Juremir Machado da Silva

Por que tantos ainda amam Getúlio Vargas?

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Por que tantos ainda amam Getúlio Vargas? Imagem: Museu da República

Por que Getúlio Vargas é tão popular e entrou para a história? Há quem não entenda. Há quem deseje apagar todos os vestígios desse tempo. Quem sabe algumas conquistas da Era Vargas ajudem a compreender a permanência de Getúlio no imaginário nacional:

  1. Salário mínimo
  2. Férias pagas
  3. Jornada de oito horas de trabalho
  4. Carteira de trabalho
  5. Descanso semanal remunerado
  6. Indenização por demissão sem justa causa
  7. Justiça do Trabalho
  8. Sindicalização
  9. Voto feminino
  10. Estabilidade no emprego após dez anos, com demissão somente por falta grave
  11. CLT
  12. Ministério da Educação e Saúde
  13. Ministério do Trabalho
  14. Industrialização
  15. Processo de substituição das importações
  16. Ensino fundamental (primário) gratuito e obrigatório
  17. Direito à Previdência
  18. Voto secreto
  19. Justiça eleitoral
  20. Criação da Companhia Siderúrgica Nacional
  21. Criação da Vale do Rio do Doce
  22. Criação da Petrobras

Chega ou precisa mais?

A Era Vargas arrancou o Brasil do atraso da República Velha e começou a torná-lo moderno dentro das contradições da época.

Tudo isso brotou da cabeça generosa de Vargas? Não. Houve pressão dos trabalhadores. Mas foi nos seus governos que essas medidas foram aprovadas e mudaram a vida de brasileiros.

Isso tudo exime Getúlio da violência do Estado Novo? Não.

Getúlio pode ser resumido ao Estado Novo? Não.

Conservador na República Velha, revolucionário em 1930, ditador de 1937 a 1945, democrata de 1950 a 1954, Getúlio é o mais complexo personagem da história da política brasileira. A sua vida é romance, filme, epopeia. Talvez só a de Lula possa se tornar comparável.

Para pensar no banheiro.

*

A ele dediquei vários anos de estudos e publiquei um romance biográfico, “Getúlio” (Record, 2004), que começa assim:

“Agosto, mês de cachorro louco, pensou Getúlio Vargas, desviando os olhos do rosto angustiado do ainda jovem ministro Tancredo Neves, sentado à sua esquerda. Mês do delírio total do Corvo do Lavradio, do “mar de lama” que parecia inundar o Palácio do Catete e de vento norte na campanha — a “savana verde” gaúcha que abandonou para mudar o Brasil e da qual, no fundo, nunca saiu. O presidente revisou mentalmente a carta que releu antes de entrar com seus ministros no Salão dos Banquetes para a reunião de crise e suspirou. Agosto, mês de cavalo magro entregar a carcaça nos campos de São Borja, cobertos de geada ao amanhecer. Agosto, permitiu–se o lugar–comum tão ao gosto de seu pai, mês de desgosto. O velho general Manuel do Nascimento Vargas, veterano da Guerra do Paraguai e dos combates no seu bravo Rio Grande, que só morreu à beira dos cem anos de idade, quebrava a aba do chapéu e previa, numa mescla de sabedoria e de resignação: “Esse não passa de agosto”.

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