Juremir Machado da Silva

Neymar e Bolsonaro

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Neymar e Bolsonaro

Sou fã do futebol de Neymar. Acho que ele ainda se joga muito no campo para simular faltas, o que revela uma tendência para a enganação. Mas também entendo que ele é bastante caçado pelos adversários. Na retina de pessoas como eu ficou marcada aquela cena, de Copa do Mundo, em que Neymar saiu rolando depois de uma falta como se fosse um eixo desgovernado. Imagem por excelência de algo fake. Não há, porém, como esquecer tampouco da agressão que tirou Neymar, em jogo contra a Colômbia, da Copa do Mundo de 2014. Uma coisa é Neymar jogador. Outra, bem outra, é o cidadão, o apoiador de Jair Bolsonaro.

Neymar está sendo julgado na Espanha por “suposta fraude e corrupção” na transferência do Santos para o Barcelona. Em seu depoimento, jogou a batata quente e podre no colo do pai: “Meu pai sempre cuidou das negociações de contrato. Eu assino o que ele pede”.

Em futebolês de bom boteco, tirou o corpo fora, tentou o drible da vaca, arriscou uma lambreta, gritou para o pai: “Toma que o filho é teu”. Fugiu da responsabilidade. Não é de duvidar que seja jogada ensaiada. Mais uma enganação? Neymar já foi objeto de processo por sonegação de impostos no Brasil. Também de nada sabia. Era um menino na época dos supostos fatos, entre 2011 e 2013. Um habeas corpus suspendeu o processo em julho deste ano.

Os torcedores do Barcelona nunca se conformaram com a maneira pela qual Neymar trocou o clube catalão pelo PSG. Não é difícil encontrar jornais pelo mundo com títulos como este: “Jornal espanhol recorda três anos da ‘traição’ de Neymar ao deixar o Barcelona: ‘Percebeu que estava errado’.” Julgamentos negativos perseguem o pobre craque brasileiro?

Milionário, adulado e cortejado, Neymar tem fama de mimado. Tudo isso para dizer o seguinte. Muito curiosa a justificativa de Neymar para apoiar Jair Bolsonaro na sua corrida pela reeleição: “O que me motivou de expor, de lutar, são os valores que o presidente carrega que são bem parecidos comigo, com minha família, com tudo que a gente preza. Então, é a família que a gente preza, o nosso povo, são as nossas crianças”. Que valores, Neymar? Que família? Empurrar para o pai toda a responsabilidade num caso nebuloso de modo a tentar escapar de uma punição judicial? Ou o pai tem de fato culpa no cartório?

Que valores, Neymar? Debochar de pessoas com covid? Dizer que não é coveiro? Chamar de mimimi o sofrimento alheio? Elogiar o torturador Ustra? Defender fuzilamento de adversários? Que mais? Dizer que preferia teria filho morto a filho gay? Medir negros em arrobas? Afirmar que fraquejou ao ter tido uma filha e não mais um filho?

Casagrande não perdoa: “Enquanto jogadores eram premiados, Neymar estava sendo julgado”. Certo, certo, Casão é de esquerda e não gosta do Neymar. O ex-menino da Vila apoia Bolsonaro por “nossas crianças”. Neymar apoia Bolsonaro em agradecimento pelo apoio que recebeu do presidente quando foi acusado indevidamente de estupro.

O jogador pode apoiar quem ele quiser, ainda estamos numa democracia, fragilizada, porém, democracia, mas também pode ouvir que essa é a sua pior jogada, o seu lance mais infeliz, gol com a mão. Às vésperas da Copa do Mundo do Catar, joga metade do país contra ele ao ligar Bolsonaro e a Seleção Brasileira como gostava de fazer a ditadura militar: “A Copa esta pertinho, seria tudo maravilhoso, Bolsonaro reeleito e Brasil campeão. Eu vou fazer ‘ihuuu’ com a taça na mão. Nós vamos ganhar, o presidente já vai estar reeleito, vai dá tudo certo, a gente vai se encontrar com a taça na mão”.

Neymar parece ser a prova de que existem vários tipos de inteligência. Deve haver uma exclusiva para jogar futebol.

Craques também pisam na bola.

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