Carta da Editora

Ser quem eu sou

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Ser quem eu sou Os editores Luís Augusto Fischer e Nathallia Protazio junto de Jandiro Koch, curador da nova edição impressa (Foto: Marcela Donini)

Lançamos ontem mais uma edição impressa da Parêntese. Colaborador de longa data, Jandiro Koch, que se dedica há mais de 20 anos a pesquisar o universo LGBTQIAPN+, fez uma curadoria finíssima de autores e autoras para essa revista especial. No evento de ontem, realizado na Livraria Bamboletras – espaço sagrado para amantes da leitura e curiosamente abrigado em uma antiga igreja –, contou um pouco dos bastidores dessa produção coletiva.

Começou sua fala evocando Rita Lee e David Miranda, duas personalidades que nos deixaram no mesmo dia e, cada um à sua maneira, lutaram pela liberdade de ser quem se é. Jan sublinhou a efemeridade da vida, seja a vida vivida por 37 anos, como no caso de David, ou 75, caso da rainha do rock. “Passa assim, ó”, disse, estalando os dedos. E completou: “E tem gente que, em 2023, se acha no direito de dizer quem pode ou não ser feliz”.

A maioria dos autores desta edição é da comunidade LGBTQIAPN+. Jan explicou que não se restringiu a esse perfil de colaboradores porque acredita que é preciso ampliar o debate e contar com aliados. Os autores heterossexuais são, como disse Jan, pessoas que pesquisam o tema e têm competência para escrever a respeito, ainda que esse não seja seu lugar de fala – e neste momento aproveitou para esclarecer o conceito difundido por Djamila Ribeiro e interpretado de forma equivocada por quem o confunde com censura.

Documento histórico, como definiu a editora Nathallia Protazio, essa edição é voltada para a história e cultura da comunidade LGBTQIAPN+ do Rio Grande do Sul. Como destacou Jan, a revista vai além da questão da sexualidade, tema ao qual esse debate acaba sendo reduzido com frequência. 

E justamente o que queremos é ampliar a conversa. “É importante quando a Parêntese abre esse espaço porque atinge um público que a gente como gueto não consegue atingir. É muito importante falar internamente em nossos grupos e nos fortalecer, mas é muito importante também a gente espraiar. E essa é uma porta que a Parêntese abriu.”

Foi uma noite muito bonita em que aproveitamos para celebrar os encontros promovidos pela equipe da Parêntese, capitaneada pelo editor Luís Augusto Fischer e que conta ainda com os editores Angelo Chemello Pereira e Luísa Kiefer. Assinantes Passaporte do Matinal puderam retirar seus exemplares. Se você ainda não retirou o seu, entre em contato com a gente ([email protected]). Se você ainda quer garantir uma edição, faça uma assinatura anual do Matinal.

Evento de lançamento ocorreu na Livraria Bamboletras (Foto: Marcela Donini)

Meu sonho é ser imortal 

Rita Lee foi tudo o que quis – e o que não quis – ser: roqueira, feminista, torcedora de futebol, ativista pela proteção dos animais, a compositora mais censurada na ditadura militar, mãe, avó. Neste Dia das Mães, publico um trecho da mensagem que João Lee, um de seus filhos, escreveu no dia de sua morte. 

“Sempre conversamos sobre o quão terrivelmente importante é escolher bem seus heróis. São eles que moldam as nossas vidas, o nosso comportamento e quem somos. Se você quiser ter uma noção de quem uma pessoa é, ou vai ser, pergunte a ela quem são seus heróis. (…) E você é, e sempre foi, a minha heroína. (…)  O mundo perdeu uma das pessoas mais únicas e incríveis que já existiu. Eu perdi a minha mãe. Mas você é eterna. Seu legado, sua história e sua arte viverão para sempre.”

Feliz Dia das Mães para nós, mamães, em especial para a minha, fã de Rita Lee. Que possamos levar adiante a maior lição da rainha do rock: ser livre e permitir o mesmo aos nossos filhos, filhas e filhes.

Me cansei de lero-lero

Para fechar: lembram que na entrevista com o prefeito Sebastião Melo da semana passada ele destacou mais de uma vez a sua crença no mercado como solução para questões sociais? Bueno, nesta semana veiculamos uma notícia na Matinal News sobre o primeiro projeto aprovado para o Centro Histórico sob as novas regras urbanísticas, uma iniciativa da atual gestão. Localizado na Caldas Junior, o imóvel hoje batizado de Cais Rooftop e que chegou a ser destinado para moradia popular tem apartamentos entre 25 e 51 metros quadrados à venda a partir de 400 mil reais. E 40 das 48 unidades já foram arrematadas por um grupo de investidores que vai alugá-las por temporada no modelo “condo-hotel”. É o jeitinho do mercado resolver as coisas.


Marcela Donini é editora-chefe do Matinal, fã da Rita Lee e da Nadia Leal, sua mãe.
Contato: [email protected]

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