Encontro místico na Feira do Livro
Ele andava de sobretudo, chapéu preto e um tarô do Aleister Crowley no bolso. Era um corvo, entre as pilhas iluminadas de Fritjof Capra e Deepak Chopra (trava-línguas que estavam entre os mais vendidos naquela época). Fazia anos que eu não via aquele amigo. Como os místicos não acreditam em acaso, ele me convidou pra celebrar o destino bebendo no MARGS.
No café, pedi que ele falasse sobre a sociedade secreta dele, que me descrevesse algum ritual – nem precisava ter a ver com sangue ou catacumba. Mas meu amigo era um ocultista de verdade; não parecia sentir prazer em atiçar os curiosos. Apenas comentou que tinha aprendido a transformar cascalho em ouro – o que soou menos como gabação do que como justificativa pra bebermos no MARGS, em vez de num boteco.
Estávamos debatendo se Paulo Coelho era mesmo tão ruim – aí eu vi o livro. Um retângulo verde sob uma cadeira vazia. Ninguém por perto. Podia ter caído de uma bolsa, ou do céu. Fui pegá-lo, ou ele levitou até minhas mãos.