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Cláudia Laitano: Ultracrepidário

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Cláudia Laitano: Ultracrepidário “Donald Trump é o mais radical ultracrepidário da história da humanidade. É um rolo compressor do efeito Dunning-Kruger (1) .” (@airbagmoments, no Twitter, em 20 de março) Efeito Dunning-Kruger: fenômeno pelo qual indivíduos que possuem pouco conhecimento sobre um assunto acreditam saber mais do que outros mais bem-preparados, fazendo com que tomem decisões erradas e cheguem a resultados indevidos. “Se alguém está procurando uma palavra para descrever Trump, ‘ultracrepidário’ está disponível. ” (@scattered211, no Twitter, no dia 30 de janeiro) Definição: Pessoa que critica, julga ou dá conselhos sobre assuntos de uma área do conhecimento que não domina.  Exemplos de “ultracrepidarismo” extraídos do noticiário recente sobre a pandemia:  “O laboratório do Exército já produziu 2,2 milhões de comprimidos de cloroquina para uso no tratamento de coronavírus no Brasil e vai aumentar a fabricação para 1 milhão por semana. Cada pílula custa R$ 0,20. A produção foi uma determinação do presidente Jair Bolsonaro, defensor da droga.” (Folha de S. Paulo, 14 de abril)  “A cloroquina e uma droga similar e de uso mais difundido, a hidroxicloroquina, vêm sendo propagandeadas por Trump e também por Bolsonaro no tratamento da covid-19 – apesar da eficácia desses medicamentos não ser comprovada. Nos Estados Unidos, especialistas de ponta vêm expressando preocupação com o uso do fármaco (…) Trump chegou a elogiar, em 21 de março, a combinação de hidroxicloroquina e azitromicina pelo Twitter. Segundo o presidente americano, “tomados juntos, têm uma chance real de virar o jogo na história da medicina.” (Deutsche Welle, 14 de abril) Origem: “Para entender sua etimologia, não basta identificar os dois vocábulos latinos de onde ela deriva – ultra e crepidam, que significam ‘além’ e ‘sandália’, respectivamente. Essas duas palavras fazem parte da famosa máxima latina Ne sutor ultra crepidam (‘não vá o sapateiro além da sandália’), alusão a um célebre incidente que, segundo Plínio, o Velho teria ocorrido com Apeles, o famoso pintor da Grécia antiga. Conta-se que Apeles, que costumava expor suas pinturas na porta do ateliê para observar as reações dos passantes, viu um sapateiro que examinava detalhada e demoradamente o pé de uma suas figuras. Ao indagar-lhe, curioso, o que tanto atraía sua atenção, foi informado de que o desenho da fivela da sandália estava equivocado. Apeles agradeceu a informação e apressou-se a retocar o quadro, corrigindo o erro. No dia seguinte, no entanto, o sapateiro, depois de constatar, com satisfação, que sua opinião havia sido acatada, apresentou nova crítica ao quadro, dessa vez quanto ao movimento da mão da personagem retratada – momento em que Apeles, então, o teria escorraçado, pronunciando a frase que se tornou lendária. Esse provérbio, destinado a lembrar que todos deveríamos ter consciência de nossos próprios limites, aparece no adagiário de diversas línguas. No Brasil, é conhecido sob a forma de ‘não vá o sapateiro além da chinela’ – o que não impede que pululem aqui os ultracrepidários, que fazem questão de opinar (quando não de dissertar!) sobre todo e qualquer assunto.” (Cláudio Moreno, na coluna O Prazer das Palavras, em […]

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“Donald Trump é o mais radical ultracrepidário da história da humanidade. É um rolo compressor do efeito Dunning-Kruger (1) .” (@airbagmoments, no Twitter, em 20 de março) Efeito Dunning-Kruger: fenômeno pelo qual indivíduos que possuem pouco conhecimento sobre um assunto acreditam saber mais do que outros mais bem-preparados, fazendo com que tomem decisões erradas e cheguem a resultados indevidos. “Se alguém está procurando uma palavra para descrever Trump, ‘ultracrepidário’ está disponível. ” (@scattered211, no Twitter, no dia 30 de janeiro) Definição: Pessoa que critica, julga ou dá conselhos sobre assuntos de uma área do conhecimento que não domina.  Exemplos de “ultracrepidarismo” extraídos do noticiário recente sobre a pandemia:  “O laboratório do Exército já produziu 2,2 milhões de comprimidos de cloroquina para uso no tratamento de coronavírus no Brasil e vai aumentar a fabricação para 1 milhão por semana. Cada pílula custa R$ 0,20. A produção foi uma determinação do presidente Jair Bolsonaro, defensor da droga.” (Folha de S. Paulo, 14 de abril)  “A cloroquina e uma droga similar e de uso mais difundido, a hidroxicloroquina, vêm sendo propagandeadas por Trump e também por Bolsonaro no tratamento da covid-19 – apesar da eficácia desses medicamentos não ser comprovada. Nos Estados Unidos, especialistas de ponta vêm expressando preocupação com o uso do fármaco (…) Trump chegou a elogiar, em 21 de março, a combinação de hidroxicloroquina e azitromicina pelo Twitter. Segundo o presidente americano, “tomados juntos, têm uma chance real de virar o jogo na história da medicina.” (Deutsche Welle, 14 de abril) Origem: “Para entender sua etimologia, não basta identificar os dois vocábulos latinos de onde ela deriva – ultra e crepidam, que significam ‘além’ e ‘sandália’, respectivamente. Essas duas palavras fazem parte da famosa máxima latina Ne sutor ultra crepidam (‘não vá o sapateiro além da sandália’), alusão a um célebre incidente que, segundo Plínio, o Velho teria ocorrido com Apeles, o famoso pintor da Grécia antiga. Conta-se que Apeles, que costumava expor suas pinturas na porta do ateliê para observar as reações dos passantes, viu um sapateiro que examinava detalhada e demoradamente o pé de uma suas figuras. Ao indagar-lhe, curioso, o que tanto atraía sua atenção, foi informado de que o desenho da fivela da sandália estava equivocado. Apeles agradeceu a informação e apressou-se a retocar o quadro, corrigindo o erro. No dia seguinte, no entanto, o sapateiro, depois de constatar, com satisfação, que sua opinião havia sido acatada, apresentou nova crítica ao quadro, dessa vez quanto ao movimento da mão da personagem retratada – momento em que Apeles, então, o teria escorraçado, pronunciando a frase que se tornou lendária. Esse provérbio, destinado a lembrar que todos deveríamos ter consciência de nossos próprios limites, aparece no adagiário de diversas línguas. No Brasil, é conhecido sob a forma de ‘não vá o sapateiro além da chinela’ – o que não impede que pululem aqui os ultracrepidários, que fazem questão de opinar (quando não de dissertar!) sobre todo e qualquer assunto.” (Cláudio Moreno, na coluna O Prazer das Palavras, em […]

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