Juremir Machado da Silva

O caso das joias

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O caso das joias

Não existe almoço grátis. Nem sequer PF. Muito menos diamante. A pergunta que brilha como um volume de R$ 16 milhões é esta:

– O que os árabes receberam por tanta generosidade?

O caso das joias está fartamente documentado. Tem imagens e texto. Roteiro completo. Um ministro e seu auxiliar tentaram entrar no Brasil como um pacote de joias sem mostrá-lo para a receita federal. O plano naufragou. Um agente abelhudo, com estabilidade no emprego e topete para dar e vender, barrou a farra dos diamantes. Mandou ver:

– Não passarão.

Não passou. Outro pacote, com joias masculinas, passou de fininho e foi parar no acervo pessoal do capitão de malícias, Jair Bolsonaro, que fugiu para os Estados Unidos antes do apagar das luzes do seu tenebroso governo. Melhor dito, antes do reacender das luzes.

Todos os esforços foram feitos pelo capitão para liberar o butim retido no aeroporto. Pressionou, deu carteiraço, mandou emissário, chegou a autorizar o registro do modesto presente em seu patrimônio. Não levou. O agente pagou para ver. Não recebeu coisa alguma. Nem se vergou. O seu pau mandado perdeu a viagem. Voltou de mãos abanando. O rabo também. O quase ex-chefe do governo tinha pressa em botar a mão no tesouro. Aquela velha pergunta vem assombrar a direita brasileira:

– E se fosse um presidente de esquerda?

Quais os elogios que receberia? Bolsonaro queria as joias, pretendia ficar com elas, fez de tudo para obtê-las. No bem bom, pretendia desviar um valioso bem público para o seu magote pessoal. Não existe justificativa para qualquer presidente receber presente milionário como pessoal. No mínimo, teria de pagar imposto na entrada. Essa história está mal contada do começo ao fim. Contudo, tudo se encaixa. Só quem crê em Papai Noel pode duvidar do destino dos preciosos diamantes árabes. O ministro que se prestou ao jogo sai arranhado. Todo mundo recorre ao clássico “eu não sabia o que era”.

A ex-primeira-dama diz que foi a última a saber. Vai ver que o maridão pretendia fazer-lhe uma surpresa no Valentine’s Day. Já imaginaram o clima romântico na Flórida, ao som de algum sertanejo:

– Mozão o que é isso?

– Uma prova do meu amor. Toda mulher merece um diamante de 16 milhões.

– Toda mulher, mozinho?

– Não. Só você.

Salvo a tempo por sua rapidez de raciocínio. Tão bela cena foi estragada, impossibilitada, por um delegado com mania de cumprimento do dever. Só pode ser comunista. Deve fazer o L. Estraga-prazer.

Por que mesmo quem enviou o presente economizou no cartão? Nem uma frase gentil para a felizarda a quem se destinavam os diamantes? Que grossura! Por que o capitão não falou do assunto numa das suas lives? Por que não contou orgulhoso do presente no cercadinho do Alvorada? Por que sonegou aos brasileiros uma dádiva desinteressada? Mais uma vez, compreendemos, prevaleceu a incrível discrição do capitão, incapaz de se vangloriar em público ou de dizer algo fora do lugar. À polícia e à justiça o ex-presidente tudo esclarecerá.

Afinal, está tudo claro como uma noite sem luar.

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