Juremir Machado da Silva

Imprensa perde a pouca independência

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Imprensa perde a pouca independência José Bonifácio | Imagem: Bonifácio.net

O historiador Francisco Adolfo de Varnhagen não morria de amores por José Bonifácio, que seria imortalizado como “patriarca da Independência”. Separado o Brasil de Portugal o que se eleva, segundo ele, é a censura à imprensa. Toda oposição devia ser silenciada.

“Era José Bonifácio de índole naturalmente boa, mas a sua longa residência sob um Governo despótico, e o próprio cargo de intendente de polícia no Porto, que tinha exercido durante esse regime, fizeram que a educação predominasse. Apareceu de novo o antigo intendente da polícia portuguesa. Foi a sua primeira vítima o redator do Correio do Rio de Janeiro, João Soares Lisboa. A publicação de um artigo elogiando o príncipe por seus sentimentos democráticos, visto não haver no dia 12 concedido títulos e outras mercês, fez que José Bonifácio, no dia 20 do próprio mês de outubro, ordenasse ao Intendente-Geral da Polícia, Desembargador João Inácio da Cunha, que chamasse à sua presença o mesmo redator e lhe ‘estranhasse as doutrinas que propagava e o obrigasse a assinar termo de suspender a sua publicação e de sair do Império no primeiro navio que saísse para a Europa’.

O Presidente da Câmara, José Clemente, recebeu uma insinuação para pedir a sua demissão. O Padre Leça foi mandado sair a vinte léguas da capital, e dois coronéis e vários oficiais foram mandados fora em várias comissões. O imperador prestou-se a mandar suspender os trabalhos das lojas (maçônicas) no dia 21. Mais: no dia 22, José Bonifácio, vendo que o príncipe o apoiara por ocasião das reflexões feitas por três dos conselheiros procuradores contra tantos arbítrios, julgou-se invencível e passou a mais: recomendou novas prisões e passou ordens para serem também presos, de São Paulo, o Chefe-de-esquadra Miguel José de Oliveira Pinto e Coronel Francisco Inácio de Sousa Queirós, como suspeitos de terem parte em uma proclamação autógrafa e revolucionária, que se pregara nas esquinas do pátio da matriz de Santos.

No dia seguinte, 23, já não saiu o Correio (jornal); e nova portaria ordenou ao mesmo intendente que tratasse pessoalmente de descobrir e processar, com todo o rigor das leis, os “perversos” que urdiam “tramas infernais”, não só contra os honrados amigos do imperador, como até contra a preciosa vida do mesmo Senhor. Concluía a portaria ordenando ao intendente que até o dia 12 do mês seguinte deveria deixar de estar em Catumbi, vindo morar no centro da cidade, para, com mais energia e prontidão, dar todas as providências necessárias, para descobrir os perversos e esmagar os conluios. E acrescentava: “Quando a pátria está ameaçada por traidores solapados, não valem as chicanas forenses, e só deve reinar a lei marcial; cumpre, finalmente, que V. S., reservando para outra ocasião os dinheiros da polícia, reservados para objetos menos importantes, os empregue na conservação de bons agentes e vigias”.

Nesta última portaria, referia-se manifestamente José Bonifácio aos seus antigos irmãos maçônicos, que seguiam sempre resistindo-lhe, vendo a oposição que lhes fazia, e os esforços para recrutar quantos podia para o seu Apostolado, e por certo que também aos que tinham chegado a vociferar contra o atroz arbítrio de fazer deportar, sem a menor forma de processo, vários cidadãos brasileiros, só porque lhe não cantavam hinos de louvor. Dir-se-ia que, com o seu caráter arrebatado e impaciente, pretendia José Bonifácio converter todo o país política e literariamente às suas ideias, sem advertir que tudo isso requeria tempo e outra instrução, e não a força e as ameaças.”

Tantas fez o moço, quer dizer, o velho, que foi defenestrado.

Uma independência não se faz sem vítimas nem amigos jogados ao mar como fardos a jogar para fora para aliviar o navio do seu peso.

*

Ao contrário do que andam dizendo os entrevistados da Globo, o 7 de setembro sempre foi importante para os que proclamaram a independência do Brasil. Varnhagen conta sobre a construção do tratado de reconhecimento da nova nação pelo seu ex-proprietário, Portugal de D. João VI:

“Lutaram o Imperador e seus negociadores palmo a palmo contra a concessão do título de Imperador (XIII); contra a concessão das avultadas quantias exigidas, e especialmente contra a ideia de envolver nestas todo o empréstimo de mais de dois milhões de libras esterlinas, pouco antes levantado por Portugal, com o propósito de fazer guerra ao próprio Brasil; contra a ideia de ser desde logo recebida a Carta Régia, pois queriam que fosse recambiada, para que de Lisboa viesse outra modificada; e, afinal, a tudo cederam, salvas insignificantes alterações, tudo, não só em virtude da finura do negociador (inglês), muito auxiliado da intriga do Barão de Mareschall, como principalmente do ardor, que dos nossos se apoderou, de publicar o reconhecimento no dia 7 de setembro”.

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