Juremir Machado da Silva

Copa do Mundo em Palomas

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Copa do Mundo em Palomas Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil/2016

A minha primeira Copa do Mundo foi em Palomas, em 1970, pelas ondas da Rádio Guaíba. Ali se materializou para mim, aos oito anos de idade, o sonho de viajar. Tenho certeza de que decidi ser jornalista, antes mesmo de saber o que fazia um jornalista, ouvindo aquelas vozes que vinham do México, um ponto num mapa colorido apontado por nosso professor num Atlas do MEC que tenho até hoje. Foi meu primeiro troféu. Continuo torcendo pela Seleção. Para mim, o critério estruturador de seleções é o mais interessante de todos: a nacionalidade (com naturalizações). Não o dinheiro. O Catar pode comprar a Copa. Não pode comprar Messi, Cristiano Ronaldo e Neymar para formar uma equipe supostamente imbatível.

Um país pode jogar com onze atletas naturalizados, desde que eles não tenham atuado por outro país. Portanto, ter dinheiro não forma time como no futebol de clubes nem dita a lei. O pequeno Uruguai monta seleções de talento e aterroriza nações populosas e ricas. Os Estados Unidos até hoje não saíram da mediocridade. O nacionalismo das seleções não é chauvinista. No futebol, o detalhe conta, assim como o acaso, o imprevisto, o lance individual, a genialidade a loteria existencial. O pequeno derrota o grande. Na maior parte das vezes, o melhor prevalece. Futebol é uma mistura de coletivo e individual. O segundo gol de Richarlison, no jogo do Brasil contra a Sérvia, não tem planejamento que garanta, nem tática, muito menos cientificidade. É obra de virtuose.

A coisa mais idiota que se espalhou nos últimos anos, por comentaristas e especialistas de todo tipo tentando vender peixe para ocupar espaços, foi a tal cientificidade do futebol. A Alemanha de 2014 seria o resultado de um planejamento científico que estabeleceria um domínio por 500 anos. Só a Europa teria o controle dessa ciência. Valha Nelson Rodrigues, quanto vira-latismo! A ciência tem lugar no futebol. Mas futebol também é arte. E a arte sempre vai além do racional.

Estou pensando em ver a final da Copa do Mundo, se o Brasil estiver nela, em Palomas. Já não será nas ondas da Rádio Guaíba, que nem direitos de transmissão detém, depois de ter sido “a rádio de todas as copas”, mas na televisão, na Globo, na última transmissão de Galvão Bueno, que, embora chato e umbilical, sabe mobilizar emoções. Diziam que a televisão aberta estava morta, que ninguém mais se interessava pela Seleção e que a Copa do Mundo era coisa do passado. A Globo está aí com audiências fantásticas na Copa, o país para quando o Brasil joga e só os muito ideológicos torcem contra, por fanatismo de direita ou de esquerda.

Tostão, como sempre, tem razão: gols como o de Richarlison são projeções dos sonhos de infância dos jogadores. A Copa do Mundo é o momento máximo do futebol. Não tem Liga dos Campeões que chegue perto.

Vira-latas vestem a amarelinha e olham a Globo no banheiro.

Tomara que Neymar esteja a mil para uma final do hexa.

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