O mundo ou o mundo segundo José Falero, Parte 2 – O Postão
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Eu nunca havia ido ao Postão da Cruzeiro. Eu o conhecia, entretanto, pelas notícias, que sempre tinham a ver com criminalidade: ou algum bandido, após confronto com a polícia, havia sido levado até lá ou então havia ocorrido algum acerto de contas dentro do próprio local. Ao descer do Uber, percebi que o Postão ficava no limite da entrada de uma “vila braba”, denominação essa que minha família sempre usava para se referir a qualquer comunidade carente. Eu usava chinelos e levava o meu livro do Falero na mão. Eu o estava lendo com calma, degustando cada crônica como quem come os últimos pedaços de sua comida preferida.
Quando entrei no posto, fui envolvido por uma atmosfera, como dizer?, triste. Não: tristeza não é uma boa palavra. Não há palavra capaz de escrever aquele misto de estrutura precária, pessoas pobres e doenças.
Após uma pequena fila, apresentei meu documento, informando que eu tinha traumatologista às 13h. Ganhei uma pulseira da moça do guichê, que me orientou a voltar e entrar pelo portão à minha direita. Um segurança com expressão tensa me olhou, conferiu minha pulseira e abriu uma enorme grade de ferro para que eu passasse.