Juremir Machado da Silva

Diplomação e fim de ciclo

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Diplomação e fim de ciclo O presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, durante a cerimônia de diplomação do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil)

Lula e Alckmin foram diplomados pelo Tribunal Superior Eleitoral. O presidente do TSE, Alexandre de Moraes, vulgo Xandão, fez discurso duro em defesa da democracia e da legitimidade do resultado saído das urnas. Mesmo assim, a tropa bolsonarista continuou escoiceando nas ruas de Brasília. Uma tirada golpista de Carlos Lacerda contra Getúlio Vargas foi adotada, adaptada e ampliada para os tempos atuais: Lula não deve sair de prisão; se sair, não pode ser candidato; se for, não pode ser eleito; se for, não pode ser diplomado; se for, não pode tomar posse; se tomar, não pode subir a rampa; se subir, não pode governar; se tentar, precisa ser impedido…

A tática de Carlos Lacerda produziu uma CPI, a da Última Hora, que não derrubou Vargas, e uma crise permanente, que levou o presidente ao suicídio. O bolsonarismo é uma variante atrasada do lacerdismo. Mistura os mesmos ingredientes: anticomunismo, patriotismo, golpismo e extremismo de direita. Lacerda, porém, era um homem culto e não podia ser acusado de obscurantismo. O bolsonarismo é alimentado por uma curiosa fusão tecnológica: redes sociais, aplicativos como WhatsApp e emissoras de rádio. No Rio Grande do Sul, Estado possivelmente mais conservador midiaticamente do país, as rádios destilam diariamente um suco venenoso em favor do bolsonarismo extraído de grupos ultraconservadores de WhatsApp.

O ciclo bolsonarista produz e é produzido por fábricas de mentiras. A mais recente diz que com a diplomação será possível recorrer ao Superior Tribunal Militar para impedir a posse de Lula. E que Bolsonaro poderá convocar o Conselho da República e decretar Estado de Sítio. O capitão está sitiado em seu quarto, ou no banheiro, cercado por seus fantasmas e pelo ressentimento. Tosco, jamais compreendeu o jogo democrático. Não consegue entender a regra pela qual, passando de situação a oposição, cabe-lhe exercer o seu papel e, se quiser ou puder, tentar ser presidente outra vez daqui a quatro anos. Bolsonaro foi o instrumento da volta dos militares ao poder pelo voto. Sem votos próprios, os generais instrumentalizaram o capitão meio doido e mau militar para retomar o comando do país.

Acharam que continuariam no poder pelo menos por 25 anos, a exemplo do que fizeram na ditadura, quando ensanguentaram e enxovalharam a nação com prisões arbitrárias, cassações de mandatos, tortura, execuções, censura, atos institucionais e burrice. Saíram de cena sem pagar pelo que fizeram. Voltaram fazendo homenagens a esse passado tenebroso. As eleições de 2022 decretaram fim de linha para essa nova aventura. Perderam, Mané, mas continuam amolando. Poderiam enfaticamente desautorizar as manifestações diante dos seus quartéis. Bastaria dizer que não aceitam demandas antidemocráticas. Não podem, contudo, fazer isso, pois o golpe está no DNA deles. Foram adestrados para desprezar a democracia. Fim de ciclo.

Muita gente encontrou no golpismo uma causa para chamar de sua. O tédio do cotidiano tomou um tranco. Os acampamentos dão uma sensação de pertencimento, uma emoção, um compartilhamento, uma vida em comum. O negócio é arranjar alguma coisa útil para fazer que preencha o tempo e dê sentido à vida.

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