Moradores do Moinhos de Vento se mobilizam contra comércio no Parcão
A Associação Comunitária do Parque Moinhos de Vento, junto a moradores da região, está mobilizada contra a possibilidade de atividade comercial no emblemático moinho do parque. A proposta surgiu após a entrega do novo Posto Avançado da Guarda Municipal no Parcão, no dia 26 de março, ocasião em que o prefeito Sebastião Melo (MDB) demonstrou o desejo de ter comércio no local, reaberto depois de 11 meses de reforma. Para o prefeito, “segurança é ter gente podendo caminhar e tomar um café”, conforme disse a GZH durante a inauguração do posto.
Conforme a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus), o edital da proposta ainda está em construção e não há previsão para ser publicado. Mas desde a manifestação da intenção de autorizar atividade comercial no local, a comunidade teme que um estabelecimento do tipo possa, ao contrário do que prevê Melo, prejudicar a segurança. Um abaixo-assinado foi criado pela associação para preservar o Parcão contra a criação de cafés, restaurantes e lancherias dentro da sua área. Em três dias, o manifesto superou 250 assinaturas.
Atual prefeito do parque, Jaime Mayer Wageck mora desde os anos 1960 na Comendador Caminha, rua que delimita a área verde junto a Avenida Goethe. Em um documento endereçado ao prefeito Melo e que circula em grupos de WhatsApp commoradores do bairro, Jaime escreve: “A introdução de qualquer comércio no parque representa uma mudança significativa em seu caráter. Nosso parque não é apenas um espaço aberto; é um símbolo de comunidade, um santuário para a natureza e para o lazer. Permitir o comércio aqui abriria precedente para mais incursões comerciais, o que, tememos, poderia descaracterizar completamente o propósito original deste espaço”.
No texto, ele ainda ressalta o “valor imensurável” dos espaços verdes nas cidades, e observa: “Está em jogo a visão que temos para nossa cidade”. Vale lembrar que, em 2022, a gestão Melo se ensaiou para conceder a Redenção à iniciativa privada e construir um estacionamento subterrâneo próximo ao Araújo Vianna. Contudo, frente à grande resistência popular, voltou atrás cerca de um ano depois de levar o plano a público.
Sugestão “infundada” e “reducionista”
O receio em relação a empreendimentos comerciais não é novidade entre os usuários do Parque Moinhos de Vento. À Matinal, Jaime contou que, na época da criação da associação, por volta de 1970, havia trailers que vendiam comida dentro do parque e que frequentemente eram procurados por “bêbados, drogados e desordeiros”, causando transtorno entre os moradores. Desde então, segundo ele, um acordo foi estabelecido com o poder público para que pontos comerciais não fossem permitidos no parque. “É um problema de segurança pública e isto não se resolve simplesmente abrindo um café”, comentou. Para a associação, a sugestão de Melo de combater o vandalismo com um estabelecimento comercial é “infundada”. “A maioria dos atos delinquentes ocorre à noite ou de madrugada, quando um café estaria fechado e não haverá supervisão”, escreveu Jaime ao prefeito.
Na carta, ele ainda cita outras estratégias que contribuiriam para aumentar a segurança no local, como fortalecer a iluminação, aumentar as patrulhas da Guarda Municipal e Brigada Militar, ampliar o número de câmeras de vigilância e incentivar a participação da comunidade em eventos que fomentem a preservação e o uso consciente do parque.
A posição do prefeito do parque encontra eco na opinião de especialistas. Para Eduardo Pazinato, associado sênior e conselheiro de administração do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a autorização do moinho para atividade comercial é uma ideia reducionista diante de um caso complexo que exige estratégias de segurança integrada. É preciso levar em conta, por exemplo, os diversos aspectos da instalação de comércios na área, principalmente o aumento da circulação de pessoas, que, consequentemente, também exige outras medidas de segurança, como o uso de câmeras e novas instalações de iluminação.
Se a justificativa de Melo é que o comércio traria segurança ao parque, deve-se considerar a extensão do seu impacto, diz Pazinato, que afirma que nem todos os pontos do parque estariam seguros, afinal, não seria viável colocar um comércio em cada esquina do Parcão.
No seu entendimento, o primeiro passo é ouvir a comunidade. Se depender da associação de moradores, o destino do moinho é bem diferente do que propõe Melo. Jaime defende o retorno da Biblioteca Infantil Maria Dinorah ao moinho, “de onde nunca deveria ter saído”. O espaço infanto-juvenil foi fechado em janeiro de 2020, e o acervo de cerca de 4 mil obras foi encaminhado para junto da Biblioteca Jornalista Roberto Eduardo Xavier, na sede da Smamus.