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South Summit: mobilidade é desafio para Porto Alegre se tornar uma cidade responsiva

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South Summit: mobilidade é desafio para Porto Alegre se tornar uma cidade responsiva Em 2022, o South Summit reuniu mais de 20 mil pessoas no Cais do Porto | Foto: Giulian Serafim/PMPA

Conceito que se justapõe às smartcities, em que a tecnologia é imposta verticalmente, e abre espaço para maior engajamento dos cidadãos estará em debate no evento que começa nesta quarta 

Não é por acaso que o South Summit ocorre, pela segunda vez, no Cais Mauá, ao lado de um Gasômetro desativado – de seu uso original – há quase 50 anos. O evento pautado pela inovação também é afetado pelos obstáculos de uma cidade, como as dificuldades de acesso e mobilidade, e tirar as ideias dos painéis e levá-las para as ruas é o desafio para tornar a Capital mais responsiva.

Em 2022, motoristas enfrentaram engarrafamentos para chegar ao local, cuja entrada se dá por uma única via de acesso por ficar à beira do Guaíba. Para este ano, a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) permitirá que carros utilizem as faixas exclusivas de transporte coletivo nas avenidas Mauá e João Goulart para dar mais fluidez ao trânsito, e haverá pontos de táxi na entrada principal. 

Ainda assim, a ausência de alternativas mais sustentáveis é sentida e destacada pelos palestrantes. É um desafio que precisará sair dos painéis de ideias nos armazéns para as ruas da Capital. “Para chegar por água, poderiam ter catamarãs saindo do Barra Shopping ou de Guaíba e até o Summit de meia em meia hora. Poderia se ter articulado bolsões de traslado modal, um convênio com estacionamentos do Centro para deixar o carro e pegar uma bicicleta. Ou uma van reunindo as pessoas e levando para aquele ponto, uma parceria com um app de carona. Ou ainda ações mais voltadas à criatividade”, sugere a sócia-fundadora e diretora do Instituto Cidades Responsivas, Luciana Fonseca.

Nesta quarta, Fonseca participa de dois debates sobre mobilidade e sobre como criar “cidades responsivas”. O conceito se justapõe à ideia de smartcities, em que a tecnologia é imposta de cima para baixo. Nas cidades inteligentes, a tecnologia está em pontos fixos, como nas sinaleiras e nos pardais ligadas a uma central e com uma equipe técnica no controle. Nas cidades responsivas, o usuário tem uma ação mais consciente, se aproveitando e colaborando com sistemas colaborativos, como no Waze.

“Em um cenário de responsividade, a gente é consciente da nossa ação, tem protagonismo e segue a lógica de planejamento de baixo para cima, que entende a cidade como um sistema complexo, aberto e que vai se auto-organizar a partir de suas dinâmicas”, explica.

Atingir essa maturidade não é fácil, reconhece a especialista. Ela considera que Porto Alegre tem plataformas digitais e está desenvolvendo uma revisão do Plano Diretor que inclui análise com dados abertos. Mas ainda não tem um GeoSampa, por exemplo, o mapa digital de São Paulo, ou plataformas como a implementada em Nova York, onde qualquer pessoa pode subir as informações e realizar sua própria análise de dados. “Se o Zé foi lá e colocou dados de criminalidade de Porto Alegre, e eu quero criar um dispositivo de segurança com base nisso, posso pegar os dados e usar para o meu app. Existe uma transversalização imensa, uma liberdade de ação”, defende.

Uma das iniciativas baseada no conceito de responsividade foi lançada na noite desta terça, dia 28. A Coalizão Mobilidade Triplo Zero reúne organizações, movimentos e pessoas que querem mudar as estruturas de mobilidade no Brasil. O objetivo tríplice é zerar mortes, as emissões de gases e as tarifas de transporte. “O tema é muito pautado pelas empresas privadas, que muitas vezes repercutem interesses próprios, que não condizem com as melhores práticas. Defendemos que a mobilidade urbana seja um meio de garantir mais democracia e acesso a direitos sociais”, diz o coordenador de Mobilidade Urbana do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), Rafael Calabria.

Inovação x contradição

O pesquisador do Observatório das Metrópoles André Augustin critica o que considera contradições no pensamento inovador. Ele cita a passagem de um dirigível em Porto Alegre, “um meio de transporte do século XIX”, usado para divulgar o evento e “apresentado como símbolo de inovação”. Outra crítica é à ação do Vida Urgente, em parceria com a UniRitter, que reproduz virtualmente a experiência de um ciclista em deslocamento pela ciclovia da orla.

“Porto Alegre tem um plano cicloviário aprovado em 2009 e até agora só foram construídas cerca de 15% das ciclovias previstas. Se todo dinheiro público gasto no South Summit fosse usado para construir ciclovias, seria uma atitude muito mais inovadora para a cidade do que uma simulação virtual”, opina.

Superintendente de Inovação e Desenvolvimento do Tecnopuc e membro do Pacto Alegre, Jorge Audy reconhece que a acessibilidade foi um tema que deixou a desejar na edição anterior, mas serviu de aprendizado. Para ele, o South Summit é um evento que estimula a solução desses problemas. “É um grande evento de relacionamento que busca trazer para o estado e dar visibilidade ao que fazemos no RS. Nesta edição, incorporamos todos os aprendizados do ano passado. Melhorou a acessibilidade, dobrou o número de startups. Vamos ter um evento com área que cresceu mais de 30%. Sem dúvida é para ser uma edição mais legal, bonita e inclusiva”, diz.

Audy acredita que outro trunfo do evento está na aproximação de empreendedores a investidores internacionais. Das 50 startups finalistas de uma competição prévia, oito são gaúchas, que terão acesso a fundos de fomento que, de outra forma, dificilmente teriam. Além disso, no sentido inverso, oportuniza que empreendedores de fora conheçam os ecossistemas de inovação do estado. 

A Rota da Inovação, promovida pelo Pacto Alegre, por exemplo, oferece aos visitantes a chance de conhecer cinco hubs (local que agrega vários produtos e serviços ao mesmo tempo) instalados na Capital por eixo de atuação: Instituto Caldeira, Tecnosinos, Zenit, Swan e Tecnopuc. 

“Ele (South Summit) literalmente trouxe essa comunidade do exterior, da Europa, dos EUA, da América Latina. Passaram a ter um contato direto muito importante e aporte de recursos muito significativos. A gente espera que aconteça de novo este ano”, projeta.
“O que o Summit faz por nós é colocar essas escalas de ação diferentes e stakeholders(pessoas ou grupos de interesse envolvidos em um projeto ou negócio) em uma mesma sala para conseguir transversalizar essas ações. Dali pipocam muitas ações futuras”, completa Luciana Fonseca. “São momentos de conexão para oferecer oportunidades à cidade que ficarão pelos próximos anos.”

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