bell hooks e sua sagrada palavra
Os sinos da igreja aqui próxima badalam me emergindo do pensamento fixo ainda incrível: bell hooks morreu. Volto a chorar porque a tristeza é a emoção mãe dos momentos sem controle, daqueles instantes que não sei mais o que fazer. Já lavei a cozinha, já limpei o chão, já respondi meus e-mails e a mala está quase pronta. O que fazer em seguida? Como agir agora que vivo num mundo onde ela está morta?
Conheci bell hooks no início do ano e assim que comecei a ler seu livro E eu não sou uma mulher? sentia que a minha vida estava mudando. Isso já me aconteceu antes, de estar passando por algo tão intenso e importante que quase poderia identificar o ruído dos móveis da minha alma se realocando para abrir o espaço necessário à transformação. Nem mesmo havia terminado de lê-lo e já tinha comprado outro, Erguer a voz: pensar como feminista, pensar como negra.
Na página 34 deste título é possível ler:
O medo da exposição, o medo de que os sentimentos mais profundos e os pensamentos mais íntimos fossem desprezados como meros devaneios […] parece-me agora uma das barreiras que as mulheres sempre precisaram e ainda precisam destruir para que não sejamos mais empurradas para o segredo e o silêncio.
Quando li isso senti que havia encontrado algumas palavras perdidas, antigas palavras que em algum momento eu havia perdido e enfim estavam lá, prontas para serem resgatadas. bell hooks parece ter este poder, de te devolver aquelas palavras que você tinha na ponta da língua e simplesmente não sabia como dizer.
[Continua...]