Juremir Machado da Silva

Hegemonia do Centrão

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Hegemonia do Centrão Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados | Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

No Brasil, o Centrão ganha todas. Mas o que é mesmo o Centrão? Uma nuvem de partidos fisiológicos sempre prontos a criar dificuldades para vender facilidades, conforme a fórmula criada pela sabedoria popular.

Há muito que o Centrão compreendeu a natureza do presidencialismo de coalizão e nem se importa em fazer o presidente da República. Para que ser se é possível ter o presidente como refém? Os partidos do Centrão buscam ter maioria no Congresso Nacional, de onde infligem derrotas a qualquer presidente eleito até que este se ajoelhe no grão de milho e abra as comportas das emendas que fazem as glórias locais dos deputados federais e senadores da República. Lula viu as derrotas crescerem em poucos dias e dobrou os joelhos. Liberou como nunca dinheiro de emendas parlamentares.

Na profusão de partidos do Centrão, que parece só excluir a esquerda, apenas o Republicanos, por projeto religioso, ainda sonha com a presidência da República. O velho MDB sabe que sempre pode participar do banquete do poder, com qualquer presidente, de direita ou de esquerda, oferecendo apoio em troca de liberação de verbas para seus currais.

O ingênuo surpreende-se: mas então o governo fica sentado em cima do dinheiro necessário aos municípios e Estados e só libera quando tem interesse em aprovar algo no parlamento? Yes, of course! Na mosca.

O Brasil é semiparlamentarista e finge não saber disso. O executivo depende do Congresso Nacional para quase tudo e isso tem preço. A criação de novos ministérios por Lula custou um caminhão de dinheiro. Não se está falando de ilegalidades, mas de uma dinâmica política baseada num toma-lá-dá-cá institucionalizado. Na política, lógica de carreira pessoal e lógica de interesse público se confundem cada vez mais. O atoleiro está aí.

O progressismo do governo petista será anulado pelo Centrão? Não necessariamente. Tudo dependerá do que for oferecido em troca. Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados e líder do bloco, quer ministérios para chamar de seus na Esplanada que ajudou a manter quando Lula aceitou liberar quase 2 bilhões em verbas para ter os votos de que precisava. Uma vitória não se faz sem algumas derrotas pedagógicas.

O Centrão faz mal ao país? Depende. Se as emendas forem generosas, pode até fazer o bem. Evidentemente que as chamadas pautas comportamentais não têm preço para essa turma. Ou seja, podem delimitar a fronteira desse fisiologismo. O Centrão está no mercado. Analisa toda proposta em termos de custo e benefício. Lula tomou um choque de realidade parlamentar. Ao ver que já perdia por 3 a 0, resolveu virar o jogo. Melhor, jogar o jogo. Ou não veria a cor da bola. Talvez um dia a população perceba que ao eleger um presidente precisa dar-lhe uma maioria no parlamento para que possa implementar seu programa. Se bem que a sabedoria do eleitor talvez lhe faça pensar que isso seria muito perigoso. Melhor dividir o bolo.

Camaleônico, o Centrão do Lula é e não é o mesmo do Bolsonaro. Há um centrão ideológico que não quer saber de aborto nem de politicamente correto. Fora disso, o DNA do Centrão é pragmático. Se precisar, pende para a esquerda. O MDB vê-se como centro esquerda, comporta-se como centro direita, podendo ir até a extrema direita conforme as circunstâncias. Alguns dos seus candidatos nas últimas eleições não hesitaram em estropiar os próprios nomes acrescentando um “naro” eleitoreiro. Nada que gente do PSBD também não tenha feito. Enfim, Lula está nos braços do Centrão. Só não pode dormir no ponto. Cabe-lhe saber negociar. A vida é mesmo dura.

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