Crônicas animais: Guará no assentamento
![Crônicas animais: Guará no assentamento Crônicas animais: Guará no assentamento](https://www.matinaljornalismo.com.br/wp-content/uploads/bfi_thumb/dummy-transparent-ot8zwe1ak3nhdsp6rv144h9upxur8ftb4n7tcg1j0u.png)
Estamos nos mudando para uma casa com pátio, já faz dois meses, e ainda faltam cerca de trinta dias para de fato passarmos a habitar a “morada dos bugios” ou o “solar da timbaúva” – como disse certa vez um cacique guarani amigo meu, a respeito dos seres que coabitam sua aldeia: “aqui tudo tem nome”. Não necessariamente nomes próprios, mas tudo pode ser nomeado. Logo que a ideia da mudança se assentou e percebemos que era irreversível, tratamos de começar os preparativos mais urgentes, como encaixotar alguns livros e adotar um irmão canino para o Quino, nosso cusco. Sim, isso era urgente. Fico imaginando o tédio que deve ser uma vidinha confinada ao convívio com duas humanas, que passam a maior parte do dia olhando para seus computadores. O espelho animal não perdoa! Projeção ou não, adotamos um irmão para o Quino e temos planos de encontrar duas tias galináceas para ambos, a Helga e a Gertrude. Por que tias? Não sei. Seria por sororidade? Espelho, espelho… Bueno, vou contar da adoção, pois ela nos tem levado a lugares muito interessantes.
Num dia qualquer de abril, entramos, Pam e eu, na loja que chamamos de o ‘‘shopping do Quino”, para comprar ração. No final do corredor, uma vitrine, onde ficam expostos cachorros e cachorras à espera de adoção. Logo nos primeiros passos, minha companheira e eu nos olhamos, cúmplices, como quem acaba de achar a resposta para uma questão há muito levantada. “Pam, é ela! Olha como nos olha!” Nos aproximamos da vitrine. “Olha a patinha, Marília! Quer nos dar a patinha!” Era a Glória, a irmã que esperávamos encontrar para o Quino – mas não tão cedo, diga-se de passagem. Exuberante, porte grande, simpática, gente boa, perfeita. Era ela, era a Glória!
[Continua...]