Pinturas e desenhos de Gladys May
Nilson May tem razão: nós, amantes de textos, olhamos para quadros e dizemos que está muito bonito ou algo assim genérico, mas não entramos na técnica e tampouco na alma das artes plásticas. A minha percepção ou abordagem pode ser chamada de parentética. Entre dois olhares e uma conversa, entro numa obra por imersão. Mergulho nas cores, nos traços, nas linhas e em legendas não escritas, embora sugeridas, pelos artistas. Na obra de Gladys May parece se destacar um desejo de expressão pelas cores vivas, de uma alegria infantil, como as de um Miró, ou por detalhes do corpo humano, como um olho, em “Lágrima iluminada” ou em “O olho enigmático”. Aliás, títulos também falam: “Alegorias e lágrimas”, “Coração e lágrimas”, “Lágrima iluminada”.
Se há dor e se a morte está presente, como em “Certezas”, em que balões coloridos voláteis escapam de um caixão e espiralam-se sobre um fundo amarelo e vermelho, há também fantasia e vitalismo como em “Céu e mar” ou em “Les parapluies d’amour”. O especialista analisa as técnicas de produção. O analista parentético, que não deixa de ser todo e qualquer observador leigo, examina a forma que lhe toca os sentidos como uma suave ou aguda provocação. Entre realismo, fantástico, “naif” e intimismo, a artista exibe o cotidiano da sua mente, dos seus desejos, dos seus anseios, dos seus temores e certamente das suas satisfações. A arte é seu instrumento de viagem na irrealidade da vida.
Continua...