Juremir Machado da Silva

Traste inelegível

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Traste inelegível Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Jair Bolsonaro é um traste. Escolho essa palavra por não encontrar na rica língua portuguesa, sem considerar palavrões, outra que possa melhor caracterizar sua inutilidade. Poucas vezes uma pessoa tão despreparada, estúpida e má chegou a um cargo tão importante. De repente, aquele indivíduo grosso, inculto, truculento, preconceituoso e desprovido de inteligência emocional estava na presidência da República. Agora, depois de quatro anos de estragos e violências de todos os tipos, o Tribunal Superior Eleitoral, por 5 votos a 2, declarou que ele está inelegível por oito anos. Que bela notícia para o Brasil. Tomara que nenhuma mudança altere essa decisão capital.

O mandato de Bolsonaro foi um desastre absoluto. Ele tirou o Brasil do cenário internacional, disseminou negacionismo contra a ciência, combateu a vacina da covid, essa mesma que nos permite continuar vivendo, e tentou um golpe de Estado. Ainda falta mandá-lo para a cadeia. Como foi possível a sua eleição? Quatro fatores sobressaem: 1) uma elite egoísta disposta a qualquer coisa para se livrar da esquerda de maneira a poder sonhar com a exploração vil da Amazônia e com o desmantelamento de legislações ambientais e de proteção social. 2) Uma classe média sempre pronta a ver comunistas por todos os lados. 3) Uma mídia oportunista e reacionária. 4) Uma população desinformada e manipulada por mercadores da fé. Na era da informação, o Brasil sucumbiu diante da desinformação e da mentira.

Um quinto fator pode ser agregado: militares saudosos de privilégios e da ditadura militar, que viram no capitão Bolsonaro um trampolim para a volta ao poder e a milhares de cargos no governo federal. Bolsonaro foi eleito na esteira das armações feitas pela Lava Jato para tirar Lula da disputa. Os grandes cabos eleitorais do capitão foram Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, ambos movido pelo desejo de fama e poder. O grande salvador da república é o hacker de Araraquara, o homem que entrou no aplicativo dos “heróis” da Lava Jato e revelou os arranjos feitos por baixo do pano entre procuradores e juiz. A inelegibilidade de Bolsonaro não deixa de ser mais um desdobramento desse fato crucial. O hacker derrubou a Lava Jato.

Os votos dos ministros do TSE foram cristalinos em relação aos crimes cometidos pelo capitão. A extrema direita vai tentar fazer do traste um herói ou um mártir. Já há planos de substituí-lo na corrida presidencial por sua mulher, Michelle, cuja preparação para tal cargo consegue ser ainda menor. Bolsonaro está out. O bolsonarismo está on. A democracia precisa ser protegida. O presidente Lula disse para a Rádio Gaúcha que democracia é algo relativo. É tiro no pé. Na hora em que o país festeja a queda do traste, tudo o que precisamos é da afirmação absoluta do valor da democracia. O resto é enrolação.

Não fosse julho chegando, eu cantaria com Beto Guedes, “quando entrar setembro e a boa nova andar nos campos…” Bolsonaro já era. O traste passa a ser o que sempre foi: só um incômodo no almoço dominical da sua família.

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