Crônica | Parêntese

Avenida Sertório: do Império ao Uber na chuva

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Avenida Sertório: do Império ao Uber na chuva Cristiano Fretta Quem mora ou transita hoje pela Avenida Sertório conhece muito bem os transtornos que as enchentes causam pela região. Para além da ingerência do Poder Público, as causas dos alagamentos são também geográficas. A região, até as primeiras décadas do século XX, era conhecida como Várzea do Gravataí e compreendia toda a extensão alagadiça e lamacenta que hoje compõe a área entre a Sertório e o rio Gravataí, divisa entre Porto Alegre e Canoas. Trata-se, portanto, de uma várzea de rio.  As chácaras existentes na região durante o século XIX eram localizadas quase todas no Caminho Novo (atual Voluntários da Pátria), junto ao Guaíba. Os terrenos intransitáveis, ainda sem vias ou estradas, formavam um misto de barro e areia que alagava com qualquer chuva. Em 1853, consta o seguinte trecho no Relatório dos Presidentes das Províncias Brasileiras:  As águas do rio Gravataí engrossadas no inverno pelas copiosas chuvas, não se podendo conter no leito natural, extravasam-se e deixam alagadas as suas margens em grande extensão. Ainda na década de 1850 são executados os primeiros aterros na região hoje correspondente ao início da Sertório, que ainda não existia. As obras duraram anos e tinham como objetivo principal escoar as águas que constantemente formavam enormes atoleiros e impediam que qualquer núcleo urbano se desenvolvesse. Em 1862 já são necessários reparos, situação que se fará presente durante toda a década. Até o final do século XIX, são destinados inúmeros contos de réis para constantes construções de aterros e reparos na região.  Entre as chácaras existentes pelo Caminho Novo, uma que teve fundamental importância para o desenvolvimento da Zona Norte de Porto Alegre foi a de Margarida Teixeira de Paiva. Em 6 de Junho de 1870, esta senhora, juntamente com outros proprietários da região, como o doutor João Ignácio, ofereceram terrenos à Câmara Municipal, para que fosse aberta uma rua que ligasse o Caminho Novo à Estrada de Gravataí. A Câmara aprovou a proposta e também concordou com a abertura de uma outra via pública, a rua São José, atual Frederico Mentz. Os vereadores exigiram que ambas tivessem a largura de 80 palmos e fossem fiscalizadas pelo engenheiro municipal e o fiscal da Câmara.  Na época, o presidente da Província era o paulista João Sertório Júnior. Natural de Santos, João Sertório formou-se em 1841 na Faculdade de Direito de São Paulo. Já tendo sido deputado na capital paulista e no Rio Grande do Sul, foi nomeado Presidente da Província de São Pedro, cargo equivalente ao de Governador do Rio Grande do Sul, função que exerceu entre 14 de junho de 1869 e 29 de agosto de 1870.  João Sertório Júnior, o Barão de Sertório Foi o mesmo João Sertório que destinou a verba para a implantação das novas ruas nos terrenos de Dona Margarida e de outros proprietários, em 1870. É assim que é aberto o traçado primitivo do início da atual Avenida Sertório. Em 1873, em decorrência de fortes chuvas, houve um grande alagamento, e quase toda a obra foi perdida, […]

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Cristiano Fretta Quem mora ou transita hoje pela Avenida Sertório conhece muito bem os transtornos que as enchentes causam pela região. Para além da ingerência do Poder Público, as causas dos alagamentos são também geográficas. A região, até as primeiras décadas do século XX, era conhecida como Várzea do Gravataí e compreendia toda a extensão alagadiça e lamacenta que hoje compõe a área entre a Sertório e o rio Gravataí, divisa entre Porto Alegre e Canoas. Trata-se, portanto, de uma várzea de rio.  As chácaras existentes na região durante o século XIX eram localizadas quase todas no Caminho Novo (atual Voluntários da Pátria), junto ao Guaíba. Os terrenos intransitáveis, ainda sem vias ou estradas, formavam um misto de barro e areia que alagava com qualquer chuva. Em 1853, consta o seguinte trecho no Relatório dos Presidentes das Províncias Brasileiras:  As águas do rio Gravataí engrossadas no inverno pelas copiosas chuvas, não se podendo conter no leito natural, extravasam-se e deixam alagadas as suas margens em grande extensão. Ainda na década de 1850 são executados os primeiros aterros na região hoje correspondente ao início da Sertório, que ainda não existia. As obras duraram anos e tinham como objetivo principal escoar as águas que constantemente formavam enormes atoleiros e impediam que qualquer núcleo urbano se desenvolvesse. Em 1862 já são necessários reparos, situação que se fará presente durante toda a década. Até o final do século XIX, são destinados inúmeros contos de réis para constantes construções de aterros e reparos na região.  Entre as chácaras existentes pelo Caminho Novo, uma que teve fundamental importância para o desenvolvimento da Zona Norte de Porto Alegre foi a de Margarida Teixeira de Paiva. Em 6 de Junho de 1870, esta senhora, juntamente com outros proprietários da região, como o doutor João Ignácio, ofereceram terrenos à Câmara Municipal, para que fosse aberta uma rua que ligasse o Caminho Novo à Estrada de Gravataí. A Câmara aprovou a proposta e também concordou com a abertura de uma outra via pública, a rua São José, atual Frederico Mentz. Os vereadores exigiram que ambas tivessem a largura de 80 palmos e fossem fiscalizadas pelo engenheiro municipal e o fiscal da Câmara.  Na época, o presidente da Província era o paulista João Sertório Júnior. Natural de Santos, João Sertório formou-se em 1841 na Faculdade de Direito de São Paulo. Já tendo sido deputado na capital paulista e no Rio Grande do Sul, foi nomeado Presidente da Província de São Pedro, cargo equivalente ao de Governador do Rio Grande do Sul, função que exerceu entre 14 de junho de 1869 e 29 de agosto de 1870.  João Sertório Júnior, o Barão de Sertório Foi o mesmo João Sertório que destinou a verba para a implantação das novas ruas nos terrenos de Dona Margarida e de outros proprietários, em 1870. É assim que é aberto o traçado primitivo do início da atual Avenida Sertório. Em 1873, em decorrência de fortes chuvas, houve um grande alagamento, e quase toda a obra foi perdida, […]

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