Crônica | Parêntese

Ana Marson: Amor na quarentena

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Ana Marson: Amor na quarentena A minha vida amorosa, hoje posso afirmar, é um fracasso. Basta me ver: indo pros 42, solteira, sem filhos. 99% porque eu escolhi assim, só que não vamos esquecer aquele 1%… Quer dizer, eu não fujo da minha responsabilidade pelo fracasso, porém é fato que o pessoal que passou por aqui colaborou bastante. As únicas coisas de respeito mesmo aqui na minha vida amorosa são o dedo podre, esse sim não falha, e a minha total falta de traquejo pra jogos de sedução. Eu falo alto, falo demais, fico bêbada, eu tropeço, eu já derrubei um pote inteiro de mostarda na calça branca de um homem numa lancheria, no primeiro encontro (e único, claro), e eu sou a primeira a dormir depois do sexo, de barriga pra cima e roncando, detesto conchinha, sai pra lá, sério mesmo, um horror. O primeiro namorado comeu minha, na época, melhor amiga. Quando eu confrontei os dois, perguntando se isso tinha sido de uma paixão louca, incontrolável, e então agora eles iam ficar juntos e os dois baixaram a cabeça, bem, aí já viu. Nada, foi só pela putaria mesmo. Depois teve um banana, um ciumento possessivo, outro galinha, aquele kit básico do fracasso. O namorado mais legal que tive terminou comigo quando eu fui morar sozinha. Ele morava sozinho, eu aluguei um apartamento pra ir morar sozinha, ele alegou que eu tava pressionando ele pra casar. Entendeu? Nem eu. Mas foi essa a alegação. Esses tempos, 20 anos depois, ele me chamou pra tomar uma cerveja. Pau no cu dele. O último, pelamor, era um doente de ciúme. Ele tinha cada ideia, cada fantasia, que um dia eu cheguei a acreditar que eu era a mulher mais gostosa do mundo, não era possível. O jeito como o amigo te olhou, o jeito como o namorado da amiga fala contigo, o jeito como tu te comportou com o caixa do supermercado, o jeito como tu isso e aquilo, eu achei que eu era irresistível mesmo, mas não, depois eu vi que era só doença dele mesmo, porque o amigo, o namorado da amiga, o caixa do supermercado, ninguém chegou junto quando eu fiquei solteira. De novo. Eu até voltei no super e dei aquele sorriso maroto pro caixa, ele nada. Zero. Então recentemente eu mais uma vez segui umas das minhas filosofias de vida preferidas: fodida, fodida e meia. Entrei no Tinder, pá. Aquela espécie de mercado humano, em que tu olha a embalagem, dá uma lida no rótulo e pensa, bem, estou há três semanas sem trepar.  O primeiro que eu conheci, que deu match, foi um manezinho da ilha. Gato. Professor de surfe. Gostava de ler, legal. Nos encontramos. Rolou. Ele não era muito conversador, mas desandou a falar quando perguntei das tatuagens: a fórmula do LSD, dois discos voadores e uma planta de maconha. É sério, tinha dois discos voadores. Eu achei que pudesse suportar muitas e muitas histórias de ET em Mato Grosso, pra onde ele viaja todo ano pra […]

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A minha vida amorosa, hoje posso afirmar, é um fracasso. Basta me ver: indo pros 42, solteira, sem filhos. 99% porque eu escolhi assim, só que não vamos esquecer aquele 1%… Quer dizer, eu não fujo da minha responsabilidade pelo fracasso, porém é fato que o pessoal que passou por aqui colaborou bastante. As únicas coisas de respeito mesmo aqui na minha vida amorosa são o dedo podre, esse sim não falha, e a minha total falta de traquejo pra jogos de sedução. Eu falo alto, falo demais, fico bêbada, eu tropeço, eu já derrubei um pote inteiro de mostarda na calça branca de um homem numa lancheria, no primeiro encontro (e único, claro), e eu sou a primeira a dormir depois do sexo, de barriga pra cima e roncando, detesto conchinha, sai pra lá, sério mesmo, um horror. O primeiro namorado comeu minha, na época, melhor amiga. Quando eu confrontei os dois, perguntando se isso tinha sido de uma paixão louca, incontrolável, e então agora eles iam ficar juntos e os dois baixaram a cabeça, bem, aí já viu. Nada, foi só pela putaria mesmo. Depois teve um banana, um ciumento possessivo, outro galinha, aquele kit básico do fracasso. O namorado mais legal que tive terminou comigo quando eu fui morar sozinha. Ele morava sozinho, eu aluguei um apartamento pra ir morar sozinha, ele alegou que eu tava pressionando ele pra casar. Entendeu? Nem eu. Mas foi essa a alegação. Esses tempos, 20 anos depois, ele me chamou pra tomar uma cerveja. Pau no cu dele. O último, pelamor, era um doente de ciúme. Ele tinha cada ideia, cada fantasia, que um dia eu cheguei a acreditar que eu era a mulher mais gostosa do mundo, não era possível. O jeito como o amigo te olhou, o jeito como o namorado da amiga fala contigo, o jeito como tu te comportou com o caixa do supermercado, o jeito como tu isso e aquilo, eu achei que eu era irresistível mesmo, mas não, depois eu vi que era só doença dele mesmo, porque o amigo, o namorado da amiga, o caixa do supermercado, ninguém chegou junto quando eu fiquei solteira. De novo. Eu até voltei no super e dei aquele sorriso maroto pro caixa, ele nada. Zero. Então recentemente eu mais uma vez segui umas das minhas filosofias de vida preferidas: fodida, fodida e meia. Entrei no Tinder, pá. Aquela espécie de mercado humano, em que tu olha a embalagem, dá uma lida no rótulo e pensa, bem, estou há três semanas sem trepar.  O primeiro que eu conheci, que deu match, foi um manezinho da ilha. Gato. Professor de surfe. Gostava de ler, legal. Nos encontramos. Rolou. Ele não era muito conversador, mas desandou a falar quando perguntei das tatuagens: a fórmula do LSD, dois discos voadores e uma planta de maconha. É sério, tinha dois discos voadores. Eu achei que pudesse suportar muitas e muitas histórias de ET em Mato Grosso, pra onde ele viaja todo ano pra […]

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