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Cláudia Laitano: A palavra é CANCELAMENTO

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Cláudia Laitano: A palavra é CANCELAMENTO CANCELAMENTO: “Eu vejo a turba das tochas achando ok cancelamento e fico feliz de estar do outro lado. O supra sumo do rebotalho. Não irei ao enterro de nenhum deles, felizmente.” (@ladyrasta no Twitter)  DEFINIÇÃO: Macquire, o mais popular dicionário do inglês australiano, define da seguinte forma o termo “cultura do cancelamento”, escolhido em 2019 como “palavra do ano”: “Atitudes de uma comunidade para interromper o apoio a uma figura pública. Geralmente, essas atitudes são uma reação a acusações sobre comentários ou ações consideradas inaceitáveis socialmente”.   Entre as celebridades que já foram “canceladas”, estão cineastas como Woody Allen e Roman Polanski, cantoras como Anitta e Marília Mendonça e atletas como Neymar. Na lista de cancelados brasileiros, há inclusive pessoas mortas, como Raul Seixas e Monteiro Lobato. ORIGEM:  A ideia de cancelar celebridades costuma ser relacionada ao movimento #MeToo, série de denúncias de assédio sexual contra homens poderosos que se espalhou pelo mundo a partir de 2017. QUEM USOU: “Se a geração millennial atualizasse Carlos Drummond de Andrade, seu famoso poema provavelmente se transformaria em ‘João cancelava Teresa, que cancelava Raimundo, que cancelava Maria, que cancelava Joaquim, que cancelava Lili, que não tinha Twitter nem Instagram e, por isso, não cancelava ninguém’. Pode parecer estranho, mas a palavra ‘cancelar’, em geral associada a compromissos ou serviços, passou a ser usada na internet também para pessoas. Com isso, qualquer um pode ser cancelado – e, dessa forma, sofrer um boicote depois de ser condenado pelo tribunal das redes sociais. O motivo? Qualquer coisa que seja considerada uma pisada na bola.”  (Bruno Molinero e Angela Passos, na Folha de S. Paulo,  em 30 de dezembro de 2019)   “Na sexta-feira (dia 7), o apresentador do jornal SPTV Rodrigo Bocardifoi acusado de racismo por supor que um entrevistado negro que vestia uma camiseta do clube Pinheiros seria um gandula – o rapaz, na verdade, é jogador de polo aquático. Logo, ativistas denunciaram nas mídias sociais o caso de racismo estrutural e o apresentador foi cancelado – isto é, passou a ser boicotado na economia da atenção. O caso, um entre os inúmeros cancelamentos que acontecem todos os dias, exemplifica uma emergente cultura moral promovida pelo ativismo identitário. Os sociólogos Bradley Campbell e Jason Manning escreveram a melhor descrição e análise do fenômeno num influente artigo de 2014 transformado depois em livro (The Rise of Victimhood Culture, Palgrave Macmillan, 2018). Essa cultura moral da vitimização se desenvolve com a difusão de táticas ativistas nas quais uma ofensa, voluntária ou mesmo involuntária, em situações de opressão, é vingada com a publicação de um relato de vitimização – com o duplo objetivo de angariar a simpatia do público e efetivar a punição social do agressor, normalmente com sanções como o cancelamento.”  (Pablo Ortellado, na Folha de S. Paulo,  em 11 de fevereiro de 2020)    “Ser cancelado no Twitter é um evento que pertence a uma longa linhagem de intolerância, perseguição, condenação e vingança. A lista de precedentes de peso é interminável. Nelson Mandela foi cancelado. […]

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CANCELAMENTO: “Eu vejo a turba das tochas achando ok cancelamento e fico feliz de estar do outro lado. O supra sumo do rebotalho. Não irei ao enterro de nenhum deles, felizmente.” (@ladyrasta no Twitter)  DEFINIÇÃO: Macquire, o mais popular dicionário do inglês australiano, define da seguinte forma o termo “cultura do cancelamento”, escolhido em 2019 como “palavra do ano”: “Atitudes de uma comunidade para interromper o apoio a uma figura pública. Geralmente, essas atitudes são uma reação a acusações sobre comentários ou ações consideradas inaceitáveis socialmente”.   Entre as celebridades que já foram “canceladas”, estão cineastas como Woody Allen e Roman Polanski, cantoras como Anitta e Marília Mendonça e atletas como Neymar. Na lista de cancelados brasileiros, há inclusive pessoas mortas, como Raul Seixas e Monteiro Lobato. ORIGEM:  A ideia de cancelar celebridades costuma ser relacionada ao movimento #MeToo, série de denúncias de assédio sexual contra homens poderosos que se espalhou pelo mundo a partir de 2017. QUEM USOU: “Se a geração millennial atualizasse Carlos Drummond de Andrade, seu famoso poema provavelmente se transformaria em ‘João cancelava Teresa, que cancelava Raimundo, que cancelava Maria, que cancelava Joaquim, que cancelava Lili, que não tinha Twitter nem Instagram e, por isso, não cancelava ninguém’. Pode parecer estranho, mas a palavra ‘cancelar’, em geral associada a compromissos ou serviços, passou a ser usada na internet também para pessoas. Com isso, qualquer um pode ser cancelado – e, dessa forma, sofrer um boicote depois de ser condenado pelo tribunal das redes sociais. O motivo? Qualquer coisa que seja considerada uma pisada na bola.”  (Bruno Molinero e Angela Passos, na Folha de S. Paulo,  em 30 de dezembro de 2019)   “Na sexta-feira (dia 7), o apresentador do jornal SPTV Rodrigo Bocardifoi acusado de racismo por supor que um entrevistado negro que vestia uma camiseta do clube Pinheiros seria um gandula – o rapaz, na verdade, é jogador de polo aquático. Logo, ativistas denunciaram nas mídias sociais o caso de racismo estrutural e o apresentador foi cancelado – isto é, passou a ser boicotado na economia da atenção. O caso, um entre os inúmeros cancelamentos que acontecem todos os dias, exemplifica uma emergente cultura moral promovida pelo ativismo identitário. Os sociólogos Bradley Campbell e Jason Manning escreveram a melhor descrição e análise do fenômeno num influente artigo de 2014 transformado depois em livro (The Rise of Victimhood Culture, Palgrave Macmillan, 2018). Essa cultura moral da vitimização se desenvolve com a difusão de táticas ativistas nas quais uma ofensa, voluntária ou mesmo involuntária, em situações de opressão, é vingada com a publicação de um relato de vitimização – com o duplo objetivo de angariar a simpatia do público e efetivar a punição social do agressor, normalmente com sanções como o cancelamento.”  (Pablo Ortellado, na Folha de S. Paulo,  em 11 de fevereiro de 2020)    “Ser cancelado no Twitter é um evento que pertence a uma longa linhagem de intolerância, perseguição, condenação e vingança. A lista de precedentes de peso é interminável. Nelson Mandela foi cancelado. […]

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