Juremir Machado da Silva

A promessa eleitoral da Cláudia

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A promessa eleitoral da Cláudia Foto: Ricardo Duarte/ Inter

Quem prometeria trocar de clube para evitar a vitória do seu adversário político se esse triunfo representasse um perigo para a democracia? Esse é o teste que conta. Cláudia, minha mulher, é gremista. Um gremismo sagrado herdado do seu pai. Professora aposentada, ela sempre tem um projeto na cabeça. Nesta terça, ela e sua amiga Tieta passaram a manhã às voltas com a plantação de uma pitangueira no canteiro que divide a nossa rua. Ela também é muito fiel à democracia e está terrivelmente preocupada com uma possível reeleição de Jair Bolsonaro, mesmo se as pesquisas dizem o oposto. Diante de três testemunhas, meu amigo Leandro Minozzo, seu primo Fábio e da Antônia, de nove anos, filha do Leandro, Cláudia fez a promessa mais extrema da sua vida, algo que eu jamais pensei ouvir da sua boca:

– Se Lula ganhar a eleição, viro colorada, com muito orgulho, e vou a todos os jogos do Inter durante um ano.

Ficamos perplexos. O “com muito orgulho” trouxe uma carga de dramaticidade para a coisa. Estávamos na Redenção. Cláudia não faria promessa falsa diante de uma criança. Tratamos de pedir confirmação:

– Isso mesmo. Se o Lula ganhar, viro colorada.

Por um lado, fiquei contente. Terei, enfim, a companhia da Cláudia para ir ao Beira-Rio. Por outro lado, fiquei preocupado. Aliás, ficamos todos. Para a Cláudia fazer uma promessa dessa dimensão ela só pode estar apavorada. Clube de futebol, no Brasil, é coisa séria. Não só no Brasil. Já vi gente trocar de religião, de partido político e até de sexo. Nunca vi pessoa séria trocar de time. Cláudia é muito séria. A promessa se explica por uma razão de ordem máxima: salvar a democracia brasileira de mais quatro anos de tragédia.

O problema, segundo ela, é que suas promessas sempre dão errado. Até hoje não precisou pagar nenhuma delas. O que terá prometido?

Aí fiquei pensando: quem mais trocaria de time para impedir a reeleição do Bolsonaro? Comecei a fazer uma pesquisa informal. Interroguei quatro pessoas. Até agora as respostas foram iguais:

– Quero muito que o Lula ganhe, mas trocar de time já é demais.

Um dos meus entrevistados tratou de virar o jogo:

– Tu aceitas virar gremista para o Bolsonaro não ganhar?

Eu não teria problema algum em virar a casaca. Já fui gremista uma vez. Mas não será preciso fazer tal promessa agora. Acredito na vantagem de Lula atestada pelas pesquisas. Só o debate da Globo, marcado para esta sexta, pode tirar a eleição de Lula. Ele precisa sair melhor do que nos anteriores. No primeiro debate da Band, Lula foi mal. No primeiro da Globo, melhorou. No segundo turno, frente a frente com o capitão de malícias, novamente na Band, perdeu-se na administração do tempo e deixou Bolsonaro falar sozinho por quase seis minutos. Por sorte, o bronco não soube aproveitar. Ficou na bolha.

Este domingo será de grandes expectativas: será que Lula volta à presidência depois de uma longa travessia do deserto? Será que Bolsonaro será devolvido à Barra da Tijuca, de onde nunca deveria ter saído para atolar o Brasil? Será que Cláudia, enfim, vai virar colorada? É muito para um dia só. Talvez valha um Rivotril. Enquanto isso, já vou providenciar uma camisa oficial do Inter para a Cláudia.

Não tem como se perder.

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