Juremir Machado da Silva

Raízes do conservadorismo brasileiro

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Raízes do conservadorismo brasileiro Foto: Slavery Images

Escrevi um livro com esse título (Civilização Brasileira, 2017). Na verdade, era para se chamar “Segunda-feira, 14 de maio de 1888”. Volta e meia, diante das proezas do Centrão e de outros atores políticos repetitivos, revejo meu texto com uma ponta de desencanto, como quem diz: “Tudo de novo”. O dinheiro do Fundo de Emancipação de escravos foi desviado para campanhas eleitorais, senadores escravagistas saltaram na frente e ganharam com a perspectiva da abolição, aconteceu de tudo naqueles dias que não deveriam se repetir. Nessa pegada, publico aqui alguns parágrafos do meu livro para reflexão. Faço uma frase de pouco efeito e muitos defeitos: o Brasil é o país do futuro no retrovisor. Olhe para trás e verá.


“Contra a dureza do conservadorismo, o melhor remédio era a liberalidade do humor. A Revista Illustrada, antes da abolição e da República, debochava da mesmice da política brasileira. Já se dizia que nada era mais conservador do que um liberal no poder. Dom Pedro II, quando queria uma política mais liberal, com segurança, atribuía a missão de realizá-la a um conservador. Na hora extrema, porém, as distinções apareciam para confundir os que as consideravam superadas. Foi assim com os derradeiros resistentes à abolição no Senado. Quem eram eles? O que faziam? O que sentiam? O que deixaram como legado?

Se Paulino de Sousa e Cotegipe eram carrancas de proa, Francisco Belisário Soares de Sousa, primo de Paulino – ambos nascidos em Itaboraí, no Rio de Janeiro –, não deixava de ter destaque como operador ideológico de sua classe social. Em um tempo de baixa especialização, ele abraçou três atividades aparentemente incompatíveis, mas igualmente desafiadoras. Foi jornalista, banqueiro e político. Em todas elas, defendeu a escravidão e seus interesses muito particulares. Como político, foi deputado provincial, deputado geral, senador e ministro da Fazenda. Dirigiu o Banco do Brasil. Comandou a pasta da Fazenda quando Cotegipe chefiava o governo. As relações de interesse econômico e ideológico entrelaçavam-se fácil e seguidamente com as relações familiares. A Corte era uma linha de corte. Separava nitidamente os donos do poder dos súditos distantes do imperador.

Belisário esteve no Senado por rápidos dois anos. Morreu em 24 de setembro de 1889. Não consta que tenha lamentado seu voto contra a abolição. Nem o justificado. O que poderia dizer de convincente? Sua biografia ficou marcada por haver hipotecado seus escravos e terras ao Banco do Brasil pouco antes da abolição. Detentor de informações privilegiadas e conhecedor da situação em que o país se encontrava, não hesitou em “antecipar” sua indenização. Foi denunciado pelo combativo José do Patrocínio. Teria sido diretamente beneficiado pelo artifício legal que considerou o município-neutro, a capital do país, parte do Rio de Janeiro, garantindo a transferência de escravos sem a restrição ao tráfico interprovincial. Sua contribuição mais positiva ao país foi um livro sobre o sistema eleitoral brasileiro no Império, publicado em 1872, no qual falava do “fósforo”, o eleitor que votava no lugar de outro em uma situação de fraude permanente”.

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