Pesquisadoras da UFRGS alertam que currículo do novo ensino médio reduz aprendizado
Seminário para tratar da reforma contou com seis escolas de Porto Alegre e 200 pessoas da comunidade escolar no Julinho
Estudantes, professores, terceirizados e especialistas estiveram presentes na manhã desta terça-feira no colégio Júlio de Castilhos, o Julinho, para um debate sobre o novo ensino médio (NEM). A comunidade escolar pede que a reforma seja revogada. A implementação do novo ensino médio, que tem previsão para finalização em 2024, foi suspensa pelo Ministério da Educação (MEC). Em março, uma consulta pública de 60 dias foi aberta para rediscutir a reforma. Ainda assim, os estudantes seguem com as aulas no novo currículo.
Ao todo foram cinco instituições de ensino que se somaram a reunião no auditório do Julinho, entre elas a Escola Inácio Montanha, o Colégio Coronel Afonso Emílio Massot, a Escola Infante Dom Henrique, a Escola de Ensino Fundamental Luciana de Abreu e a Escola de Educação Básica Presidente Roosevelt. O debate no Julinho contou com cerca de 200 pessoas, sendo 50 professores, segundo Neiva Lazarotto, diretora do 39º Núcleo do Cpers que presidiu a reunião.
A pesquisadora e professora da Faculdade de Educação da UFRGS Jaqueline Moll, que integra o Observatório do Ensino Médio no RS, abriu a discussão destacando que o ensino nunca foi considerado um direito de toda a população brasileira. “A luta contra a reforma é muito ampla, é pela garantia da expansão de direito à educação e também pela consciência da importância que a educação tem na vida das pessoas”, afirmou. Segundo ela, o novo ensino médio é vergonhoso para a história do Brasil.
Para a professora, a reforma interrompeu os esforços que o país já vinha fazendo para melhorar a educação, como o Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio, uma portaria de 2013 que articulava ações para elevar a qualidade do ensino médio. Moll complementou ressaltando que o novo ensino médio invalida disciplinas essenciais, como história e geografia: “Vai fragilizar a formação de vocês (alunos), é um currículo que leva o jovem a aprender menos.”
É preciso modificações, mas também diálogo
O novo ensino médio prevê uma carga horária de 3 mil horas letivas, sendo 1,8 mil horas as disciplinas comuns e 1,2 mil para as chamadas trilha de aprofundamento, que incluem quatro novas matérias obrigatórias: Projeto de Vida, Mundo do Trabalho, Cultura e Tecnologias Digitais e Iniciação Científica.
Segundo a professora da UFRGS Patrícia Souza Marchand, que coordena o Grupo de Estudos em Políticas Públicas para o Ensino Médio, as trilhas representam uma fragmentação na educação, pois os alunos precisam fazer escolhas para as quais não estão preparados. “É uma reforma estrutural que interfere no projeto de vida dos estudantes que está agravando a desigualdade educacional”, avaliou Marchand. A pesquisadora relatou que a nova grade curricular não compreende as reais necessidades dos estudantes.
Marchand também lembrou que os próprios professores não têm formação específica para aplicar as novas disciplinas, mas ponderou: “Entendemos que precisa de modificações, mas não as que estão sendo implementadas nesse momento e nem da forma que está sendo”. Para a professora, a reforma tem problemas desde a sua concepção – por isso, acredita ser necessário revogá-la a fim de rever toda a educação básica com a participação de alunos e professores.
Na próxima quinta-feira, dia 18 de maio, um seminário semelhante acontecerá no Colégio Ildo Meneghetti, na Zona Sul da Capital, às 19h.