Entrevista | Parêntese

Accurso: “O Brasil não vai sair do atoleiro via mercado”

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Accurso: “O Brasil não vai sair do atoleiro via mercado” Foto de Carlos Edler
Tinha intenção de entrevistar o professor de Economia Cláudio Accurso já há uns 15 anos. Naquele começo do terceiro milênio, fiz para a Zero Hora uma série de quase vinte entrevistas com grandes figuras, da universidade, da cidade, do estado, sempre tendo em vista um perfil marcante – queria ouvir os mais velhos da aldeia. Muitos deles eu sabia que tinham percurso notável de vida, outros agregavam a isso a autoria de livros e teses originais, e outros ainda haviam privado com gente de grande importância.  Conversei então com o arquiteto Demétrio Ribeiro, o ensaísta Décio Freitas, o folclorista e escritor Barbosa Lessa, o também folclorista Paixão Côrtes, os jornalistas Paulo Sant’anna e Lauro Schirmer, os professores Alexandre Roche e Lothar Hessel, o editor e padre Rovílio Costa – isso para citar aqui apenas os que agora já não contam entre os vivos. (Em outros momentos também tive a felicidade de entrevistar o jornalista e pesquisador Carlos Reverbel, o crítico teatral Cláudio Heemann, a pianista e professora Zuleika Rosa Guedes e o crítico literário e professor Antonio Candido, todos também já falecidos agora.) Cláudio Accurso era já uma lenda vida: cassado na UFRGS, foi certamente o primeiro dos gaúchos e um dos primeiros brasileiros a realizar estudos de pós-graduação moderna no Chile, no contexto do pós-Segunda Guerra, lugar e momento marcados pela atuação da CEPAL, a famosa Comissão Econômica para a América Latina, órgão da ONU. Isso o transformou num dos primeiros pesquisadores modernos de Economia, daqueles que davam os primeiros passos no esforço de leitura macroeconômica dos países e das regiões, com vistas a planejar estratégias para o desenvolvimento regional.  Em termos nacionais, Accurso é da geração de Maria da Conceição Tavares, Carlos Lessa, José Serra e outros, intelectuais que foram preparados para intervir na vida nacional mediante planos estratégicos, que teriam o condão de mudar a face do então chamado subdesenvolvimento. Eram intelectuais que precisaram ao mesmo tempo realizar leituras consistentes da história, habilitar-se na discussão da economia e produzir grandes sínteses, que os levariam, na melhor hipótese, aos bastidores do poder político, para levar a efeito suas ideias. Para citar dois casos, diversos em política mas aproximados na estrutura de pensamento, Delfim Netto (nascido em 1928) no tempo da ditadura e Bresser Pereira (nascido em 1934) com Sarney e com FHC. Finalmente veio a conversa, na companhia luxuosa de Pedro Cézar Dutra Fonseca, professor titular de Economia na UFRGS, que muito me ajudou na condução da prosa. Pouca gente seria tão recomendável para acompanhar um entrevistador amador no tema. A conversa aconteceu numa sala de aula da faculdade de Economia da UFRGS, numa manhã luminosa, dia 22 de novembro de 2019. — Luís Augusto Fischer   P – Peço inicialmente para o senhor contar um pouco da sua formação, de onde o senhor é, quando nasceu, sua escola, se teve na sua trajetória uma ascensão significativa intelectual, social, por aí. A palavra é sua! Accurso – Eu nasci em 1929, estou fazendo 90 anos. Minha família é […]

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