Jovens gritam “Libertad” na festa da vitória do ultraliberal Milei na Argentina

Claudia Tajes, escritora e colaboradora da Parêntese, e Theo Tajes, fotógrafo, reportam direto da capital portenha. Acompanhe.
Domingo, 19 de novembro, 20h36
Os apoiadores de Milei comemoram. O público é completamente diferente do comitê de Massa. Quase não se veem cabelos brancos na frente do Hotel Libertador. A maioria esmagadora é de jovens, muitos sem sequer idade de votar. Não existem bandeiras oficiais ou organização. Cada eleitor de Milei é seu próprio partido e, de quando em quando, todos gritam Liberdad.
É uma massa que odeia política e acredita estar escrevendo uma história diferente. Quem já passou por isso sabe onde vai dar.
E indiferente ao que o artista pensaria, agora toca Fito Paez a todo volume na avenida Córdoba.

18h30
Hotel Libertador, bunker de Milei: nada de apoiadores. Uma mãe com o filho pequeno – vestindo a camisa da seleção argentina – espera algum sinal. Uma menina de cabelos cor-de-rosa tira o corpo para fora de um carro velho e grita Milei, dale!
Muitas vans da imprensa e equipamentos sendo posicionados. Impressiona a falta de apoiadores na rua, talvez porque o voto seja facultativo e amanhã é o Dia da Soberania Nacional, feriado na Argentina.

No Complejo C, sede de Massa, tapumes impedem a passagem e mesmo a vista, mas dá para espiar um grande número de vans e equipamentos. A avenida Dorrego, já fechada, vai sendo preparada para uma grande festa, com gradis instalados e ambulantes chegando. O público ainda não apareceu, mas a campanha está otimista.
17h45
A quinze minutos do fechamento das urnas, o bunker de Sergio Massa recebe caravanas e mais caravanas de eleitores. Os principais sindicatos estão com ele, assim como os partidos e organizacões de esquerda, as escolas e universidades. É muita gente e muita gente humilde com bandeiras peronistas que lembram Evita e até Maradona.
No meio da multidão, ambulantes assam carnes e o fogo nos tonéis deixam a avenida ainda mais quente. Uma coisa é certa: se Massa ganhar, a vitória terá cheiro de churrasco.

Hotel Libertador, bunker de Milei: nada de apoiadores. Uma mãe com o filho pequeno – vestindo a camisa da seleção argentina – espera algum sinal. Uma menina de cabelos cor-de-rosa tira o corpo para fora de um carro velho e grita Milei, dale!
Muitas vans da imprensa e equipamentos sendo posicionados. Impressiona a falta de apoiadores na rua, talvez porque o voto seja facultativo e amanhã é o Dia da Soberania Nacional, feriado na Argentina.
No Complejo C, sede de Massa, tapumes impedem a passagem e mesmo a vista, mas dá para espiar um grande número de vans e equipamentos. A avenida Dorrego, já fechada, vai sendo preparada para uma grande festa, com gradis instalados e ambulantes chegando. O público ainda não apareceu, mas a campanha está otimista.
15h30
Pela cidade, a vida corre independentemente do destino que se aproxima. Cafés cheios de gente, as lojinhas charmosas de Palermo abertas e velhos rocks e hits do pop em inglês tocando em todos os lugares, de restaurantes a cafés a bares a táxis. Não se ouve o sotaque espanhol pelos alto falantes de Buenos Aires.
Mas que vai acabar em tango, vai.
9h30
O primeiro sinal de que os hermanos passam pelo maior perrengue das últimas décadas veio ainda na porta do Aeroparque, o aeroporto de Buenos Aires. O taxista que nos abordou disse que não aceitava tarjeta, mas que podíamos pagar em reais, dólares ou euros. Depois, tentou de todas as maneiras trocar o nosso dinheiro, informando uma taxa e mostrando no celular quanto cem dólares valeriam.
Na cotação dele, 92 mil pesos.
Diferentemente do dia antes do segundo turno no Brasil de 2022, parecia que o sábado, 17 de novembro, não era a véspera da eleição mais tensa dos últimos tensos anos na Argentina. O dia ensolarado e frio levou as velhinhas e seus cachorros para os parques, mas as ruas estavam vazias. Diante da Casa Rosada, nem sequer policiamento havia. Cartazes, só os que sobraram do primeiro turno, meio arrancados e misturados a novas propagandas.
Neste domingo de urnas já abertas, Javier Milei, o tresloucado candidato de La Libertad Avanza, vai esperar o resultado no mesmo lugar das duas eleições prévias, o Hotel Libertador, na Avenida Córdoba esquina com Maipú. Sergio Massa, o ex-ministro da desastrosa economia que concorre pela Unión por la Pátria, estará em seu bunker no bairro Chacarita
Ontem, a garçonete que entregou o cardápio no restaurante deserto às 22h se desculpou por não poder servir vinho. Es la segunda vuelta, ela disse, la ley no permite beber. E completou, quando já se afastava: pero mañana, beberemos.
Pelas nove da noite os argentinos saberão se para brindar ou esquecer.