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Meio milhão de pessoas afetadas, quase 10 mil salvamentos e pelo menos 55 mortes

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Meio milhão de pessoas afetadas, quase 10 mil salvamentos e pelo menos 55 mortes Resgatados das Ilhas chegam ao Centro de Porto Alegre pela orla do Gasômetro | Foto: Alex Rocha/PMPA

Não é exagero dizer que Porto Alegre e região metropolitana viveram cenas de guerra neste sábado. Botes cheios de pessoas aportando próximo ao Gasômetro, filas de pessoas caminhando com água pelo joelho e seus pertences sobre os ombros, centenas buscando abrigos. O pânico seguiu o curso das águas: depois da situação crítica vivida na metade norte do estado, os esforços de resgates se concentraram na capital e seu entorno, região onde os leitos dos rios Jacuí, Sinos, Gravataí e Guaíba foram acumulando ao longo da madrugada, a ponto de o Guaíba superar, ainda na noite de sexta-feira, a marca histórica da enchente de 1941. No momento do envio desta newsletter, o nível marcava 5,22cm (abaixo, trazemos informações sobre o alagamento na capital).

Passado o pior no Vale do Taquari, o foco das autoridades de resgate é a região metropolitana da capital, informou o ministro Paulo Pimenta à rádio Gaúcha, no final da tarde. Segundo ele, o salvamento está praticamente concluído naquela região. Quase 10 mil pessoas já foram salvas em todo o estado, que infelizmente contabiliza cada vez mais mortos. Até o momento, o estado registra 55 óbitos relacionados às enchentes de acordo com a Defesa Civil; outras sete mortes são investigadas. Além disso, há 74 desaparecidos e 107 pessoas feridas.

Mais de 82 mil pessoas estão fora de casa, sendo 13,3 mil em abrigos e 69,2 mil desalojadas, que recebem abrigo nas casas de familiares ou amigos. Ao todo, 317 dos 496 municípios do estado registraram algum tipo de problema, afetando 510,5 mil pessoas.

Canoas evacua hospital e tem mais de 7,5 mil fora de casa – Em Canoas, mais de 7,5 mil estavam abrigados no início da noite. Com mais de 50 mil pessoas em áreas de risco, a prefeitura orientou a evacuação de 11 bairros do lado oeste da cidade e que buscassem abrigos em locais mais altos. Com ajuda de voluntários, o poder público realizou resgates com embarcações. Aeronaves do governo estadual e das Forças Armadas auxiliaram na busca de pessoas que ficaram presas nos telhados das residências.

As enchentes levaram também à evacuação do Hospital de Pronto Socorro da cidade durante a tarde. A prefeitura montou uma central de recebimento de doações, na loja Cassol Centerlar, localizada na avenida Farroupilha, 5775, no bairro Mal. Rondon. Pedidos de resgate em Canoas devem ser feitos pelo telefone (51) 9 8255-0947.

Outras cidades – Assim como em Canoas, centenas tiveram de deixar suas casas em Eldorado, município de 38 mil habitantes que foi praticamente todo inundado pelo Rio Jacuí, na região do delta. Supermercados, postos de gasolina, casas e empresas estão alagadas. Moradores foram encaminhados para Guaíba, onde cerca de 2,5 mil foram acolhidos.

Com estimativa de 100 mil pessoas afetadas, São Leopoldo decretou situação de calamidade pública. A elevação do Rio dos Sinos, com rompimento em trecho de um dique, alagou bairros inteiros. Cerca de 4 mil pessoas foram acolhidas em pontos disponibilizados pelo município; mais de 800 foram recebidos na Unisinos, que reforça a necessidade de doações de colchões e comida.

Guaíba supera 5,2m e agrava alagamentos na capital

Cheia bateu nível da enchente de 1941 | Foto: Julio Ferreira/ PMPA

Confirmando as piores projeções, o Guaíba ultrapassou a marca da inundação histórica de 1941, quando o nível das águas chegou a 4,75 metros e alagou parte do Centro Histórico de Porto Alegre – a marca foi batida na noite da última sexta-feira (3). Agora à noite, chegou a 5,22cm, depois de ter apresentado oscilação para baixo.

Ao longo deste sábado, a Usina do Gasômetro concentrou ações de equipes de resgates aos moradores que ficaram presos na região das ilhas. Cerca de 15 embarcações, incluindo lanchas, botes e jet skis, auxiliaram nos resgates que eram feitos por bombeiros, soldados, policiais e voluntários.

Moradores de áreas mais críticas tiveram de sair às pressas de suas casas. Na zona norte, em volume repentino inundou rapidamente a Assis Brasil após aumento no vazamento de água do dique da Fiergs, que está sob risco de rompimento. O episódio surpreendeu moradores por volta das 16h deste sábado, que tiveram de evacuar. No bairro Humaitá, moradores deixaram seus lares a pé pelo canteiro central da avenida Farrapos – a região foi considerada por Melo como uma das mais graves para resgate da cidade.

No Menino Deus, o Parque Marinha registrou pontos de acúmulo de água, que chegou à rua José de Alencar, levando o Hospital Mãe de Deus a ser evacuado no início da noite de hoje. Com a ajuda de caminhões do Exército Militar e ambulâncias, os pacientes em estados mais graves estão sendo transferidos para outros hospitais da cidade – demais pacientes seguem internados na instituição que, a princípio, não será fechada.

Melo alerta para falta d’água e de oxigênio em hospitais – “Nós teremos um problema sério de abastecimento de água em Porto Alegre. Estamos trabalhando fortemente para recuperar, mas quando o Guaíba está muito alto, não conseguimos captar. Não dá para desperdiçar nenhum copo de água sequer em Porto Alegre”. Essa foi a declaração do prefeito Sebastião Melo em pronunciamento à imprensa, no final da manhã deste sábado. Duas das seis estações de captação de água na capital estão funcionando, de acordo com o governo. Melo pediu que as pessoas evitem o desperdício nestes dias. A maior dificuldade, de acordo com o diretor-geral do Departamento Municipal de Água e Esgotos, Maurício Loss, é para religar o sistema São João, que abastece a zona norte. Mesmo o Centro Vida, que acolhe pessoas desabrigadas na região, já registra falta d’água. “Se a estação do Belém Novo deixar de captar, aí sim vai parar tudo, pois não teremos mais de onde abastecer”, disse o prefeito. Melo também alertou para a possibilidade de acabar o oxigênio nos hospitais da cidade. Segundo ele, as instituições têm reservas apenas até segunda-feira e a dificuldade de acesso à cidade complica a chegada de novos volumes.

Bloqueios em vias urbanas e nos acessos da capital – As autoridades orientaram que a população de Porto Alegre evite deslocamentos desnecessários. São 76 ocorrências em aberto na Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), de acordo com dados mais recentes, publicados pouco depois das 17h – dessas, 53 são de vias integralmente bloqueadas pelo acúmulo de água, em todas as regiões de Porto Alegre e também da região metropolitana. Uma dessas interrupções se dá no principal acesso à cidade, pela avenida Castelo Branco, onde um buraco se abriu em todas as faixas de rodagem, no sentido de quem entra na capital. Em outro ponto importante de chegada e saída, pela avenida Assis Brasil, nas proximidades de sua intersecção com a freeway, há bloqueio parcial, mas autoridades orientam que as vias sejam deixadas livres para as operações de resgate da população. A RS-040 é uma alternativa de acesso, por Viamão. Você pode conferir, no perfil da EPTC no X (antigo Twitter), as informações mais atualizadas sobre cada ponto de bloqueio, pois essas situações podem mudar rapidamente.

Aulas suspensas – Enquanto a emergência continua, as escolas da rede municipal de Porto Alegre seguirão sem aulas, nos dias 6 e 7 de maio. De acordo com a Smed, avisos em relação à novas suspensões serão comunicados em breve. Pelo mesmo motivo, as atividades presenciais em diversas universidades do estado estão suspensas: UFRGSUFSM – nos campi de Santa Maria e Cachoeira do Sul –, e PUCRS devem ficar sem aulas durante a próxima semana.

Leia a edição extra completa deste sábado, dia 4 de maio.

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