer problema, ela que vai ter que vir aqui resolver…
“Ela” era eu… Eu e tanta gente, com ou sem algum tipo de deficiência, que ainda é considerada bicho de sete cabeças por uma parcela da sociedade. Felizmente, eu tinha consciência de que o problema não era eu, aliás, a cegueira não é o problema, o problema é o preconceito e a discriminação.
– Ela precisa de um comprovante de residência no nome dela, como qualquer outra pessoa – interveio minha mãe, firme.
Ajeitei os óculos escuros no rosto, sentindo a respiração e meu mundo abafados… por trás da máscara. Era hora de eu me ligar, como sinalizara meu pai, ou a luz de alerta ficaria piscando incessantemente como uma possibilidade jamais realizada.
[Continua...]