Juremir Machado da Silva

Crônica de uma noite de temporal

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Crônica de uma noite de temporal Árvore bloqueou trânsito na João Teles | Fotos: Arquivo pessoal

O simpático rapaz da pousada, em São Miguel dos Milagres, nos disse: “boa viagem, vocês terão um dia muito movimentado hoje”.
Achávamos que não. Seriam apenas dois voos corriqueiros: Maceió – São Paulo e São Paulo – Porto Alegre.
Mas havia a previsão de temporal na capital gaúcha.
O voo de Maceió atrasou um pouquinho. Reler O vermelho e o negro me distraiu do relógio e das previsões do tempo.
O voo de São Paulo já partiu sob o signo de uma pequena angústia. Durante a viagem, o WhatsApp começou a derramar vídeos de uma grande tempestade em Porto Alegre. Aterrissar tornou-se apenas uma possibilidade. Silêncio absoluto. Vento forte, a carcaça do avião estremecia.
E assim descemos bem depois da meia-noite.
Em terra, como sair do aeroporto? Uber quase não aparecia ou cobrava 150 reais por corrida de 30.
A fila do táxi tornou-se imensa. O jeito foi organizar-em grupo. Depois de uma hora, pegamos uma táxi com uma senhora e a filha.
No trajeto, escuridão, alagamentos e árvores tombadas.
Na Osvaldo Aranha, próximo ao Araújo Vianna, jazia uma árvore de bons serviços prestados aos frequentadores da Redenção.
Do outro lado, uma árvore estendeu-se no chão bloqueando inteiramente a João Teles, na esquina do bar Ocidente.
Chegamos na frente de casa. Tudo sem luz. Não conseguimos abrir o portão, que funciona com um dispositivo dependente de energia elétrica.
Deixamos as parceiras de táxi na Santana e fomos em busca de um hotel.
Finalmente conseguimos.
Mas não havia luz nos quartos.
Assim voltamos de dez dias no paraíso.
Toda hora me vinha o bordão: privatiza que melhora.
A Equatorial não tem culpa pelo temporal. Mas achar que poderia fazer mais com muito menos gente é uma mescla de burrice com voracidade por lucro. Está muito pior agora.
Amigos estrangeiros estão espantados: nunca tinham visto faltar luz uma vez por semana.
Até árvore da casa do ecologista José Lutzemberger, quase um santuário, não resistiu.
A ideologia cega. Nossos privatistas estão atrasados: vendem serviços que a Europa está reestatizando.
Enfim, estamos em casa.
Um retorno bastante movimentado.

Árvore caiu em frente à casa de Lutzemberger, na rua Jacinto Gomes

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