Crônica

Aqui na gringa #3

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Aqui na gringa #3 Dois colegas professores universitários caminhando lado a lado em Princeton. Foto: Arquivo pessoal

Deus estava lá pelo sexto dia da criação quando resolveu dedicar-se a inventar as profissões. Um conselho de anjos ali, em volta de mesa, vendo o chefe tirar da cartola – ou da auréola – uns nomes e umas funções impressionantes. 

Escrevi “auréola” mas não sei se é mesmo isso. Deus, esse grande personagem, não tinha um triângulo sobre a cabeça? Auréola é sempre redonda? Auréola vem de aura, que não tem por que ser especificamente redonda, me parece. 

E Deus vá criar profissões, sempre equilibrando problemas e vantagens. 

“Este aqui vai ser o bombeiro. Vai correr risco de vida a cada momento, mas vai receber um salário decente e vai ser muito estimado na comunidade”. 

“Agora vou inventar o médico. (Não, ele não sabia que os médicos do SAMU de Porto Alegre iam fajutar comprovantes de presença e iam matar serviço, fraudando o público. Deus é onisciente mas tudo tem limite.) O médico vai estudar muito, por muitos anos, passar por provas complicadas, vai trabalhar muito, vai fazer extenuantes plantões (se não trabalhar no SAMU de Porto Alegre, porque ali 12 horas são 4), mas em compensação vai ganhar muito bem. E vai ser amado pelos pacientes e suas famílias, porque traz alívio e cura.”

E assim ia, os anjos admirando a coisa e concordando com o equilíbrio das profissões inventadas – a piada não esclarece a respeito de empregos de merda, como são conhecidos os muitos casos de trabalho ruim, intranscendente e mal remunerado –, até que Deus anunciou uma nova profissão: o professor universitário.

“O professor universitário vai ser estimulado a se renovar sempre, vai gostar de ler e viajar. Vai escrever e publicar. Vai ter sempre jovens por perto. E vai ganhar um salário bem decente.” Disse isso e pareceu encerrar a tarefa.

Aí um dos anjos se indignou: “Mas vem cá (era um anjo meio saidinho), esse tal de professor universitário só vai ter vantagens? Não vai ter nenhuma parte ruim, nada de contrariedade, nada?”

Ao que Deus, em Sua Infinita Paciência (vamos dar todas as maiúsculas que a tradição oferece), respondeu: “Calma. Vai ter sim. Porque eu vou inventar o colega do professor universitário”.

Fim da piada. Risos discretos da plateia. 

Mas bá, me lembrei agora: te contei a piada do cara que visitou o Vaticano e perguntou quantos trabalhavam lá? 

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