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Centro alaga pela primeira vez desde construção do Muro

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Centro alaga pela primeira vez desde construção do Muro Foto: Cesar Lopes/ PMPA

Pela primeira vez desde que o Muro da Mauá foi concluído, em 1974, ruas do Centro Histórico foram tomadas pela água que transbordou do Guaíba. Às 19h, o nível da água no Cais batia 4,70m – 5cm abaixo da marca histórica da enchente de 1941. Foi neste cenário que o Muro, previsto para ser derrubado no projeto de concessão do Cais Mauá, salvou a cidade do pior. Mas também apresentou falhas.

A comporta 14, próxima do acesso à avenida Sertório, se rompeu, conforme informou o prefeito Sebastião Melo em coletiva no final da manhã de hoje. Antes disso, já havia registro de vazamento na estrutura, com a água passando por uma fresta em um dos portões e por entre os sacos de areia colocados para a contenção.

A tendência do Guaíba ainda é de subida. De acordo com o professor do Instituto de Pesquisas Hidrológicas da UFRGS (IPH) Fernando Dornelles, o Guaíba deve receber nos próximos dias a vazão de água do Jacuí. E o prognóstico não é bom. Durante a tarde, o Jacuí estava 6 metros acima do nível registrado em novembro, última cheia – naquela ocasião, o auge da enchente na capital ocorreu dias depois das precipitações e bateu os 3,46m.

Segundo o professor, o Guaíba receberá uma onda nos próximos dias. “A situação vai piorar e vai atingir todo mundo, a partir dos efeitos que já se vê em mercados e postos de combustíveis”, explicou à Matinal.

No início da noite, a Defesa Civil alertou para o risco de rompimento do dique da FIERGS, que já estava sendo monitorado pelo IPH. “Neste caso, a água entraria no bairro com muita velocidade. Um rompimento de dique é coisa de minutos para inundar tudo”, alertou Dornelles.

Centro evacuado – A região central amanheceu com a rodoviária debaixo d’água. Ao longo das horas seguintes, a água deixou submersa boa parte da Praça da Alfândega e invadiu o Mercado Público. No meio da tarde, chegava na altura da rua Sete de Setembro. Perto dali, na rua João Manoel, onde fica o novo prédio administrativo da prefeitura, chegou a poucos metros da Rua dos Andradas.

A expectativa de elevação histórica no Guaíba já era esperada desde a noite anterior, mas só por volta das 8h30min desta sexta-feira, a prefeitura pediu à população que evitasse circular pelo Centro. Ao meio-dia, veio a recomendação de fechamento do comércio no Centro Histórico e no Centro, após reunião com a Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL) e o Sindicato dos Lojistas do Comércio de Porto Alegre (Sindilojas).

Às cegas – Do final da madrugada até o meio da tarde, Porto Alegre ficou sem a medição do Guaíba: a régua de referência no Cais Mauá foi levada pela correnteza. O dado só voltou a ser conhecido por volta das 15h30, quando uma medição manual foi feita e apontou que o nível estava em 4,58m – praticamente um metro acima desde a noite anterior, quando a capital já estava sob a segunda maior enchente desde a sua fundação. No final da tarde, a prefeitura instalou emergencialmente um sensor de nível para conseguir acompanhar em tempo real a medição.

É fake – Equipes do Dmae desmentiram o vídeo que circulou pelas redes na tarde de hoje, em que a água do Guaíba parecia quase ultrapassar o topo do muro da Mauá. Segundo a medição feita às 16h, a água ainda estava a uma distância de 1,70m do topo.

Sem energia – Como medida de segurança, a CEEE Equatorial interrompeu o abastecimento de energia na área entre as avenidas Mauá, Borges de Medeiros e Independência, assim como a rua Riachuelo e a Estação Rodoviária. Cerca de 4 mil clientes foram atingidos. Às 17h, havia 49 mil clientes sem luz em toda área de concessão da companhia, a maior parte por precaução, segundo a empresa. Os municípios mais atingidos são Guaíba, Eldorado do Sul, Porto Alegre e Alvorada. Já a falta de água afetou 436 mil imóveis em todo o estado.


Foto: Gregório Mascarenhas/Matinal

Com alagamento na Praça da Alfândega, a Secretaria de Estado da Cultura removeu arte dos acervos de museus que corriam risco. Saiba mais no site da Matinal


Leite alerta para agravamento da situação na capital e região metropolitana

Em coletiva no final da tarde de sexta-feira, o governador Eduardo Leite (PSDB) falou sobre a perspectiva de agravamento das consequências da chuva na capital e na região metropolitana, principalmente às margens do Guaíba e seus tributários – Jacuí, Gravataí, Caí e Rio dos Sinos. “Uma eventual ruptura pode causar uma onda arrastando as pessoas. Por isso tivemos uma ordem de evacuação na cidade de Porto Alegre e nos outros municípios da região”, disse. Leite deu ênfase para áreas da zona sul, do Centro Histórico, Quarto Distrito até o aeroporto em Porto Alegre. Na região metropolitana, o foco é Eldorado do Sul e de Guaíba.

Outras regiões sob risco – Nos próximos dias o alerta é para outras cidades às margens da Lagoa dos Patos, até a desembocadura em Rio Grande. Também o Vale do Taquari tem ainda inundação severa, com risco de deslizamento das regiões de morro. No nordeste do estado, os rios que contribuem para a bacia Antas-Taquari seguem em alerta, a despeito da trégua da chuva. Possíveis novas precipitações e represamento das águas pela força do vento sul, neste momento, são os maiores riscos. Soma-se agora a bacia do Uruguai à lista de áreas de atenção, devido às chuvas mais recentes que atingiram o norte do estado e o oeste de Santa Catarina – tanto no alto curso do rio, quanto em áreas mais baixas, até a fronteira oeste. Leia a reportagem sobre a coletiva do governador.

RS registra pelo menos 39 mortes – Até o início da noite de hoje, as enchentes no Rio Grande do Sul resultaram em pelo menos 39 mortes, 68 desaparecidos e 74 pessoas feridas, segundo a Defesa Civil. Mais de 32 mil estão fora de casa. Já são 235 municípios afetados, impactando mais de 351 mil pessoas. A apuração de GZH e Rádio Gaúcha aponta para 42 mortos. Diferente de 2023, os temporais afetaram todo o estado, e a instabilidade persistente do tempo dificulta o resgate das vítimas. Dentre as rodovias do RS, havia 147 trechos totalmente interditados no final da tarde, e pelo menos 40 pontos com tráfego parcialmente restrito. O quadro das barragens no estado segue crítico. Quatro delas apresentavam risco iminente de rompimento durante a tarde. Além da Usina Hidrelétrica 14 de Julho (entre Cotiporã e Bento Gonçalves), que rompeu parcialmente parcialmente ontem à tarde, também estão sob risco as barragens Arroio Barracão (Bento Gonçalves), Bugres (Canela) e Saturnino de Brito (São Martinho da Serra). Há pelo menos outras nove barragens com algum grau de risco que estão sendo monitoradas

Leia a edição extra completa desta sexta feira, 3 de maio.

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