Reportagem

Produtores de Porto Alegre aguardam ajuda da Prefeitura após decreto de emergência

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Produtores de Porto Alegre aguardam ajuda da Prefeitura após decreto de emergência Produção de hortaliças do engenheiro agrônomo Régis Bruhn no Lami caiu pela metade (Fotos: Karina Reif/Matinal Jornalismo)

Calor escaldante afeta produção rural de Porto Alegre com perdas de mais de R$ 4 milhões

Terceira capital com maior área rural no Brasil – perdendo apenas para Palmas (TO) e São Paulo (SP) –, Porto Alegre tem sido impactada pelo calor excessivo do verão e falta de chuvas. Nesta segunda-feira, os termômetros marcaram mais de 38°C, o que agrava o processo de irrigação das propriedades localizadas na Zona Sul da cidade, as quais somam 4 mil hectares. 

A Prefeitura decretou situação de emergência na área de produção primária diante dos danos de aproximadamente R$ 4,1 milhões. Na última sexta-feira, o documento foi homologado, habilitando a Prefeitura a requerer recursos estaduais para auxiliar as 120 famílias dependentes do agronegócio que estão entre as mais prejudicadas em Porto Alegre. 

Uma das principais culturas afetadas foi a de milho, com perdas de 80% na produção. Já as olerícolas, como abóboras, morangas, pepino, tomate, berinjela, couve, brócolis, alface e rúcula, por exemplo, registram queda de 50%. Na soja, o impacto, até a metade de fevereiro, foi de 31,4% e a fruticultura, 30%. 

Medidas para evitar a calamidade

“As perdas já aconteceram. Não dá para recuperar o que já foi perdido, mas a situação permite que nos preparemos para não chegar à calamidade”, observou o titular da Secretaria de Governança Local e Coordenação Política (SMGOV), Cassio Trogildo, informando que não há ainda estimativa de quanto o governo do Estado e a União irão liberar de recursos para a cidade. 

Nos próximos dias, a meta é fazer um levantamento das necessidades de cada produtor. A limpeza e criação de novos açudes são algumas das alternativas para aumentar a reserva de água. Cada novo açude custaria em torno de R$ 10 mil, que os cofres municipais, em princípio, não teriam condições de arcar. “O município é o ente da federação que menos recurso tem”, disse Trogildo.  

O poder público também pode auxiliar de outras formas, além de aumentar o armazenamento de água, segundo o técnico em agricultura da Emater Luis Paulo de Vieira Ramos. “Pode investir em equipamentos de baixo consumo de água, como o gotejamento e a cobertura do solo”, explica. Ele defende o estímulo da conversão ao sistema agroflorestal, que mescla a plantação de árvores com outras culturas. “Como o sol não bate totalmente no solo (pela sombra das árvores), reduz a necessidade de água”, descreve. Historicamente, conforme o profissional, os agricultores reduzem a produção nesta época do ano, mas o ideal é que permaneça normal o ano inteiro. “Mesmo se a estiagem se repetir, as propriedades têm que ter uma capacidade de produzir a mesma riqueza.”

Porto Alegre rural

Localizada, principalmente, no Extremo Sul, a região rural da Capital tem potencial de ser expandida dos atuais 4 mil hectares para 7 mil hectares. Um recenseamento das regiões primárias da cidade está sendo planejado. Com isso, haverá dados mais precisos sobre a produção vegetal e animal e suas demandas e, assim, condições para direcionar ações para o setor. Nos próximos dias, será publicado um edital de Organização da Sociedade Civil (OSC) para realizar esse trabalho e também o manejo sanitário do rebanho.

“Porto Alegre produz um pouco de quase tudo. Além da importância dos alimentos, sendo boa parte agroecológicos, tem a questão ambiental”, ressaltou o secretário, complementando que a área no Extremo Sul da cidade, próximo ao Guaíba e à Lagoa dos Patos, é de passagem de ventos. “Se não tivesse essa área (de vegetação), a nossa condição térmica seria ainda pior”, afirmou. 

A zona rural tem também uma potencialidade de turismo e está caminhando para se tornar cada vez mais sustentável, com a previsão de menos defensivos até 2032.

Segundo a Rede Agroecológica Metropolitana (Rama), que certifica a produção orgânica, 40 produtores de Porto Alegre não utilizam agrotóxicos e 20 estão em processo de conversão da agricultura tradicional para a ecológica. O IBGE contabiliza 398 produções agrícolas em Porto Alegre, entre tradicionais e orgânicas. 

Hortaliças entraram em “estresse” por causa do calor

Tomates perdidos no Lami

Há 20 anos plantando hortaliças no bairro Lami, o engenheiro agrícola Régis Bruhn viu a produção cair pela metade, de 150 caixas de vegetais sem agrotóxicos por semana, em condições ideais de tempo, para quase 70 neste verão. “A partir dos 30°C, plantas como alface e rúcula entram em estresse e a imunidade baixa, ficando sujeitas a pragas”, explicou ele, mostrando também os pés de salsinhas secos e os tomates murchos e. Em função das perdas, Bruhn precisou dispensar dois funcionários este ano. 

Os dois açudes utilizados para irrigar o plantio baixaram e Bruhn tem dosado a água e reduzido a área de produção. Está dando prioridade para aguar as mudas, que garantirão as próximas colheitas.  

“Muitos já teriam desistido”

Os 10 mil pés de morango orgânicos – certificados pela Rama – do casal Lucimara Silva da Silva e Ubirajara Souza Almeida tiveram queda de 40% na produção deste ano. Eles precisaram podar para diminuir a necessidade de água. Com isso, baixaram o volume de 250 quilos da fruta (por semana) para 70 quilos. Das quatro estufas existentes na propriedade na Vila Nova, somente duas estão produzindo. “As mudas estão murchas, porque a gente tem que dar água três vezes ao dia, mas foi preciso racionar. Então, elas estão mais frágeis. Algumas acabam morrendo”, descreveu Lucimara. A estratégia será adquirir mais caixas de armazenamento de água. “Somos resistentes, muitos já teriam desistido.”

Falta de chuvas afeta produção de flores

Das 30 mil mudas de flores que deveriam ser colhidas na propriedade de Gilberto Luiz Toneze Antunes este ano, 30% foram perdidas. “Um dos lotes secou e não colhemos pela falta de chuvas regulares”, revelou. Contudo, o produtor do bairro Belém Novo consegue utilizar essas plantas secas para arranjos: “Ainda perdemos as plantações de pepinos, girassol, vagem e outros. Mesmo com irrigação, não suportam o calor”. 

Apesar dos prejuízos, Antunes avalia estar em uma posição razoável em comparação com os demais produtores de Porto Alegre. “Tenho colegas que estão em situação muito mais difícil”, relatou ele, em mais um dia com temperatura superior a 35°C em Porto Alegre. “Não posso me queixar.”

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