Bom dia, querida
‘‘Vem me visitar de madrugada, coloca tua mão em mim que eu deixo’’
Liniker e os Caramelows
Acordo no leve movimento das pálpebras cansadas. Não dormia há três dias. Quase quatro. Sorte que a Diva veio ontem e batizou as panelas da casa nova, ‘‘comer bem é o primeiro passo pra um bom sono’’ – ela falava enquanto eu só conseguia balançar a cabeça de boca cheia. O médico na Dr. Flores disse que mais um mês, talvez dois, meu fígado fica bom. Com sorte sem sequelas da Covid. A Diva me olha e ri, ‘‘Pior é na guerra, menina, que morre e não se enterra’’. Verdade. Pior é na guerra.
O texto que escreveram sobre você não pude ler. Como poderia? Não é natural conhecer alguém primeiro pela ausência. Nosso único amigo em comum me ligou ontem, queria saber como eu estava. Eu disse o óbvio, só que ao contrário. Se algo é evidente e eu contar do avesso, não chega nem a ser uma mentira, é no máximo uma brincadeira: ‘‘Tá tudo bem, tranquilo, afinal, a gente nem se conheceu de verdade mesmo.’’ A frase morreu dentro da minha boca, e o que mais doía era eu estar mais uma vez falando de você como se não fosse. Aquela nossa realidade paralela, ambígua.
‘‘Oi.’’
‘‘Oi, tudo bem?’’
‘‘Tudo bem sim, e contigo?’’
‘‘Tudo de boas, acabei de ver aqui as tuas fotos do perfil, adorei a do pão.’’
‘‘Ah, hahahahha. Sério?’’
[Continua...]