Crônica

Aqui na gringa #7

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Aqui na gringa #7 Foto: Arquivo pessoal
Aqui em Princeton a gente – quer dizer, eu – tem a impressão de viver num cenário de filme. Tipo aqueles de vizinhança em casas com gramado amplo na frente, sem cerca ou apenas com uma divisãozinha simbólica, carros estacionados, casas de dois andares, estrutura de madeira mas com aspecto de coisa sólida e elegante, sabe como é? Eu me lembro disso por ter lido os gibis da Luluzinha e do Bolinha. E por ter visto uma série dinossáurica como “Papai Sabe-tudo”, bá, só quem tem mais de 60 poderá lembrar. (No YouTube deve ter? Procure saber.) E de ter visto filme com menino adolescente distribuindo jornais de bicicleta, tudo sorridente, gente branca sem exceção, ruas arborizadas e sem movimento. Gurias loiras e ruivas, com sardas, vendendo limonada na calçada em frente de casa. Sim, exatamente esse cenário. Calma aí: hoje em dia não tem só brancos, nem só ocidentais nessas casas. Aqui em Princeton, são muito visíveis as gentes da região da Índia, Paquistão e arredores, assim como orientais em profusão (chineses? Coreanos? Japoneses?), latino-americanos descendentes de povos originários também em quantidade, e em menor escala pessoas negras.   Mas não estou falando aqui da diversidade étnica, nada disso. Falo das casas, da urbanização, que segue como era nessas representações mencionadas.  A cidade aqui é uma bolha muito particular, eu bem sei. Ultra-segura, as pessoas deixam encomendas que chegam pelo correio e tal nas portas das casas, por horas a fio, zero risco de alguém pegar. Só não deixam as casas totalmente abertas pelo risco de entrar um veado, um coelho, um esquilo porta adentro. (Não, não tem cachorro extraviado, nem gato vadio.) Não tem cercas entre as casas, ou, quando tem, é coisa só decorativa, tipo uns metros de cerca que acabam abruptamente.  A segurança pública quase absoluta tem a ver com o fato de ser uma cidade de renda média alta, naturalmente, e de pouca gente (menos de 30 mil habitantes), mas também tem a ver com uma cultura de individualismo, que implica respeitar tudo que é dos outros – aquelas dezenas de bicicletas deixadas no estacionamento das faculdades, sem trava ou outra forma de evitar roubo, tá vendo ali? Pois é. Estão assim e ficam assim, até que o dono apareça. A mesma coisa com brinquedos de crianças, deixados nos pátios (abertos também).  A impressão que dá é que cada um desses pertences carrega uma fala para um brasileiro como eu: olho para aquilo ali dando sopa e me pergunto, “mas e a segurança?”; e o pertence me responde perguntando: “É teu? Se não é, não te diz respeito”.   Ainda vou escrever mais sobre individualismo, mas por ora chega.  E tem a linda contraparte disso. Foi a Julia, minha partner, mãe dos meus filhos, ilhas de amor, que se deu conta, me contou e eu compartilho com o leitorado: de repente, começamos a reparar que muitas casas têm portas coloridas, especialmente vermelhas. Olha as fotos.  Qual é? Por quê? O tio google responde assim: “In America a […]

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