Acusado de abuso sexual por quatro mulheres é condenado em Porto Alegre
Alberto Deluchi foi condenado em primeira instância a nove anos em regime fechado, mas pode apelar em liberdade. Conforme Matinal revelou, vítima que levou o caso à justiça foi abusada em uma cama de hospital em 2017; outras três mulheres denunciaram o mesmo homem à polícia por crimes cometidos nos anos 1990, mas que acabaram prescrevendo
Denunciado pelo Ministério Público por estupro de vulnerável e importunação sexual em julho de 2023, Alberto Deluchi foi condenado nesta semana. O primeiro caso ocorreu em 2017 contra Conceição Denck. Ela tratava um câncer na UTI do Hospital Mãe de Deus quando aceitou receber a visita de Deluchi, que conhecia por seu trabalho na Sociedade Espírita João Cardoso de Mello. Deitada na cama, fragilizada, foi abusada pelo homem.
A Matinal contou no ano passado a história de Conceição e de outras três mulheres que procuraram a polícia mais de 30 anos depois de terem sido abusadas pelo mesmo homem. Contudo, como os episódios ocorreram nos anos 1990, quando as três amigas eram crianças, os crimes já prescreveram. O trio acabou arrolado como testemunha de Conceição.
Deluchi foi condenado a nove anos de reclusão em regime fechado por estupro de vulnerável, mas vai poder recorrer em liberdade. A pena para o crime vai de oito a 15 anos. No caso de Deluchi, foi estabelecida em 10 anos e reduzida em um ano por ele ter mais de 70 anos. A decisão é do juiz Sidinei José Brzuska, da 3a vara criminal de Porto Alegre. Segundo o promotor José Nilton Costa de Souza, o MP não vai recorrer por entender que a pena está adequada. Procurado pela reportagem, Deluchi não se manifestou até o fechamento desta matéria. O processo ainda está em segredo de justiça, mas a redação teve acesso a trechos da decisão.
O crime de importunação sexual, que teria ocorrido em 2015, contra uma mulher de então 30 anos, amiga das filhas de Deluchi, acabou prescrevendo em razão da pena ser mais baixa, de dois a seis anos de reclusão.
Coragem e acolhimento
À Matinal, Conceição, hoje com 46 anos, se disse aliviada com a condenação em primeira instância. Apesar do desconforto em enfrentar o processo, contou que se sentiu acolhida pelo magistrado. “Nós todas nos sentimos muito acolhidas pelo juiz. Ele foi de uma delicadeza, foi humano”, destacou. “Desmistifica a crença de que a justiça não é justa.”
Conceição considerou rápida a tramitação do processo até a decisão em primeira instância. A audiência ocorreu no dia 27 de março deste ano, e ela tomou conhecimento da decisão nesta segunda-feira, 29 de abril. Sem advogado, ela foi representada pelo MP. Segundo ela, o juiz destacou, na sentença, a coragem de levar a denúncia adiante.
Mas esta não é uma postura comum entre vítimas de crimes sexuais, pelo contrário. Constrangimento, medo, vergonha e culpa são apontados como obstáculos para a notificação dos casos. Em sua decisão, o magistrado afirma que “não é incomum vítimas sentirem pavor de relatar fatos delituosos de cunho sexual, principalmente por temerem não receber o apoio necessário da família”.
As três outras mulheres que relataram os abusos na infância ilustram o quadro: quando descobriram que eram vítimas de um mesmo abusador e finalmente se encorajaram a denunciar, os crimes já tinham prescrito.
Uma dessas mulheres, que foi testemunha no processo, falou à Matinal e também salientou o acolhimento do tribunal no dia da audiência. Em nenhum momento, as vítimas e suas testemunhas tiveram contato com Deluchi. “Quando tu entra e vê aquele mundaréu de homens, parece que é tu que está sendo julgada. Mas depois achei o acolhimento do tribunal bem positivo no sentido de nos proteger”, disse a testemunha. Ela e Conceição se dizem esperançosas de que sua coragem possa inspirar outras mulheres a denunciar.
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